Infelizmente,
o povo ainda não sentiu o mal cheiro, que se disfarça com perfumes e vistosas
vestes talares.
Já
havia escrito, em outros artigos, publicados aqui mesmo neste portal, a
respeito de parte daquilo que o jornalista Luis Nassif esquadrinhou em uma
série de reportagens publicadas no site “Jornal GGN”, essa semana.
Com
uma riqueza de detalhes da qual eu não dispunha, Nassif descreveu a relação
existente entre o ex-Juiz e agora Ministro da Justiça, Sérgio Moro e de sua
esposa, Rosângela Wolff de Quadros Moro, com a Família Arns e de como a atuação
dos lavajateiros contribuiu para o surgimento de dois “mercados” milionários e
exclusivos, a beneficiá-los: o de delações premiadas e o de palestras, ambos
decorrentes da Operação Lava Jato.
Sigamos
o fio da meada: Rosângela Moro havia trabalhado como Diretora Jurídica na
APAE/PR, por indicação do ex-Senador, ex-Vice-Governador e ex-secretário de
Educação do Paraná, Flávio Arns, que já havia saído do PT para filiar-se ao
PSDB de Beto Richa, muito antes que alguém tivesse notícia do que viria a ser a
Lava Jato.
Flávio
Arns sempre se envolveu com a causa das pessoas com deficiência. Foi um dos
duros combatentes da política de educação inclusiva, que defende a inclusão de
alunos com deficiência nas escolas regulares. Em contraposição a tal política,
ele defendia o modelo de educação exclusiva em centros especializados, tais
como as APAE’s e Pestalozzis. Quando fui secretário de Educação do Acre,
cheguei a debater com ele o tema, em uma reunião do Conselho Nacional de
Secretários de Estado de Educação, o CONSED. Sempre defendi o modelo misto.
Como
prova do vigor de sua defesa da educação de pessoas com deficiência em centros
exclusivos, na gestão de Flávio Arns como secretário de Educação do Paraná,
segundo Nassif, as APAE’s lá sediadas chegaram a receber R$ 450 milhões em
repasses do Governo do Estado. Em princípio, não há nada de errado em o Estado
subsidiar, por intermédio de termos de subvenção social ou de convênio,
instituições filantrópicas de reconhecida utilidade pública e que desempenham
importante função social. Mas, para se ter uma ideia, aqui no Acre, nossa
cooperação técnica com as APAE’s se dava na sessão de profissionais da Educação
e Saúde, para proceder com o atendimento e demais atividades da instituição.
Uma enorme diferença…
Pois
bem. Não se sabe exatamente se antes, depois ou concomitantemente ao seu
trabalho na APAE, o fato é que Rosângela se tornou sócia de Marlus Arns,
sobrinho de Flávio Arns.Também segundo Nassif, ainda na condição de Diretora
Jurídica da APAE/PR, Rosângela encaminhava as demandas judiciais de lá
decorrentes para o escritório de Marlus.
Esse
mesmo escritório de Marlus e Rosângela teria ingressado, recentemente, no
milionário filão das delações premiadas, no âmbito da Lava Jato. Foi justamente
o escritório de ambos o patrono da defesa de Cláudia Cruz, esposa de Eduardo
Cunha.
O
resultado do julgamento? Cláudia Cruz foi absolvida por Sérgio Moro.
Apesar
da atuação de outros advogados nessa seara, Marlus tem sido o preferido por
investigados da Lava Jato, justamente, por manter relações pessoais tanto com
aqueles que firmam, quanto com os que homologam os acordos de delação. E é
nessa questão onde surge a participação de outra figura chamada Carlos
Zucolloto.
O
também advogado, sócio de Rosângela, amigo pessoal e padrinho de casamento do
casal Moro foi acusado por outro advogado, Rodrigo Tacla Duran, de ter
oferecido a este último uma redução de multa de R$ 15 para R$ 5 milhões, em troca
de gorda propina.
Zucolloto,
a época, seria o homem que negociaria tal “acordo” com Sérgio Moro, seu dileto
afilhado, para que Tacla Duran não só tivesse a multa reduzida, como também seu
tempo de prisão em uma suposta futura condenação. Vindo a público tais fatos,
com robustas provas (prints de conversas por aplicativos de celular), Zucolloto
teve de sair de cena, compulsoriamente: no seu lugar, entrou Marlus Arns.
O
que há de novidade no artigo de Nassif é que ele revisita tais fatos à luz de
dois outros, recém descobertos: a de que executivos da OAS teriam recebido R$ 6
milhões para ajustar delações premiadas no âmbito da Lava Jato, sob orientação
de Procuradores da República e do próprio Juiz Sérgio Moro; e a notícia mais
bombástica de todas nesses últimos meses: a de que a Força-tarefa da Operação
Lava Jato fora agraciada com uma doação de R$ 2,5 bilhões, oriundos da
Petrobras, que deverão ser geridos por uma fundação de direito privado, a ser
constituída para, supostamente, executar projetos de combate a corrupção e de
avaliações periódicas de “compliance” de empresas.
Dentre
as ações concretas desses projetos estariam palestras e cursos nababescamente
pagos e ministrados, sabem por quem? Justamente, por membros da Força-tarefa da
Lava Jato.
Antes
que alguém venha de lá e fale que Lula e FHC enriqueceram ministrando palestras
após suas saídas da Presidência da República, vejam que há uma diferença
abissal: ambos eram contratados e pagos por empresas privadas e já não estavam
no exercício de seus cargos eletivos. A “Fundação Lava Jato” vai contratar e
pagar, com dinheiro público, membros do Ministério Público Federal e da Justiça
Federal em pleno exercício de suas funções para fazer um trabalho pelo qual
eles já são remunerados pelo erário.
Afora
que uma fundação privada só é constituída a partir de um patrimônio privado. As
fundações públicas são constituídas a partir de iniciativa do Poder Executivo,
com aprovação de lei complementar pelo Poder Legislativo.
De
forma polida, diria que a “Fundação Lava Jato” seria uma excrescência jurídica.
Uma aberração. Deixando a educação de lado, trata-se de uma putaria deslavada.
Uma sem vergonhice sem limites. Corrupção e lavagem de dinheiro
institucionalizadas, livres de qualquer investigação ou controle externo.
Ladronagem às escâncaras, nas barbas da PGR, do STF, de todo mundo. É a
bandidagem de toga. Como disse o próprio Nassif, tem cheiro de campanha
eleitoral para Sérgio Moro.
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