Crescer
é bom, mas esse crescimento deve beneficiar a todos e todas, caso contrário não
significa desenvolvimento. Apenas progresso burro.
Fazer
a economia crescer novamente é fundamental para garantir que o país volte a ser
viável. Porém, muitos não se importam em sacrificar a qualidade de vida dos
mais vulneráveis para que isso aconteça. Paradoxalmente acreditam no contrário:
cortando leis que impedem a barbárie é que surgirá a redentora civilização.
Ou
seja, abrindo mão de um patamar mínimo de dignidade aos trabalhadores e
dificultando o acesso à sobrevivência dos mais idosos.
A
economia do país cresceu 1% entre Janeiro e Março em comparação ao trimestre
anterior. Após a informação ser divulgada, Michel Temer correu para dizer que
isso representava o ''renascimento da economia brasileira'' e chamar os
créditos para si.
Coisa
que os analistas do IBGE não cravam, dizendo que é cedo demais para afirmar com
certeza que o país saiu da recessão e isso não foi um soluço causado pelo
excesso de soja. Não é torcida contra, apenas bom senso.
Mas
como temos perseguido essa volta ao crescimento? Aprovando um teto de gastos
públicos que impedirá investimentos em educação e saúde nos próximos 20 anos.
Permitindo a terceirização ampla e irrestrita. Usando o argumento de que vale
sacrificar a qualidade de vida dos trabalhadores na ativa e dos aposentados em
nome de um ajuste fiscal que garantirá segurança aos investidores.
Nada
se fala sobre a taxação de lucros e dividendos pagos por empresas a indivíduos;
a criação de alíquotas maiores para os mais ricos no imposto de renda e a
isenção dos mais pobres e da classe média; a taxação de grandes fortunas e o
aumento no impostos sobre grandes heranças. Não conseguimos, em muitas cidades,
nem discutir a cobrança de um IPTU progressivo para grandes imóveis.
Poderíamos
aproveitar este momento de crise para que o país voltasse a crescer em outros
padrões. Mas não é isso que está sendo feito. Quando o PIB subir, seguirá
fluindo mais para as mãos dos que puderam comprar ações do que daqueles que
dependerão de salário mínimo ou de programas de distribuição de renda.
Quando
tratamos do tema por essa ótica, sempre aparece a cantilena que “a população
tem que entender que o crescimento do PIB vai beneficiar a todos. Não agora. Em
algum momento''. Os economistas da
ditadura falavam a mesma coisa, mas de uma forma diferente, algo como “é
preciso primeiro fazer o bolo crescer, para depois distribui-lo''. Traduzindo:
Você ajudou a produzir o doce, mas tire a mão dele que não é hora de você
consumi-lo. Hoje, são alguns que vão comer. Vai chegar a sua vez de provar do
bom e do melhor. Enquanto isso, sorria, assista à novela e coma esse biscoito
ultraprocessado.
Adotam
um tom professoral (“A população tem que entender''), como se a elite econômica
fosse composta de seres iluminados, dirigindo-se ao povo, bruto e rude, a fim
de explicar que aquilo que sentem não é fome. Mas sim sua contribuição com a
geração de um superávit primário para que sejam honrados os compromissos do
país.
O
debate sobre o PIB não deveria ser apenas sobre crescimento econômico, mas
sobre qualidade de vida. Que só será efetiva caso não exclua a população mais
pobre dos benefícios trazidos por ele e não seja resultado da dilapidação dessa
mesma população.
As
perguntas que temos que fazer são: estamos conseguindo fazer as mudanças para
melhorar a divisão do bolo, não por igual, mas com ênfase em quem mais precisa
por ter sido historicamente dilapidado? Estamos conseguindo diminuir a
concentração de riqueza na maior velocidade possível? Ou poderíamos ir além e
implementar medidas para que não apenas os filhos dos mais pobres usufruam de
uma boa vida em um futuro distante, mas eles próprios, aqui e agora?
Perguntas
que cismam em não ser respondidas por nossa economia machista, forjada por
homens e mulheres inseguros, que acreditam piamente que o que importa é tamanho
e crescimento. E não o prazer que ele, uma vez distribuído, realmente
proporciona.
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/06/01/o-que-deseja-um-pib-grande-para-alguns-ou-um-pais-que-de-prazer-a-todos/
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