Segundo
registros do governo britânico, Brasil “abriu mão” de indenização por compra
superfaturada de fragatas durante mandatos de Médici e Geisel
Depois
do memorando secreto norte-americano, agora é a vez de documentos confidenciais
do Reino Unido chamarem a atenção por conterem informações sobre a ditadura
militar no Brasil. Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo deste sábado
(2), registros secretos do governo britânico relatam que o governo brasileiro
atuou para abafar uma investigação de corrupção na compra de navios de escolta
construídos na Inglaterra durante os anos 1970.
Os
papéis mostram que os governos dos generais Emílio Garrastazu Médici
(1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979) abafaram o caso de fraude milionária.
Isso porque, de acordo com os registros, em 1978, o governo britânico queria
investigar a denúncia de superfaturamento na compra de equipamentos para a
construção dos navios vendidos ao Brasil. O Reino Unido ainda ofereceu o
pagamento de uma indenização de 500 mil libras (algo que, hoje, equivale a 3
milhões de libras ou R$ 15 milhões) – o que foi rejeitado pela ditatura militar
.
Tal
ação gerou estranhamento em Londres. “Os brasileiros claramente desejaram
manter o assunto de forma discreta. É evidente que não gostariam que
mandássemos um time de investigadores e não iriam colaborar com um, se ele
fosse. O embaixador concluiu que o risco de sérias dificuldades com autoridades
brasileiras, o que poderia ser levantado por uma investigação, não deve ser
assumido”, diz um trecho do documento secreto revelado pela Folha .
Superfaturamento
de navios
O
caso dos navios está em uma pasta de documentos diplomáticos chamada “Alleged
fraud and corruption by Vosper Thornycraft (UK) with government of Brazil”. No
total, há 139 páginas de registros históricos sobre o caso de corrupção no
período a partir de 1977.
De
acordo com esses papéis, houve um acordo firmado entre Brasil e Reino Unido
para a compra de seis fragatas , sendo que quatro foram construídas nos
estaleiros da empresa Vosper, no sul da Inglaterra, e duas, no Arsenal da
Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). Todos os navios continuam sendo utilizadas
pela Marinha Brasileira.
A
investigação realizada em Londres nos anos 70 revela que o estaleiro contratado
para construir os navios pediu desconto aos fornecedores dos equipamentos, mas
as notas fiscais saíam com o preço sem o desconto. Porque o governo britânico
se tornou dono do estaleiro depois do contrato com o Brasil, houve o contato
para que a apuração de corrupção fosse realizada e que o pagamento da
indenização fosse feita – o que foi recusado.
Em
determinado trecho dos papéis britânicos sobre o caso durante a ditadura
militar , é revelado que o governo brasileiro preferia “que o assunto fosse
‘deixado de lado’ o mais rapidamente possível”. E que “o governo inglês fica
sem entender por que o brasileiro não quis receber de volta o valor numa ordem
de 500 mil libras”.
https://falandoverdades.com.br/ditadura-militar-recusou-investigar-casos-de-corrupcao-revelam-documentos/
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