Desisto.
Desde
cedo, estou procurando por todo canto alguma história boa para contar aos caros
leitores do Balaio para espantar o baixo astral.
Ao
final de mais uma semana trágica e tormentosa, com o massacre de Suzano e a
prisão dos milicianos amigos acusados do assassinato de Marielle e Anderson,
lamento informar, mas não sobrou nada.
Não
achei nem mesmo uma pílula noticiosa falando bem de alguém que tenha ajudado
uma velhinha a atravessar a rua.
Na
quinta-feira, ao saber que o presidente crazy-fake faria mais uma live nas
redes sociais, até pensei que seria possível ouvir dele algum plano, qualquer
um, que seja bom para o país.
Mas
o capitão gastou seu tempo falando de novo da importação de bananas do Equador
e dos problemas de trânsito, e aproveitou, claro, para falar mal da Folha.
Em
que mundo esse homem vive?
Na
véspera de mais um aniversário, já chegando aos 71, um verdadeiro milagre de
sobrevivência para quem fez a primeira cirurgia aos 8 meses de idade, abro a
janela do tempo e só encontro coisas boas num passado nem tão remoto.
No
meu caso particular, o inferno astral que antecede os aniversários já dura um
ano inteiro, sem nenhum sinal de que vá acabar tão cedo.
Fico
pensando no que fizemos com nosso país para detoná-lo em tão pouco tempo.
Uso
de propósito a primeira pessoa do plural, e não a terceira, porque acho que
somos todos responsáveis, sim, por ação ou omissão, para chegarmos a esse ponto
de completa anomia social.
Em
que momento essa desgraça aconteceu, quando demos esse cavalo de pau que nos
levou à ruína e à beira do abismo?
Desde
o golpe de 2016, o Brasil deixou de ser um país admirado e respeitado no mundo
inteiro, para se tornar este alvo permanente de chacotas e deboches na mídia
internacional.
Viramos
párias, uma nação desmoralizada no mundo civilizado, que ninguém mais leva a
sério.
Agora
querem trocar os embaixadores para melhorar nossa imagem no exterior, é
inacreditável. Como se isso fosse possível, e houvesse mágicos disponíveis para
essa missão.
Com
o chanceler aloprado que temos, vai ser mais um motivo de galhofa e de
vergonha.
Somos
desgovernados à distância pelo guru da Virgínia, um caçador de ursos que
orienta os filhos do capitão.
Em
apenas 74 dias de poder da nova ordem unida, não sobrou pedra sobre pedra e,
pior, não nos permitem mais nem ter esperança de dias melhores.
Para
quem acha que isso é coisa de velho ranzinza, recomendo a leitura atenta da
coluna de Fernanda Torres, que é de outra geração, publicada hoje, na Folha
Ilustrada, com o singelo título “Cama”.
Termina
assim: “Para não desesperar, continuo fazendo a cama”.
E
que faço eu, que nem minha cama sei arrumar?
Estou
aqui apenas cumprindo tabela, com as filhas bem criadas e vendo os netos
crescer, mas me preocupo muito com o futuro deles, apesar de nada mais poder
fazer para lhes deixar um país melhor.
Continuo
aqui escrevendo todos os dias, a única coisa que sei fazer, mesmo sabendo que
as palavras perderam a serventia.
Por
uma imposição do meu ofício de repórter, não posso inventar histórias para
agradar aos leitores, mas é exatamente isso que mais fazem nossos atuais
mandatários: mentem, mentem tão descaradamente que devem até acreditar no que
falam.
E
tem muita gente que acredita, para continuar se iludindo com o Mito, este ser
estranho e assustador, que até agora não tem a menor ideia do que está fazendo
na Presidência da República que lhe caiu no colo. Parece assustado até agora…
Incapaz
de juntar duas frases com sentido sem tropeçar nas letras, como mostrou durante
toda a campanha, foi na mão dele e da sua tropa de celerados paisanos ou de
pijama que entregamos nosso destino.
Descobri
com o tempo que escrever é um permanente conversar com nós mesmos, ainda que
nos dirijamos a terceiros, sem saber exatamente aonde queremos chegar.
Chegar
ao final de um texto sem encontrar uma saída, um alento qualquer, dá uma
sensação, ao mesmo tempo, de vazio e de fracasso, já que sempre me proponho a
buscar coisas boas para contar, alguma história inspiradora de pessoas que,
mesmo remando contra a maré, ainda lutam para viver num país melhor e mais
justo para todos.
Já
não basta denunciar todo dia as barbaridades cometidas pelos inquilinos do
poder, que agora se acham donos, e a inação da sociedade civil, que poderia se
opor a eles.
Eles
estão cumprindo uma missão, como repete sempre o chefe da tropa - e nós?
O
que nós podemos fazer para sair desse buraco sem fundo em que nos metemos?
Por
onde recomeçar? Faltam-nos nesse momento lideranças, bandeiras, referências,
interlocutores, projetos de país, um plano de voo qualquer.
Para
onde se olha, é só desalento e perplexidade diante das maluquices em série
produzidas em Brasília, que sufocam o Brasil e nos deixam paralisados.
De
onde saem tantos cretinos e desatinos, tanto ódio e tanto mal, tanta sede de
vingança e covardia, tantos descalabros, perseguições e bizarrices?
Em
que tocas toda essa gente se escondia antes de assumir o poder, em todas as
latitudes, em todos os níveis de governo?
Como
viviam, o que faziam, o que comiam, o que liam, o que conversavam, como se
relacionavam com seus vizinhos, o que pensavam da vida?
De
repente, parece até que o país foi invadido por extra-terrestres numa guerra de
extermínio.
Aonde
querem chegar, qual é o objetivo?
Se
alguém tiver respostas para minhas tantas dúvidas, a esta altura do campeonato
da vida, por favor, me mande de presente.
Com
tantos enterros a que já assistimos este ano, não há clima pra festa, mas ainda
dá pra tomar uma cervejinha com a família e os amigos, lembrando que um dia já
fomos felizes, sem sair daqui.
Vamos
abrir os trabalhos?, como sempre diz meu querido irmão Alemão, aquele boa vida.
Tim-tim.
Vida
que segue.
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