A
sede da Nestlé em São Lourenço, Sul de Minas Gerais, foi ocupada por 600
mulheres sem terra às 6 horas da manhã desta terça-feira (20). As mulheres, que
seguem na Jornada Nacional de Lutas, denunciam a entrega das águas às
corporações internacionais, conduzida a passos largos pelo governo golpista de
Michel Temer. Elas alertam para as negociatas que ocorrem neste momento no
Fórum Mundial das Águas, em Brasília.
“Imagina
você ser obrigada a comprar em garrafinhas toda a água para matar a sede
durante o dia. Ninguém aguentaria isso. É o que querem as empresas reunidas
nesse momento naquele Fórum”, aponta Maria Gomes de Oliveira, da Direção do
MST. “É muita petulância fazer um fórum internacional para comercializar nossas
reservas de água. Eles não estão lá para debater gestão de nada, estão fazendo
um leilão para vender o país a preço de banana”, completa a dirigente.
Em
janeiro de 2018, Michel Temer e o presidente da Nestlé, Paul Bulcke, se
reuniram para discutir a exploração do Aquífero Guarani. A reserva abrange
quatro países. Após as vitórias dos conservadores na Argentina e golpes de
Estado no Paraguai e no Brasil, somente o Uruguai poderia colocar empecilhos à
privatização. “Quanto mais o golpe se aprofunda, fica mais clara a influência
de grandes grupos econômicos sobre a política e seu interesse em explorar as
nossas riquezas naturais”, explica Oliveira.
Extração criminosa
A
empresa, que controla 10,5% do mercado mundial de água, está instalada na
cidade mineira desde 1994, quando comprou as fontes e o Parque das Águas de São
Lourenço. Desde 1997, a população local denuncia a exploração das águas
minerais que, antes de serem privatizadas, eram amplamente utilizadas para
tratamentos medicinais. Além da redução da vazão, nota-se a mudança no sabor da
água, ou seja, a exploração está fazendo com que ela perca seus sais minerais.
O
processo de envase leva ao mercado duas marcas, a São Lourenço e a Pure Life.
Esta última foi comercializada sem licença estadual de 1999 até 2004, quando o
governo Aécio Neves (PSDB), presenteou a empresa com a autorização. No entanto,
uma ação civil pública contra a Nestlé apurou que além de abrir ilegalmente o
Poço Primavera e gerar a seca da fonte magnesiana, a água produzida também era
ilegal. A Nestlé fazia a retirada de todo o minério do líquido através de um
processo químico, para em seguida adicionar sais minerais de sua própria
patente.
“A
Nestlé se instaurou aqui há décadas e por décadas faz a exploração predatória e
até irregular. A água é um bem comum da humanidade, defendê-la é uma questão de
soberania”, explica Maria. Apesar do presidente da Nestlé afirmar que não há
superexploração, duas das fontes do parque já secaram. Segundo os dados
oficiais da própria empresa, são sacados 19 milhões de litros de água por ano.
Como não há uma legislação específica sobre o mercado, resta à União, ao município
e ao Estado uma compensação financeira. Em 2016, isso significou para São
Lourenço, trágicos 563 mil reais.
Escravocrata
O
Sul de Minas Gerais é conhecido pela grande produção de café. A Nestlé controla
22% das marcas de café no mundo, grande parte retirada da região. O plantio
convencional, dotado de altos níveis de agrotóxicos, emprega milhares de
trabalhadores irregulares anualmente. Faltam fiscais do trabalho para controlar
os abusos que ocorrem nas fazendas cafeicultoras. Em 2015 dois adolescentes, um
de 14 e outro de 15 anos, foram resgatados de Fazendas da Nestlé.
Marielle vive!
As
mulheres Sem Terra reivindicam ainda a memória de Marielle, exigindo justiça e
punição aos responsáveis. “Não temos dúvidas de que este Estado antidemocrático
é inteiramente responsável pela execução da nossa companheira. Marielle viverá
sempre em nossa luta!”, afirma Maria.
As
mulheres Sem Terra prometem continuar as lutas durante o ano. Nesse sentido,
Maria Gomes de Oliveira é taxativa: “Enquanto a burguesia continuar impondo
este rompimento democrático, condenando a população brasileira à perda de
direitos, vamos seguir ocupando terras, empresas e propriedades para denunciar
todos os articuladores do golpe. O povo precisa saber quem são os responsáveis
pela miséria, pela sua exploração e pela destruição do meio ambiente”.
http://www.mst.org.br/2018/03/20/mulheres-ocupam-nestle-contra-a-privatizacao-das-aguas.html
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