“Quem
aqui de vocês quando doente, conseguiu ficar mais de três dias de cama, sem ter
que se recuperar antes do tempo previsto, para retomar seus compromissos?”.
Essa foi a provocação inicial feita durante o primeiro encontro do Iyá
Maternância grupo de mulheres que discute maternidade negras aqui em São Paulo,
em outubro do ano passado.
E
é isso. Se mulher negra tem que ser forte, mães negras não podem ser dar “ao
luxo” de adoecer. A imagem da escrava negra sempre disponível e pronta para
servir, ainda existe, mesmo em lares afro-centrados. São as feridas da
escravidão ainda abertas e cutucadas diariamente, e que se traduzem em muito
dor, baixa autoestima e a sensação de que não merecemos ser amadas.
Quem
já participou de encontros de mulheres negras, sabe o quanto é tocante, o
quanto choramos deixando evidente uma dor coletiva, mas silenciada dentro dos
nossos lares. Temos medo de nos mostrarmos vulneráveis, visto que temos que ser
a solução e nunca o problema ou ainda, pela falta de ter quem se importe.
“Minha
mãe morreu aos 53 anos, de tanto trabalhar. A imagem que tenho dela é de
sofrimento, ela apanhava do meu pai e trabalhava todos os dias da semana, até
que seu coração não aguentou”, disse uma das participantes daquele encontro.
Eu, infelizmente, não acho que esse seja um caso isolado. A maior parte das
famílias negras, são sustentadas por mães exaustas.
Projetos
sobre maternidade negra são urgentes porque a sensação de solidão e abandono
persiste até entre mães jovens. Não nascemos mães. Parir e educar crianças
negras é outro papel que tivemos que assumir sozinhas.
Minha
dúvida é, porque o homem negro é tão ausente nessas questões? Em outros depoimentos ficou evidente que o
pai, negro ou branco, delega a mãe, mais esse fardo, como se só ele tivesse o
direito de usar a carta da Glória Pires e não opinar, passando para nós, mais
uma vez a função de administrar e gerenciar conflitos gerados em situações de
racismo.
Quem
exige das lojas a boneca negra, quem vai à escola para pedir mais diversidade
nos livros paradidáticos ou denunciar o coleguinha racista, quem muda sua
estética para ser referência para os seus filhos é a mãe negra.
As
recompensas por essa doação incansável é essa nova geração de crianças negras
empoderadas.
Mães
negras, como todas as outras, têm dúvidas, medos, se cansam, sentem dor, tem
muitas dúvidas e não têm resposta para tudo, no entanto o racismo é
imperdoável, mesmo com as que ainda carregam seus filhos no ventre. Até a dose
de anestesia no parto pelo SUS é menor quando a mãe tem pele escura.
Enquanto
isso não é um problema para o Estado, nem para os pais, iniciativas como
coletivos de mães negras são o que irá garantir que nossas meninas negras,
sejam mais felizes e amparadas no futuro quando se tornarem mães.
https://mundonegro.inf.br/maes-negras-nao-adoecem/
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