Como
dizia uma professora de Direito Constitucional que eu tive, justiça é uma
daquelas famosas palavras de conteúdo vazio. Cada um tem o seu conceito próprio
de justiça e muitas vezes ela é confundida com a vetusta vingança privada.
Eu,
durante estas quase quatro décadas lidando com o direito, sempre procurei o
termo que pudesse exprimir com exatidão aquilo que eu entendo por justiça. E a
palavra equilíbrio é a que mais se aproxima da minha visão a respeito de sua
essência.
Exatamente
isto. É esta busca pelo equilíbrio que nos faz tentar resgatar a humanidade do
domínio da eterna lei das selvas (aquela que dará a vitória sempre ao mais
forte ou mais astuto) e nos tornar um pouco mais iguais, ungindo-nos todos com
um certo toque de equidade.
Infelizmente
hoje a justiça se ausentou dos corredores do poder judiciário...
Sim,
porque inegavelmente, o poder judiciário sempre foi e continuará sendo um mero
instrumento das oligarquias que detêm o poder econômico. Acontece que, na
realidade, sob o manto de uma falsa imparcialidade, sua função precípua é tão
somente manter o status quo, deixando tudo como sempre esteve, ou seja, faz
pequenas mudanças pirotécnicas e inconsequentes para que ao final, as grandes
mudanças não ocorram.
Para
darem ares de legitimidade e legalidade, criam rituais complexos e
ininteligíveis para a maioria da população, tudo para que ela seja iludida e
acredite que a mágica da justiça está acontecendo. Mas ao final, o resultado é
que a mesma elite de sempre continua no poder e no comando de todos nós. As
oligarquias foram transformadas em castas que acabam se achando eleitas por
entidades divinas, enquanto os magistrados que lhes asseguram estas posições
privilegiadas, se transformam em uma espécie de semideuses.
Se
a população se insurgir contra o estado de coisas, quando não ocorre a
repressão violenta através dos aparatos policiais ou militares, lá vem a velha
e incompreensível verborragia jurídica travestida de “notório saber jurídico”
e, com suas retóricas bem construídas, os magistrados acabarão por convencer os
insurgentes que aquilo que se está fazendo é justo.
Para
atingir os desígnios da elite, o judiciário não hesitará em manipular as leis
através de malabarismos hermenêuticos enganosos, entre os quais hoje, se
destacam as tais mutações constitucionais, por meio das quais o STF deturpa até
mesmo as normas constitucionais sob a justificativa de que está
reinterpretando-as e adaptando-as às novas realidades imiscuindo-se nas funções
do poder legislativo sem terem a necessária representatividade para tanto.
Evidentemente, tais mutações nunca ocorrem para beneficiar a população como um
todo, mas sim ao restrito grupo detentor do poder econômico.
Pois
é amigas e amigos. Não se iludam; se buscamos justiça, provavelmente não a
encontraremos nos labirintos tortuosos do poder judiciário.
Jorge
André Irion Jobim, advogado de Santa Maria, RS
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