Há
semanas escrevi para o jornal espanhol El Pais um artigo sobre a Venezuela,
indignado que estava com a política do governo brasileiro, através das
operações diplomáticas do Itamaraty, agindo de forma absolutamente
irresponsável e submissa aos interesses da direita venezuelana e dos Estados
Unidos.
Ao
apoiar a oposição, o governo brasileiro alimenta as correntes favoráveis à
guerra civil e à intervenção norte-americana, chancelando um noticiário que, no
Brasil como na maioria da imprensa internacional, está comprometido com os
inimigos do chavismo e sua versão dos fatos.
Não
se trata de julgar o governo Maduro ou a revolução bolivariana, mas de buscar
saídas pacificas para a crise política e econômica do país, sem intervenção
externa e uso da força, até porque as Forças Armadas apoiam Maduro, o governo e
a Constituinte.
A
administração Trump ameaçou de público intervir na Venezuela a favor da oposição,
recebendo imediatamente o repúdio dos governos do México, Peru e Colômbia,
deixando a diplomacia brasileira isolada e em maus lençóis, obrigando-a
tardiamente a condenar a ameaça norte americana.
O
fato é que a oposição optou por derrubar o governo legal e constitucional de
Maduro, nossos golpistas – acostumados à impunidade – logo a apoiaram e,
submissos a Washington, silenciaram-se frente às ameaças da Casa Branca.
As
forças conservadoras tiveram a ilusão de que os milhões de beneficiados com a
revolução e os governos chavistas se manteriam na defensiva, inertes frente a
ataques armados, sabotagens, desabastecimento de produtos essenciais, locaute
de empresários, agressões e assassinatos de apoiadores e liderança – a metade
dos mortos nas manifestações são policiais e manifestantes a favor do governo
Maduro.
Jamais
previram a convocação da Constituinte e das eleições regionais e menosprezaram
o apoio total das forcas armadas. Recorrendo a dispositivos constitucionais, o
presidente Maduro chamou o povo a exercer o poder originário, colocou todas as
instituições do Estado sob a batuta da instância democrática soberana e vem
recuperando a normalidade política, enfrentando a crise criada pela oposição
golpista a partir de sua maioria na Assembleia Nacional.
Com
a iniciativa política lhe escapando das mãos, depois do forte comparecimento às
urnas constituintes e da marcação dos pleitos estaduais, restou à oposição
apostar suas fichas na pressão que possa ser exercida pelos centros
imperialistas, da qual são representativas as ameaças de Trump e as sanções
ilegais decididas contra a Venezuela, repetindo o roteiro do fracassado e
arbitrário bloqueio a Cuba, vigente desde 1962.
Nessa
situação, também é triste ver como o Brasil perde a liderança diplomática,
jogando no lixo o papel conquistado por Lula na América do Sul, sempre a favor
de soluções negociadas e respeito absoluto aos princípios da não intervenção
nos assuntos internos dos demais países e da autodeterminação dos povos.
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/geral/47898/jose+dirceu+venezuela+resiste+trump+ameaca+e+o+brasil+se+submete.shtml
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