Nações
Unidas criticam que o crescimento do controle dos mercados pelas grandes
empresas não é proporcional ao crescimento do emprego e contribui para o
aumento da desigualdade
Um
novo relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD) critica as grandes corporações por inflarem seus
lucros pela manipulação das regras do jogo. A crise de 2008 expôs essas
práticas nos mercados financeiros; o uso dos paraísos fiscais por parte do 1%
mais rico é fato conhecido. Contudo, tais práticas também têm se estendido a
setores não financeiros. E os rendimentos derivados dessas práticas têm
aumentado a desigualdade, “em um mundo onde o vencedor leva (quase) tudo”, diz
o documento.
Para
impedir que esse ciclo saia do controle, o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa
Kituyi, defende que as autoridades, nos planos nacional e internacional, devem
resgatar que o conhecimento e a concorrência voltem a ser considerados “bens
públicos”. As declarações foram feitas no lançamento do Trade and Development
Report, 2017: Beyond Austerity – Towards a Global New Deal (Relatório de
Comércio e Desenvolvimento 2017: para além da austeridade –rumo a um novo pacto
global).
O
documento critica que o crescimento do controle dos mercados pelas grandes
empresas não esteja sendo proporcional ao crescimento do emprego por elas
oferecido. Medida pela capitalização de mercado, a participação das 100 maiores
empresas quadruplicou, mas sua participação no emprego apenas dobrou. “Estamos
enfrentando um mundo de ‘lucros sem prosperidade’, onde o poder de mercado
assimétrico é um fator que contribui fortemente para a desigualdade de renda”,
disse Kituyi.
Em
1995, a capitalização de mercado das 100 maiores empresas globais era 31 vezes
maior que a das 2 mil empresas no piso da pirâmide; 20 anos depois, passou a
ser 7 mil vezes maior
Por
meio de uma análise de dados de companhias não financeiras em 56 países
desenvolvidos e em desenvolvimento, o relatório mostrou que os ganhadores levam
(quase) tudo. Entre 1995 e 2015, os lucros “extraordinários” (lucros que não
decorrem das atividades centrais da empresa) passaram de 4% para 23% do lucro
total do conjunto das empresas, e de 19% para 40% nas 100 maiores empresas. Em
1995, a capitalização de mercado das 100 maiores empresas globais era 31 vezes
maior que a das 2 mil empresas no piso da pirâmide; 20 anos depois, passou a
ser 7 mil vezes maior.
Os
economistas da UNCTAD constataram que grandes empresas de países emergentes
começaram a se tornar globais, em grande parte devido ao boom de seus mercados
domésticos. Contudo, as empresas de países desenvolvidos ainda dominam,
particularmente em setores de alta lucratividade como medicamentos, mídia e
tecnologia da informação e comunicação, respondendo pela maior parte das
remessas internacionais de lucros.
Segundo
o relatório, monopólios naturais decorrentes de avanços tecnológicos são apenas
uma pequena parte da história. As chamadas superstar firms devem seus impérios
tanto às proezas tecnológicas quanto à ineficiência da legislação antitruste, à
excessiva proteção da propriedade intelectual e às agressivas estratégias de
fusão e aquisição.
Um círculo vicioso em que poder de mercado
gera poder de lobby deu legitimidade ao submundo do “rentismo” empresarial,
contribuindo sistematicamente para o aumento das desigualdades de renda
Com
base em dados de filiais de empresas norte-americanas no Brasil, na China e na
Índia, o relatório mostra que, em três setores intensivos em tecnologia
(tecnologias da informação e comunicação, químico e farmacêutico), o aumento da
proteção por patentes está associado à crescente rentabilidade das filiais,
deixando para trás as empresas locais.
Elisão
fiscal, liquidações de ativos públicos, subsídios públicos para grandes
corporações e recompras de ações têm oferecido novas oportunidades de
rentabilidade e aumentado a remuneração de diretores-executivos.
De
acordo com o relatório, um círculo vicioso em que poder de mercado gera poder
de lobby deu legitimidade ao submundo do “rentismo” empresarial (corporate
rent-seeking), contribuindo sistematicamente para o aumento das desigualdades
de renda e para os desequilíbrios de poder na economia global.
Do site da ONU
http://www.socialistamorena.com.br/onu-ataca-rentismo-das-grandes-corporacoes-um-mundo-de-lucros-sem-prosperidade/
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