Para
quem acompanha a política nacional, esta sexta (9) foi um dia bem instrutivo.
Foram, ao menos, cinco grandes lições de como o país funciona:
1) A justiça não é cega – O Tribunal Superior Eleitoral
contrariou o relator Herman Benjamin e absolveu a campanha de Dilma Rousseff e
Michel Temer de crime eleitoral por 4 votos a 3. Isso garantiu uma sobrevida ao
governo de Temer. Para isso, foi ignorada farta quantidade de provas e
evidências apresentadas, mostrando que PT e PMDB se beneficiaram de caixa 2 na
eleição de 2014. A vitória só foi possível graças à atuação constrangedora de
Gilmar Mendes, amigo pessoal de Temer, que acumulou as funções de presidente da
corte e advogado de defesa. Aviso: quem disser a frase ”Se Dilma Rousseff fosse
a presidente, a decisão teria sido outra”, corre o risco de ser processado pelo
digníssimo.
2) Vida de jornalista
vale pouco – Durante
a sessão do julgamento desta sexta, o ministro do TSE Napoleão Maia confessou
seu desejo de decapitar ou degolar jornalistas. Por conta de uma denúncia
veiculada – de que delatores da JBS haviam envolvido seu nome em um caso de
tráfico de influência – Maia desejou que ”desabe a ira do profeta” sobre os
profissionais de imprensa envolvidos. Ele, que é cristão, apelou a Maomé –
demonstrando o melhor do sincretismo religioso tupiniquim. E enquanto falava da
ira, simulou o gesto de uma lâmina cortando a própria garganta.
3) O cinismo político
não tem limites –
Temer, talvez sentindo-se revigorado pelo vento favorável que soprava do TSE,
devolveu em branco as 82 perguntas que a Polícia Federal fez a ele no inquérito
sobre suspeita de seu envolvimento em corrupção, organização criminosa e obstrução
de Justiça. Ele já havia pedido uma extensão de prazo para enviar as respostas.
Agora, afirmando que as questões se desviaram do tema, solicitou arquivamento
do inquérito. Em sua petição, seus advogados reclamaram que ele é ”alvo de um
rol de abusos e agressões aos seus direitos individuais e à sua condição de
mandatário da nação”.
4) Ética não pode
prejudicar negócios –
Reportagem da BBC, publicada nesta sexta, mostra o que pensa o mercado sobre
Temer. ”Quem é o presidente do país fica em segundo plano”, afirmou um
empresário. ”Como pessoa física, está todo mundo enojado”, explicou um segundo.
”Se vamos prender todo mundo, não sobra ninguém”, ponderou um terceiro.
”Atrapalhou muito, foi decepcionante”, avaliou um quarto. ”Quem vai conquistar
apoio não é ele, são as reformas propriamente ditas. Passadas as medidas, vamos
ver se os outros seguirão apoiando um presidente não legítimo”, cravou um
quinto. O mercado, na verdade, professa a crença da imortalidade das reformas:
se Temer voltar ao pó, elas reencarnarão no corpo de outra pessoa. Como Rodrigo
Maia, Tasso Jereissati, Cármen Lúcia, Fernando Henrique, Nelson Jobim, Henrique
Meirelles ou o próprio Gilmar Mendes.
5) O Congresso vive em
um universo paralelo
– O mesmo forno a lenha institucional
que assou a pizza de Temer no TSE também quer esquentar a de Aécio no Congresso
Nacional. O presidente do Conselho de Ética do Senado Federal, João Alberto
Souza (PMDB-MA), disse que não sente que há um clima para apoiar o afastamento
de Aécio. ”O que eu sinto é que o Senado não concorda com o afastamento do
senador. Isso eu tenho visto muito. Eles questionam por que afastar? Por qual
argumento?” Diz que precisa verificar, primeiro, se os áudios são verdadeiros –
afinal de contas, o nobre senador mineiro diz que houve armação.
O que essas lições
juntas nos ensinam?
Que
criminoso mesmo, neste país, é Rafael Braga, preso durante as manifestações de
junho de 2013 por portar água sanitária e Pinho Sol. E, depois, preso novamente
por, segundo a polícia, carregar uma pequena quantidade de drogas – o que ele
nega. Os demais, como não são negros, pretos e pobres, podem fazer o que
quiserem.
http://racismoambiental.net.br/2017/06/10/tse-perdoa-temer-cinco-grandes-licoes-de-como-funciona-o-brasil-por-leonardo-sakamoto/
Nenhum comentário:
Postar um comentário