Sempre
odiei os arautos do caos, os profetas da catástrofe, as cassandras – como se
dizia antigamente – que ficavam vendo crises institucionais e golpes em cada
esquina. Estão quase sempre errados, ainda bem, e podemos dormir tranquilos
porque a nossa democracia é forte. Que Deus nos ouça. Só que, a esta altura do
campeonato, depois dos tiros disparados contra o acampamento da turma do Lula
em Curitiba, e de alguns outros sinais de radicalização daqui e dali, não há
como evitar certa inquietude.
Parece
que alguém está querendo um cadáver, e pode ser que, até outubro, consiga. Algo
está muito errado na hora em que a política começa a ser feita com tiros – e esta não foi a primeira vez nos últimos
tempos, se lembrarmos dos ataques à caravana lulista há algumas semanas. Os
tiros paranaenses deste fim de semana feriram uma pessoa gravemente e uma outra
de forma mais leve. Ninguém morreu, ainda bem, e se as investigações seguirem o
roteiro habitual não se saberá de onde, nem de quem, partiram os disparos. A
vida seguirá até o próximo ato.
Há
poucas dúvidas de que haverá um próximo ato, sabe-se lá onde e contra quem. De
repente, temos a sensação de estar dentro de um paiol de pólvora, com todas as
autoridades e instituições junto. E agora?
As
autoridades da Lava Jato e do Judiciário perceberam que prender o ex-presidente
da República e maior líder de massas da história recente não foi exatamente um
passeio. Sobretudo num momento em que tantos outros, acusados de crimes
envolvendo importâncias milhares de vezes maiores e flagrados em cenas
vexatórias ligadas a pacotes e malas de dinheiro e a contas no exterior,
continuam livres e soltos. Agora, o pessoal de Curitiba não sabe bem o que
fazer com Lula – que, encarcerado, continua liderando as pesquisas.
No
paiol, surgem outros focos de incêndio. Num deles, o Judiciário se estapeia a
ponto de deixar a platéia confusa. Enquanto os ministros do STF se agridem, o
juiz da primeira instância se coloca abertamente contra a decisão de instâncias
superiores, às vezes sem cumpri-las. O fim de semana trouxe também uma nota
indignada do desembargador Ney Bello, do TRF1, criticando o juiz Sergio Moro
por se negar a cumprir habeas corpus por ele concedido suspendendo a extradição
do empresário português Raul Schimidt.
Tão
grave quanto gente levando tiros a esmo em acampamentos, juízes trombando e
descumprindo decisões superiores é o bate-bocas entre o presidente da República
investigado por corrupção – e chamando as investigações de perseguição – e os
delegados da Policia Federal. A instituição foi desmoralizada e ofendida por
seu chefe maior, associações de delegados responderam duramente ao presidente e
fica tudo por isso mesmo.
Sem
querer parecer cassandra nem dar razão aos catastrofistas que tanto detesto,
isso não é normal…
Da
jornalista Helena Chagas, no site Os Divergentes:
http://www.tijolaco.com.br/blog/so-falta-um-cadaver-por-helena-chagas/
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