Acertou
na mosca o bravo jornalista Rodrigo Vianna quando, em artigo recente, disparou:
“a lógica de Lula é a lógica que vai levá-lo à prisão”. Rodrigo cita uma
declaração de Lula, na entrevista à Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, na
qual o ex-presidente afirma que se nega a examinar qualquer alternativa de
resistência fora do “respeito às instituições”.
Ao
fazer profissão de fé nas instituições, Lula deixa escapar uma grande
oportunidade de botar o dedo na ferida, denunciando ao Brasil e ao mundo que o
pacto republicano e democrático que resultou da Constituição de 1988 virou pó;
que as tais instituições, corrompidas pelo ativismo político, apodreceram e,
pelo menos na sua configuração atual, precisam ser expelidas; que o sistema de
justiça do país traiu sua função pública ao se tornar braço do golpismo e dos
interesses mais mesquinhos, antipopulares e antinacionais do capital.
Se
por um lado é assombroso observar como dirigentes e figuras públicas do PT,
além de destacados militantes dos movimentos social e sindical, naturalizaram a
prisão do maior brasileiro do século como se fora um mero percalço dos embates
políticos, por outro, há que se reconhecer a responsabilidade de Lula nessa
pasmaceira generalizada. Sim, porque, diante das multidões que arrasta, ele
jamais convocou o povo para a resistência fora da esfera institucional, como o
momento requer.
Antes
de acusaram-me de propor porralouquices como luta armada, que na atual
correlação de forças na sociedade seria uma total insanidade, esclareço que
entre a luta estritamente limitada aos marcos institucionais e o recurso
extremo de pegar em armas, há uma gama de alternativas radicalizadas de luta
(não vou detalhá-las aqui para não favorecer o inimigo). Infelizmente, a
esquerda se nega até mesmo a debater com o povo sua efetivação como tática de
luta.
A
genialidade de Lula na política é reconhecida até por muitos de seus
adversários. Melhor presidente da história do Brasil, ele exibe uma trajetória
impecável de vida voltada para a defesa dos direitos do povo, da classe
trabalhadora e da democracia. Custo a entender, portanto, o que faz com que
Lula teime em enxergar que a deterioração das instituições seja fenômeno
isolado, restrito ao mau-caratismo de alguns juízes e procuradores.
Decididamente,
não. Basta, por exemplo, olharmos a unanimidade orquestrada e canalha
verificada nos julgamentos dos processos contra Lula até agora. Mesmo ante uma
acusação ridícula como a do triplex, já sobejamente desmontada pela defesa,
inclusive com a apresentação de provas, Moro o condenou. Na sequência, a
sentença seria confirmada no jogo de cartas marcadas do TRF-4, onde os desembargadores
aumentaram a pena imposta por Moro, determinando um tempo de prisão
rigorosamente igual.
Depois,
a unanimidade farsesca seria coroada pelos cinco a zero do STJ rejeitando o
pedido de habeas corpus preventivo para Lula. Centenas de juristas brasileiros
denunciam que o ex-presidente é vítima de lawfare, que é o uso da justiça para
fins políticos. Outros tantos ao redor do planeta asseveram que as acusações,
de tão frágeis, sequer seriam acatadas pelo Judiciário dos países democráticos.
O consenso condenatório por parte dos nossos juízes, portanto, é a prova cabal
de que o sistema de justiça nativo está contaminado de alto a baixo.
Vejo
como um grave equívoco, não só de Lula, mas de quadros importantes do PT, a
insistência em apontar “setores do Judiciário, do MP e da PF” como os vilões da
democracia. Basta de ilusões. Os que honram a toga e suas funções públicas
nessas instituições são pontos fora da curva, exceções que só confirmam a
regra, que é a adesão em bloco de suas excelências à perseguição ao maior líder
popular do país e ao seu partido.
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