A
promessa da Nova República, inaugurada com a redemocratização nos anos 1980,
era democracia com povo e desenvolvimento econômico com inclusão social,
retomando o projeto político tocado a partir de 1950 com a eleição de Getúlio
Vargas, trucidado pelo golpe civil-militar de 1964.
Assim,
transitando por um caminho longo e irregular, de mão dupla, algumas conquistas
se concretizaram: a Constituição de 1988, o controle da inflação no período
Itamar-FHC, uma promissora ascensão social das massas nos governos Lula.
Como
o caminho é de mão dupla, dá para citar revezes, mas eles foram contingenciais,
insuficientes para derrubar as conquistas. As ameaças tornaram-se, porém, reais
e imediatas após o impedimento de Dilma Rousseff em 2016, em um golpe
parlamentar tramado pelo PMDB, liderado pelo vice-presidente e apoiado por
parte da opinião pública, mídia e instituições patronais.
Embora
o discurso dos golpistas fale de um futuro venturoso, o projeto político dos
partidos e sindicatos patronais que dão suporte ao atual governo e ambicionam
eleger o próximo neste ano é retroceder o País ao período pré-1930, da
República Velha e do velho liberalismo oligárquico, com suas eleições
fraudulentas, criminalização de partidos e sindicatos laborais, falta de
regulamentação trabalhista e previdenciária, intervenção do Estado apenas para
garantir os lucros do agronegócio, ausência de negros e indígenas no espaço
político.
Conseguirão?
Depende da oposição popular nas ruas e nas urnas. A força dessa oposição é
incerta. O certo é que tentam, com notável malícia e ligeireza, vendendo
medidas impopulares, não sancionadas pelas urnas, como de salvação nacional.
Tentam nos convencer que legislar contra o trabalhador favorecerá o
trabalhador. Que fraudar a democracia fortalecerá a democracia.
A
pauta é extensa e intensa: flexibilização das leis trabalhistas, reforma
previdenciária, privatização ou esvaziamento de estatais e bancos públicos,
reversão de políticas sociais, criminalização e degola de políticos de
esquerda.
A
burguesia nativa é favorável, no mínimo neutra, à desigualdade social. Para
seus representantes, a desigualdade só pode ser enfrentada via mercado, como
resultado das leis da oferta e da procura, ditas naturais ou mesmo divinas. Ou
seja, o pobre só vai comer uma fatia quando o bolo crescer. Esse tipo de
demanda pode ficar para o futuro. O povão que siga a esperar a fartura.
A
elite tem urticária quando se fala em aumento do salário mínimo, imposto
progressivo, ações afirmativas, Bolsa Família, democratização da mídia. Nem
precisa chegar nas reformas agrária e urbana.
Da
mesma forma, tem arrepios quando sente que a política sai do seu controle. Em
1964, utilizou o Exército para degolar os adversários, naquela época chamados
de populistas. No presente usa os poderes Legislativo e Judiciário. Ontem, as
vítimas foram Getúlio Vargas e João Goulart. Hoje, Dilma e Lula.
Tem
uma teoria política maquiavélica por trás desses prodígios, enunciada por
Carlos Lacerda em relação a Getúlio Vargas, mas que serve para todos os outros:
“Não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não pode tomar
posse. Empossado, deve ser impedido de governar”.
A
burguesia e seus representantes ainda não se conformaram com a revolução de
1930.
https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-socio/da-nova-republica-a-republica-velha

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