A
Batalha de São Borja.
Foi
assim que lideranças petistas definiram a estratégia utilizada para chegar até
a praça XV de Novembro, centro da cidade, onde fica o mausoléu de Getúlio
Vargas, e realizar um ato em homenagem ao ex-presidente, pioneiro no
trabalhismo do Brasil.
Lideranças
ruralistas haviam se colocado no trevo de entrada da cidade, dispostos a
impedir a entrada de Lula.
Mas
a equipe de segurança do ex-presidente soube de outro caminho, uma estrada
vicinal, onde existem dois assentamentos.
A
caravana foi por ali e chegou até o destino.
No
acesso à praça, havia alguns manifestantes, com tratores e caminhonetes.
Alguns
atiraram pedras e ovos e outros tentaram
interditar a avenida, mas foram contidos pela Brigada Militar.
Nas
imediações da praça, mais cedo, os ruralistas já haviam tentado ocupar o lugar,
mas não conseguiram, já que havia manifestantes pró-Lula. E foram expulsos.
Lula
chegou à praça com um lenço vermelho, tradição de Getúlio Vargas. No discurso,
voltou a falar sobre a falta de representatividade dos que protestavam.
“Eu
resolvi passar aqui para prestar uma homenagem ao Getúlio, onde está o túmulo
dele aqui, para prestar uma homenagem ao João Goulart, e também para prestar
uma homenagem ao Brizola. Uma coisa simples, singela. A gente não esperava que
pudesse ter alguns fascistas nesta cidade que resolvessem tomar a atitude de
proibir o PT e o Lula de entrar em São Borja.
Lula
disse ainda:
“E,
de repente, eu vejo pela imprensa o povo assustado, com eles fazendo
provocação, tacando pedra no ônibus, o carro cheio de bomba, cheio de rojão,
cheio de foguete, como se nós estivéssemos numa guerra. Ô gente, isso só pode significar
ignorância.”
Lula
arriscou ainda uma explicação sobre a razão “dessa gente acumular tanto ódio ao
PT e ao Lula”:
“Eles
não querem é que o trabalhador tenha direito, não querem que o trabalhador seja
respeitado, não querem que o jovem da periferia entre em uma universidade e se
forme doutor”, disse.
Quem
ouvia atentamente o discurso de Lula é Andressa Azevedo, que nasceu em São
Borja. Pouco antes, eu a havia entrevistado. Andressa é aluna do Serviço Social
da Unipampa, universidade federal criado no governo Lula:
“Se
não fosse essa oportunidade, nós, estudantes pobres, jamais poderíamos estar na
universidade. É por isso que os ricos não querem que o governo popular seja
fortalecido”.
Ao
lado dela, Louiser Silva Dutra Soares também revelava os motivos para estar
ali:
“Eu
apoio o Lula porque, só por causa dele, meu irmão entrou numa faculdade e hoje
é enfermeiro.
Riana,
amiga de Lousier, destacou os empregos que surgiram na região durante o período
em que ele e Dilma foram presidentes — em 2014, a taxa de desemprego no Brasil
era em torno de 5%, hoje é superior a 12%.
A
professora Ana Maria ouviu as jovens falarem e quis também dar seu testemunho.
O ato começou por volta das 17 horas, e todas estavam ali desde às 13.
“Eu
vim aqui para dizer que tenho orgulho de ter minha filha formada fisioterapeuta
graças à Unipampa, graças ao Lula. É por isso que eu estou aqui já há algumas
horas”, contou.
Enquanto
elas conversavam comigo, um grupo distante começou a gritar:
“Unpampa,
Unipampa, Unipampa”.
Dilma
Rousseff também discursou e explicou que o golpe é uma sucessão de atos, um
processo, cujo objetivo é retirar direitos de trabalhadores e impedir sua
ascensão social.
A
senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, disse, por sua vez, que os
muralistas que protestaram não eram dignos da glória de Getúlio Vargas, João
Goulart e Brizola.
“Esta
é uma cidade de heróis, e eles não são dignos de heróis”, afirmou a senadora.
No
alto do caminhão de som, a expressão dos petistas era de satisfação, por ter
vencido mais uma batalha.
Nem
levavam em conta que, do lado de lá da trincheira, ao lado do produtor de vinho
Sérgio Malgarin, estava o presidente do Sindicato Rural de São Borja, Viriato
Vargas.
É
dele a voz do áudio postado em grupo de WhatsApp em que prometia impedir a
entrada de Lula em São Borja..
Viriato
é sobrinho-neto de Getúlio Vargas, mas parece não conhecer a história do
ascendente famoso.
Se
soubesse, não estaria lutando contra um herdeiro do trabalhismo e, com isso,
não teria perdido a Batalha de São Borja, talvez a única e última que tenha
travado na vida.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/lula-e-a-batalha-de-sao-borja-por-joaquim-de-carvalho/
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