sábado, 1 de abril de 2017

PROTESTO ORIGINAL TEM QUE SER DO PARAGUAI. Por Neggo Tom

O dia 31 de março de 1964 marca um conjunto de eventos ocorridos no Brasil, que culminaram no golpe de estado que depôs o presidente eleito, João Goulart. Para muitos, o país acabava de ser liberto de uma iminente invasão comunista e os militares estariam apenas intervindo constitucionalmente e estabelecendo a ordem e a tão sonhada paz. Há controvérsias. E muitas. O regime de exceção durou mais de vinte anos e os frutos não foram lá tão doces sim. Mas isso já passou. Graças a Deus, hoje, não vivemos numa ditadura e nem corremos riscos de sermos surpreendidos por outro golpe de estado. Opa! Há controvérsias quanto a isso também. E muitas.

Também em um dia 31 de março, só que do atual ano em que vivemos ou que tentamos sobreviver, o presidente intruso e golpista, Michel Temer, sancionou a revelia da vontade popular, a lei da terceirização irrestrita, o que obriga aos trabalhadores a submeterem a vontade do empresariado empregador, com a promessa de que os empregos irão brotar da terra e sob pena de ficarem sem emprego se não aceitarem as suas novas regras. Ou seja, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. No mesmo dia 31 de março de 2017, o congresso paraguaio tentou dar uma pernada na população, aprovando a portas fechadas uma emenda à constituição daquele país, liberando a reeleição do atual presidente, também golpista, Horacio Cartes.

Como podemos perceber, o dia 31 de março possui um tipo de vibração golpista que deveria ser estudada pelos numerólogos e cabalistas. Mas o que realmente precisa ser estudado a fundo é a reação popular frente a esses golpes. Enquanto nos deparamos com uma passividade tupiniquim de fazer vergonha, assistimos ao povo do Paraguai invadir e incendiar o parlamento, lembrando aos seus congressistas, que a vontade e a necessidade popular devem ser ouvidas e respeitadas. Afinal, quem paga os salários dos senhores deputados e senadores é o povo. Povo que no Brasil é o único patrão que obedece a seus empregados e é oprimido por eles.  Sem questionar e sem colocar os seus “subordinados” em seus devidos lugares.

A linha do tempo da história mostra aos mais atentos, que as ideologias, os métodos e as estratégias dos que estão no poder, se repetem. Só mudam as personagens e as circunstâncias, mas a finalidade é a mesma desde sempre. Por exemplo, façamos um comparativo entre a reforma da previdência proposta pelo governo Temer com a Lei do sexagenário instituída pelos bonzinhos senhores de engenho. No período escravocrata antigo, a lei que libertava escravos quando esses completassem 60 anos de idade, foi vista como um deboche e foi motivo de risos, porque raramente um escravizado atingia tal idade devido às condições de açoite e a outras desumanidades que lhes eram impostas. Os poucos que chegavam com vida aos 60 anos eram só enfado e debilitação. Que tipo de liberdade eles desfrutariam?

No modelo escravocrata atual, o governo propõe que o trabalhador escravizado contribua por 49 anos para ter direito a alforria previdenciária. Tomando por base quem comece a contribuir com 22 anos, por exemplo, teremos um cidadão se aposentando aos 71 anos de idade. Isso se não houver nenhum ano de interrupção em suas contribuições. Ou seja, na flor de suas limitações físicas. Imagina um senhor de 70 anos enfrentando um trem lotado, cumprindo oito ou até doze horas de trabalho diárias, como já foi sugerido pelo próprio governo e por empresários ávidos por lucro, para completar o ano que de contribuição que falta para ele aposentar. Isso não é covarde e desumano?

Ainda fazendo um comparativo, cito a função designada pelo estado à polícia militar de ontem e a de hoje. A polícia militar foi criada na época do Império, com a principal finalidade de proteger a propriedade dos senhores de engenho que se sentiam ameaçados com a onda abolicionista que se aproximava. Ou seja, a sua função de origem era manter os pobres (negros escravizados e os possivelmente alforriados) distantes da elite escravocrata e de seus bens, conquistados graças ao mar de sangue derramado legalmente, nos açoites e em outras atrocidades as quais os escravos eram submetidos para lhes dar lucro e riqueza. Curiosamente hoje em dia, quem mais sofre com a repressão policial são os pobres e os pretos, em especial os oriundos dos guetos e comunidades.

Quando há manifestações contra os interesses da elite, a polícia é instruída pelo estado a agir de forma enérgica e violenta. Quando as manifestações são favoráveis aos interesses da classe dominante, o que vemos é uma polícia sorridente e “sefiante”, garantindo aos manifestantes total segurança em seu protesto. A culpa é da polícia? Não. Ela é subordinada ao estado, que a programa para defender os seus interesses e enxergar o povo descontente com a opressão sofrida, como vagabundos e baderneiros que representam uma ameaça a ordem pública.  É assim desde o Império. O que podemos questionar é o fato da polícia não se dá conta de que também faz parte do povo, que ganha mal, é explorada e está submissa ao absol utismo que o estado quer impor, disfarçado de democracia.

O que falta é uma verdadeira união popular, que possibilite uma verdadeira revolução no país, cujos interesses sejam o bem da coletividade. A revolução francesa se deu, também, pela revolta dos camponeses com o aumento do preço do pão. A revolta popular tomou a Bastilha, libertou os prisioneiros que eram opositores ao governo e obrigou a Rei a convocar uma assembléia urgente para discutir as reivindicações do povo. Aqui o povo brasileiro está esperando que lhes falte o pão para tomar uma providência. Ou na pior das hipóteses, já que o mal já foi sacramentado, nos restaria terceirizar manifestantes paraguaios para que eles invadam o congresso daqui e façam com que os nossos parlamentares golpistas se lembrem, de que numa democracia, o povo é soberano.

Pensando bem, precisamos rever o nosso conceito com relação às coisas vindas do Paraguai. Eu acho que quem faz protesto falsificado somos nós.

Revolução já!


http://www.brasil247.com/pt/colunistas/neggotom/288198/Protesto-original-tem-que-ser-do-Paraguai.htm

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