O
dia 31 de março de 1964 marca um conjunto de eventos ocorridos no Brasil, que
culminaram no golpe de estado que depôs o presidente eleito, João Goulart. Para
muitos, o país acabava de ser liberto de uma iminente invasão comunista e os
militares estariam apenas intervindo constitucionalmente e estabelecendo a
ordem e a tão sonhada paz. Há controvérsias. E muitas. O regime de exceção
durou mais de vinte anos e os frutos não foram lá tão doces sim. Mas isso já
passou. Graças a Deus, hoje, não vivemos numa ditadura e nem corremos riscos de
sermos surpreendidos por outro golpe de estado. Opa! Há controvérsias quanto a
isso também. E muitas.
Também
em um dia 31 de março, só que do atual ano em que vivemos ou que tentamos
sobreviver, o presidente intruso e golpista, Michel Temer, sancionou a revelia
da vontade popular, a lei da terceirização irrestrita, o que obriga aos
trabalhadores a submeterem a vontade do empresariado empregador, com a promessa
de que os empregos irão brotar da terra e sob pena de ficarem sem emprego se
não aceitarem as suas novas regras. Ou seja, se correr o bicho pega, se ficar o
bicho come. No mesmo dia 31 de março de 2017, o congresso paraguaio tentou dar
uma pernada na população, aprovando a portas fechadas uma emenda à constituição
daquele país, liberando a reeleição do atual presidente, também golpista,
Horacio Cartes.
Como
podemos perceber, o dia 31 de março possui um tipo de vibração golpista que
deveria ser estudada pelos numerólogos e cabalistas. Mas o que realmente
precisa ser estudado a fundo é a reação popular frente a esses golpes. Enquanto
nos deparamos com uma passividade tupiniquim de fazer vergonha, assistimos ao
povo do Paraguai invadir e incendiar o parlamento, lembrando aos seus
congressistas, que a vontade e a necessidade popular devem ser ouvidas e
respeitadas. Afinal, quem paga os salários dos senhores deputados e senadores é
o povo. Povo que no Brasil é o único patrão que obedece a seus empregados e é
oprimido por eles. Sem questionar e sem
colocar os seus “subordinados” em seus devidos lugares.
A
linha do tempo da história mostra aos mais atentos, que as ideologias, os
métodos e as estratégias dos que estão no poder, se repetem. Só mudam as
personagens e as circunstâncias, mas a finalidade é a mesma desde sempre. Por
exemplo, façamos um comparativo entre a reforma da previdência proposta pelo
governo Temer com a Lei do sexagenário instituída pelos bonzinhos senhores de
engenho. No período escravocrata antigo, a lei que libertava escravos quando
esses completassem 60 anos de idade, foi vista como um deboche e foi motivo de
risos, porque raramente um escravizado atingia tal idade devido às condições de
açoite e a outras desumanidades que lhes eram impostas. Os poucos que chegavam
com vida aos 60 anos eram só enfado e debilitação. Que tipo de liberdade eles
desfrutariam?
No
modelo escravocrata atual, o governo propõe que o trabalhador escravizado
contribua por 49 anos para ter direito a alforria previdenciária. Tomando por
base quem comece a contribuir com 22 anos, por exemplo, teremos um cidadão se
aposentando aos 71 anos de idade. Isso se não houver nenhum ano de interrupção
em suas contribuições. Ou seja, na flor de suas limitações físicas. Imagina um
senhor de 70 anos enfrentando um trem lotado, cumprindo oito ou até doze horas
de trabalho diárias, como já foi sugerido pelo próprio governo e por
empresários ávidos por lucro, para completar o ano que de contribuição que
falta para ele aposentar. Isso não é covarde e desumano?
Ainda
fazendo um comparativo, cito a função designada pelo estado à polícia militar
de ontem e a de hoje. A polícia militar foi criada na época do Império, com a
principal finalidade de proteger a propriedade dos senhores de engenho que se
sentiam ameaçados com a onda abolicionista que se aproximava. Ou seja, a sua
função de origem era manter os pobres (negros escravizados e os possivelmente
alforriados) distantes da elite escravocrata e de seus bens, conquistados
graças ao mar de sangue derramado legalmente, nos açoites e em outras
atrocidades as quais os escravos eram submetidos para lhes dar lucro e riqueza.
Curiosamente hoje em dia, quem mais sofre com a repressão policial são os
pobres e os pretos, em especial os oriundos dos guetos e comunidades.
Quando
há manifestações contra os interesses da elite, a polícia é instruída pelo
estado a agir de forma enérgica e violenta. Quando as manifestações são
favoráveis aos interesses da classe dominante, o que vemos é uma polícia
sorridente e “sefiante”, garantindo aos manifestantes total segurança em seu
protesto. A culpa é da polícia? Não. Ela é subordinada ao estado, que a
programa para defender os seus interesses e enxergar o povo descontente com a
opressão sofrida, como vagabundos e baderneiros que representam uma ameaça a
ordem pública. É assim desde o Império.
O que podemos questionar é o fato da polícia não se dá conta de que também faz
parte do povo, que ganha mal, é explorada e está submissa ao absol utismo que o
estado quer impor, disfarçado de democracia.
O
que falta é uma verdadeira união popular, que possibilite uma verdadeira
revolução no país, cujos interesses sejam o bem da coletividade. A revolução
francesa se deu, também, pela revolta dos camponeses com o aumento do preço do
pão. A revolta popular tomou a Bastilha, libertou os prisioneiros que eram
opositores ao governo e obrigou a Rei a convocar uma assembléia urgente para
discutir as reivindicações do povo. Aqui o povo brasileiro está esperando que
lhes falte o pão para tomar uma providência. Ou na pior das hipóteses, já que o
mal já foi sacramentado, nos restaria terceirizar manifestantes paraguaios para
que eles invadam o congresso daqui e façam com que os nossos parlamentares
golpistas se lembrem, de que numa democracia, o povo é soberano.
Pensando
bem, precisamos rever o nosso conceito com relação às coisas vindas do
Paraguai. Eu acho que quem faz protesto falsificado somos nós.
Revolução
já!
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/neggotom/288198/Protesto-original-tem-que-ser-do-Paraguai.htm
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