Política
de austeridade do governo Temer enfraquece a classe trabalhadora e não garante
a sustentação dos lucros pelo desenvolvimento do sistema produtivo
O
Brasil segue governado por aqueles que já morreram. Ao invés de cometer erros
novos, os governos insistem na repetição dos mesmos equívocos do passado.
Exemplo disso pode ser encontrado na predominância da interpretação da crise
que abala a economia nacional e orienta a ação do governo Temer.
Como
se sabe, o país vive uma longa fase de estagnação de sua renda per capita.
Entre 1981 e 2016, o rendimento médio do brasileiro subiu 0,6% como média
anual, ao contrário de 4,4% no período de 1945 a 1980.
Embora
interrompida brevemente nos governos liderados pelo PT, a explicação
predominante aceita pelos midiáticos analistas econômicos e ministros da
Fazenda de plantão desde os anos neoliberais iniciados em 1990 tem sido a de
que a queda na taxa de exploração capitalista da força de trabalho resulta na
desaceleração dos ganhos de produtividade. Isso porque a elevação na massa de
rendimento do trabalho termina por esmagar os lucros empresariais,
desincentivando os investimentos produtivos.
Nesse
sentido, a luta de classe entre o capital e o trabalho deve ser enfrentada
pelas políticas de austeridade governamental. Com isso, a defesa da desoneração
nos custos de produção, sejam fiscais (restrição de tributos para empresas),
sejam de transação (equipamentos, contratos etc.), sejam laborais (reforma
trabalhista, lei da terceirização), entre outros.
Acontece
que o movimento de desoneração dos custos de produção como possibilidade da
elevação na margem de lucro das empresas encontra oposição, em geral, na queda
das receitas públicas e do custo salarial. Enquanto a menor arrecadação gera
problemas fiscais de financiamento do governo, a redução na parcela do
rendimento do trabalho implica problemas maiores de demanda no interior do mercado
interno.
Logo,
a política de austeridade com o objetivo de enfrentar a luta de classes
enfraquece a classe trabalhadora, sem garantir a sustentação dos lucros pelo
desenvolvimento do sistema produtivo. Isso porque a adoção das políticas
neoliberais de austeridade favorece a luta intraclasse capitalista no que diz
respeito à decisão sobre o que produzir.
O
corte nos custos de produção permite elevar a margem de lucro, mas que tem
dificuldade de ser efetivada diante do desmoronamento do gasto público e do
consumo dos trabalhadores no sistema produtivo. Ao invés de estimular os
investimentos produtivos, ganha mais força o deslocamento dos recursos
disponíveis para o setor financeiro, este sim capaz de garantir taxas de
retorno superiores por conta da sustentação de altas taxas reais de juros pelo
Banco Central.
O
governo Temer erra sistematicamente ao focar a luta de classe entre capital e
trabalho, pois dessa forma dificilmente encontrará saídas para a crise da
economia nacional. Ao mesmo tempo imprime a mesma lógica do favorecimento do
rentismo, praticando o corte na demanda agregada por força das reformas
neoliberais que fortalecem a trajetória dos lucros financeiros.
Nos
anos em que os trabalhadores ampliaram a participação dos salários na distribuição
funcional da renda nacional, o desempenho da economia nacional foi superior,
com a garantia do quase pleno emprego da força de trabalho e da elevação no
padrão de vida da população. Isso não faz muito tempo, tampouco há
impossibilidades de ser retomado, colocando como problema central a luta
intraclasse capitalista sobre o que produzir.
http://jornalggn.com.br/noticia/a-luta-de-classes-e-o-aprofundamento-da-crise-economica-por-marcio-pochmann
Nenhum comentário:
Postar um comentário