A
metáfora é inescapável. O edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou no
centro de São Paulo na terça, dia 1º, é o Brasil.
Construído
em 1961, depois entregue à União por causa de dívidas, abandonado, finalmente
ocupado pelo exército de invisíveis em que tropeçamos diariamente, explorados
por um grupo que lhes cobrava 400 reais de aluguel.
Cedido
temporariamente à prefeitura, que tentava uma solução com o governo federal, o
prédio desmanchou como um castelo de areia.
Havia
372 pessoas vivendo ali, das quais 328 saíram com vida. Os sobreviventes estão
acampados nas imediações, sem destino.
Daqui
a pouco serão expulsos pela polícia porque ninguém nunca se importou com eles,
que diferença faz?
Um
país que afunda em pessimismo, ódio, em selvageria, ganhou mais retrato acabado
de sua tragédia.
O
herói anônimo de uma fábula triste é o homem que estava sendo resgatado pelos
bombeiros por uma corda depois de salvar quatro crianças.
O
arranha céu se desintegrou, a corda rompeu e ele mergulhou para a morte.
Ricardo
Oliveira Galvão Pinheiro, de 39 anos, apelido “Tatuage”, trabalhava em carga e
descarga de caminhões e fez o que se espera de um homem.
Um
amigo diz que ele gostava muito de plantas. E de gatos. E de patins.
Será
esquecido amanhã porque nós preferimos celebrar os Dallagnois, os Moros, os
Japoneses da Federal.
Estes
que ganham auxílio moradia, estouram o teto salarial, faturam alto com palestras,
perseguem, acusam, fazem jejum para um cidadão ser preso, vivem no Facebook
estraçalhando a noção de Justiça.
Estes
são cultuados, celebrados todos os dias nos jornais e na TV, padroeiros dos
cidadãos de bem — os mesmos que agora culpam Ricardo por ser um vagabundo
morador de um cortiço.
Ricardo
não almejava a glória, não queria ficar famoso, não calculou o risco. Pegou as
crianças porque era o certo.
A
última imagem que fica dele é a de sua salvação frustrada.
Leonardo
Diaféria escreveu em 1977 que, “como sempre, o herói é reconhecido depois,
muito depois. Tarde demais”.
Fiquemos,
pois, com os templários de Curitiba, merecedores das nossas cinzas.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-cinzas-do-brasil-o-heroi-morto-do-edificio-que-desabou-e-os-herois-de-fancaria-dos-cidadaos-de-bem-por-kiko-nogueira/
Um comentário:
VOMITANDO SEMPRE – #LULALIVRE
> https://gustavohorta.wordpress.com/2018/05/03/vomitando-sempre-lulalivre/
As batalhas estão perdidas.
Acho que a guerra também está perdida.
Infelizmente.
Como sempre na história, eles venceram outra vez.
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