Para
quem viveu a redemocratização do país, nos anos 80, e chega agora ao fim
inglório da democracia no Brasil, arruinada nas mãos de uma classe dominante
rastaquera, sem projeto de país, de governantes infames e – este é o dado mais
novo e decisivo – de um Judiciário que perdeu toda a formalidade – sem ter
perdido a pompa – fica buscando, perplexo, onde foi o ponto onde nos perdemos.
Tenho
cá comigo um palpite, e creio que o ponto de virada da pré-ditadura que vivemos
hoje – quem sabe um Elio Gaspari póstero a “biografe” como o título de “A
ditadura esculhambada” – se deu em 2009/2010, quando ainda vivíamos a euforia
do progresso que encantava o país. A frase da então presidente da Associação
Nacional dos Jornais, Judith Brito. dizendo que os “meios de comunicação estão
fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está
profundamente fragilizada” é o marco para um jogo de pressão da mídia que,
progressivamente, encampou o judiciário como o instrumento de seu poder.
Houve,
a partir daí, um progressivo adonamento, pela mídia, da condução do processo
político e, até mesmo, a submissão da própria agenda do Governo eleito: o
julgamento do “mensalão”, a “faxina” no Governo, as “jornadas de junho”
escancaradamente transformadas (e se transformando) em movimentos massivos e,
por fim, a Lava Jato.
A
disputa política com a “oposição profundamente fragilizada” foi,
progressivamente, substituída pela disputa com a mídia (ou nem tanto, pois
frequentemente ela era aceita como reitora), e encarnada por elementos da
Justiça, como Sérgio Moro e Rodrigo Janot, que adquiriram poderes impensáveis
numa democracia.
Agora,
o ciclo que se iniciou há oito anos terá seu desfecho nas eleições de outubro,
do qual aquela antiga oposição fragilizada elegerá um presidente igualmente
frágil, resultado da frustração da vontade eleitoral evidente da população, ao
fim e ao cabo a razão de todo este processo de destruição da democracia.
Ou,
contra tudo e contra todos, a eleição de um candidato que consiga encarnar esta
vontade castrada e que, no Governo, terá de valer-se – e logo, com a flamante
legitimidade das urnas – do enfrentamento com a direita real deste país: a
mídia e o Judiciário que está posto a seu reboque.
http://www.tijolaco.com.br/blog/os-coveiros-da-democracia/
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