O
senador afastado Aécio Neves, embora vivendo o seu inferno astral por conta das
denúncias do dono da JBS, ainda tem muito poder neste país, pelo menos no
Judiciário, conforme se pode observar no comportamento cauteloso do Supremo
Tribunal Federal quando alguma ação o envolve na Suprema Corte. Depois de
alguns anos superblindado no Judiciário e na mídia, o que o deixou inteiramente
à vontade para deflagrar e alimentar o processo golpista que culminou com a
destituição da presidenta Dilma Rousseff, ele finalmente foi pego com a mão na
botija, graças à gravação de Joesley Batista, que cansou de lhe dar dinheiro.
E
hoje, afastado do Senado por decisão do ministro Edson Fachin, vive recluso em
casa, o que, no entanto, não o impede de reunir com seus companheiros de
tucanato e tentar preservar o seu poder. Parece que está de férias, enquanto
aguarda a decisão do STF que caminha a passos de cágado, sem perder nenhuma de
suas regalias, apenas distante dos holofotes e sem os salamaleques dos seus
admiradores, profundamente decepcionados com suas ações de rapinagem.
Enquanto
o ministro tucano Gilmar Mendes sempre procurou preservá-lo, anulando
tentativas de incriminá-lo, os demais integrantes da Suprema Corte parecem
temê-lo. Aparentemente nenhum deles tem coragem de tomar decisões isoladas
contra ele, preferindo jogar o problema para o plenário, como se fosse uma
batata quente que não conseguem segurar. O ministro Edson Fachin, por exemplo,
relator da Lava-Jato no STF, preferiu lançar nas costas do colegiado a responsabilidade
pela prisão do mineirinho, que lhe fora solicitada pelo Procurador Geral da
República, Rodrigo Janot. Do mesmo modo, o ministro Marco Aurélio Melo mandou
para a 1ª. Turma do Supremo o pedido da defesa da irmã de Aécio, Andréia Neves,
para revogação da sua prisão preventiva. Afinal, eles tem medo de quê? Por que
tanta cautela e relutância nos casos que envolvem o candidato derrotado nas
eleições de 2014. Por que a Corte demora tanto na tomada de decisão quando se
trata do ex-presidente nacional do PSDB?
Ao
mesmo tempo em que o STF vai empurrando de barriga as denúncias contra Aécio
Neves e Michel Temer, o pessoal da Lava-Jato acelera o processo contra Lula,
com acusações que parecem brincadeira, tentando desesperadamente retirá-lo de
circulação para que não volte ao Palácio do Planalto nas próximas eleições. As
acusações contra ele e Dilma é de que "sabiam" do esquema de
corrupção em órgãos do governo, em especial na Petrobrás. Mesmo induzidos a
acusá-lo, condição para obterem o benefício da prisão domiciliar, nenhum
delator nunca disse que deu um centavo de propina a Lula ou Dilma ou que eles
tivessem recebido algum dinheiro sujo, ao contrário do que acontece com Temer e
Aécio. E quando alguém inventa uma historinha para fazer alguma acusação, gaguejando
e visivelmente constrangido, diz apenas que eles (Lula e Dilma)
"sabiam".
Afora
o "sabia", outra acusação a Lula é a de que ele teria recebido
imóveis como propina, como o tríplex do Guarujá, o sitio de Atibaia e um
terreno para o Instituto Lula. Nenhuma das escrituras, que é o documento legal
de propriedade, está em nome do ex-presidente, mas os diligentes integrantes da
força-tarefa da Lava-Jato insistem que ele é o dono, mesmo com a negativa de
mais de 70 testemunhas, porque existem fotos dele visitando o apartamento. Se
isso fosse, efetivamente, alguma prova de propriedade, todo mundo que visitou o
Palácio da Alvorada e tirou fotos poderia reivindica-lo como seu patrimônio.
Parece que estão brincando de Justiça, porque o seu entendimento contraria tudo
o que os juristas defendem. O coordenador da força-tarefa, o procurador Deltan
Dallagnol, revela em seu livro a sua tese sobre "prova" e
"julgamento". Segundo ele, "prova" é argumento e
"julgar" um ato de fé. Com esse pensamento, obviamente, não se pode
esperar que haja realmente justiça no caso de Lula.
Dallagnol,
aliás, que inspirou o deputado gaúcho Paulo Pimenta a criar o verbo
"dalanhar", que significa "acusar sem provas", deixou bem
claro em recente artigo publicado na Folha de São Paulo que eles seguem a
orientação de Maquiavel que, entre outras coisas, ensinou que "o mal se
faz de uma vez e o bem em conta-gotas". O ensinamento que eles adotaram,
no entanto, conforme escreveu na Folha, é o seguinte: "Igualdade perante a
lei existe no papel, mas na realidade estamos presos à máxima de Maquiavel: Aos
amigos os favores, aos inimigos a lei". Isso explica, mas não justifica, a
perseguição ao ex-presidente operário, cuja vida foi revirada do avesso pelos
investigadores. Isso talvez explique, também, a foto do juiz Sergio Moro em
animado bate-papo com o senador afastado Aécio Neves, sem economia de sorrisos,
o que é natural numa conversa de amigos.
Mas
enquanto eles procuram desesperadamente algo que possa justificar uma eventual
prisão do líder petista, Temer e Aécio acumulam denúncias, sem muito esforço
para comprovação, e continuam livres, leves e soltos. E o senador Romero Jucá,
entre outros, também investigado por corrupção, continua falando grosso no
Senado, a exemplo de alguns deputados na mesma situação na Câmara Federal,
inclusive tramando para acabar com a Lava-Jato. A cada dia que passa fica mais
nítida a ideia de que o golpe teve, entre outros objetivos, justamente
"acabar com a sangria da Lava-Jato", como disse Jucá a Sergio Machado,
já que Dilma, a exemplo de Lula, fortaleceu a Policia Federal e o Ministério
Público e colocou o dedo na ferida da Petrobrás, quando alertada sobre a
roubalheira ali existente.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/300342
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