O
beija-mão ocorreu em 1946, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, quando
o general Dwigth Eisenhower visitou o Brasil. Na homenagem a ele prestada pela
Câmara dos Deputados o então deputado Otávio Mangabeira, da UDN, falou em nome
da casa. Ao final o general estendeu a mão para cumprimentá-lo. Para espanto de
todos ao invés do deputado pegar na mão do homenageado, de joelhos, a beijou na
mais patética cena de bajulação e submissão, aos Estados Unidos, vista no país.
As
medidas de interesse de Washington e do mercado, adotadas pelo ilegítimo
governo Temer representam, simbolicamente, a repetição da atitude tomada por
Otávio Mangabeira. Os fatos são contundentes.
Militares
norte-americanas foram convidadas para realizar exercícios militares na
Amazônia com as forças armadas do Brasil, Equador e Colômbia. A gravidade
destes exercícios militares reside no fato notório da cobiça estrangeira,
sobretudo dos Estados Unidos, pela Amazônia sob o manto da tese de que a região
seria Patrimônio da Humanidade. Tanto assim que em escolas dos Estados Unidos
difunde-se tal absurdo.
No
passado a postura em relação aos militares norte-americanos era diferente.
Quando estive no Sul do Pará, participando do Grupo de Trabalho Araguaia que
buscava os restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia, tomei conhecimento por
um oficial do exército, de que os militares brasileiros faziam exercícios
militares na Amazônia para se prepararem diante de uma eventual invasão
norte-americana da Amazônia.
Outro
ato de lesa pátria foi a extinção da Renca (Reserva Nacional do Cobre e
Associados). Ela possui 4 milhões de hectares, do tamanho da Dinamarca, sendo
que 2 milhões têm potencial de exploração de ouro, manganês, tântalo e outros
metais. Sua extinção abre caminho para as grandes mineradoras estrangeiras.
Sabe-se que mineradoras Canadenses foram informadas desta medida antes mesmo de
que ela fosse adotada.
Colocar
aquela região nas mãos de empresas estrangeiras representa um ato contrário aos
interesses nacionais. Trará, também, grave degradação ambiental e agredirá os
direitos das populações indígenas. Diante da forte reação de importantes
segmentos da sociedade, o governo anunciou um novo decreto que mantém a
extinção da Renca, garantindo seu objetivo fundamental que é o de abrir a
Amazônia aos capitais estrangeiros, conforme o mercado exige.
A
Amazônia detém as maiores reservas de minérios do mundo e a maior
biodiversidade do planeta. A busca de reservas estratégicas de minérios e a
importância da biodiversidade para a engenharia genética explicam o interesse
internacional pela região.
A
entrega do Pré-sal é outra medida atentatória ao interesse nacional. Quando se
articulava o golpe contra a presidenta Dilma membros que vieram a compor o
ministério Temer informaram às autoridades norte-americanas a disposição do
futuro governo de abrir o Pré-sal à exploração de empresas estrangeiras, o que
foi feito.
Por
outro lado a base de lançamento de foguetes de Alcântara será entregue aos
Estados Unidos. Terras estão sendo abertas à aquisição por empresas
estrangeiras.
As
medidas do governo Temer comprovam sua política de submissão aos
norte-americanos em contraste com a política internacional de afirmação da
soberania nacional adotada pelos governos Lula e Dilma. Neste sentido vale a
pena relembrar a fala do Chico Buarque em ato de apoio à Dilma, em 2010, onde
afirmou “É um governo que fala de igual para igual: não fala fino com
Washington e não fala grosso com a Bolívia e o Paraguai e, por isso mesmo, é
respeitado no mundo inteiro”. Por tudo isto está mais do que claro que o
governo ilegítimo de Temer é um governo de traição nacional.
Se
não bastasse tudo isto o governo decidiu privatizar 57 instituições ou serviços
entre eles 14 aeroportos, 15 terminais portuários, 11 linhas de transmissão de
energia elétrica a Eletrobrás e até a Casa da Moeda.
A
gravidade da privatização do sistema Eletrobrás decorre do fato de que ele é
responsável por mais de 40% da geração de energia nacional, sendo a Eletrobrás
a maior empresa estatal de energia da América Latina. Sua privatização retira
do país as condições de garantir a segurança energética. De colocar a energia
como fator decisivo para a soberania do país e para a execução de um projeto
nacional de desenvolvimento. Os países que preservam sua soberania não permitem
que o controle de uma área tão estratégica fique em mãos de estrangeiros. Por
outro lado, tal medida trará como resultado o aumento do preço da energia
elétrica para os lares e para a produção já que o objetivo dos investidores
será o lucro máximo.
Mas
o ataque aos interesses dos brasileiros não se limita à economia. Estende-se às
questões sociais, políticas e culturais, entre outras. A agressão aos direitos
dos trabalhadores com as reformas trabalhista e previdenciária demonstra o
interesse do governo em aumentar os lucros dos empresários em detrimento dos
trabalhadores e do povo.
Por
outro lado os cortes dos recursos para as universidades públicas e a chamada
escola sem partido são meios de consolidar a hegemonia do pensamento
conversador na sociedade. Para isto é necessário calar o pensamento crítico e
criativo.
Do
ponto de vista político o neoliberalismo e sua base de apoio têm um duplo
objetivo: impedir a candidatura do ex-presidente Lula, adotando as medidas que
forem necessárias para impedir a reedição do projeto político e econômico que
ele representa.
E
afastar o povo e os partidos progressistas da luta política. Pretendem alcançar
tal objetivo com a antirreforma política. Para isto ensaiam o parlamentarismo e
procuram aprovar o distritão, o distrital misto, a proibição de coligações
proporcionais e a cláusula de barreira. E investem violentamente contra o
financiamento público de campanhas para pressionar pela volta do financiamento
empresarial. No entanto, os fatos indicam que será muito difícil a aprovação
das reformas política e previdenciária.
Vivemos
uma situação insólita e difícil de compreender. Diante desta avalanche contra
os direitos do povo a mobilização da sociedade é pequena e em alguns casos
praticamente nula.
Não
há como conter esta avassaladora onda direitista sem as amplas massas nas ruas.
A construção de uma efetiva Frente Ampla passa por conquistar o apoio de
setores organizados da sociedade, mas também dos mais vastos segmentos sociais.
Isto inclui aqueles segmentos menos politizados que foram envolvidos na
propaganda dos meios de comunicação em torno de uma falsa colocação da questão
ética para afastá-los da luta política e do debate das questões essenciais para
a vida do povo e da soberania do país, incluindo a verdadeira ética individual
e a ética social.
A
esquerda deve se debruçar sobre o estudo das razões deste clima de letargia de
importantes segmentos da sociedade bem como sobre as medidas a serem adotadas
para superar esta situação e retomar a hegemonia política e cultural,
incorporando as grandes massas à mobilização. Neste caminho é essencial despertar
a consciência crítica a partir da indignação com as medidas adotadas pelo
governo.
Para
retomar a confiança e despertar novamente a paixão do povo é necessário
ouvi-lo, com base em uma proposta inicial de alternativa política, para melhor
captar o que estão pensando e porque não se manifestam. Ouvir o povo é o melhor
caminho para encontrar a saída da crise e mobilizar amplamente a sociedade.
https://renatorabelo.blog.br/2017/09/01/aldo-arantes-temer-repete-o-beija-mao/
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