Matéria
da Agência Petroleira de Notícias (APN) publicada na última sexta-feira mostra
que o Brasil está entrando em uma nova fase do golpe. Medidas judiciais-penais
para calar críticos estão sendo disparadas para todo lado pelo juiz federal
Sergio Moro. O efeito dessas medidas será de, no médio prazo, instalar a
autocensura no país.
Segue
a matéria
APN – Agência Petroleira
de Notícias
31
de março de 2017
Por
criticar Lava Jato e juiz Sergio Moro, dirigente sindical da CUT Rio é
intimado. Pelo jeito, quem critica os trabalhos e procedimentos da Operação
Lava Jato sofre as consequências através da justiça por crime de opinião.
Assim
como aconteceu anteriormente com o petroleiro Emanuel Cancella, coordenador da
Secretaria Geral do Sindipetro-RJ, o blogueiro Eduardo Guimarães do Blog da
Cidadania, respectivamente convocados e
processados por crime de opinião, o diretor adjunto da Secretaria de Saúde do Trabalhador da CUT –
Rio, Roberto Ponciano, serventuário da Justiça Federal no Rio, recebeu nesta
quinta-feira (30), um Mandado de Intimação expedido pela Polícia
Federal para comparecer no próximo dia
11 dia abril na sede da Superintendência, centro do Rio de Janeiro.
Segundo
a notificação, Ponciano está sendo investigado por possível ocorrência de
delito previsto nos artigos 140 (injúria), 147 (ameaça), 286 (incitação ao
crime) e do Código Penal bem como no Artigo 2º , inciso 1º da Lei nº
12.850/2013 , tendo em vista que pessoas
ainda não identificadas estariam usando perfis em rede sociais par
atentar contra a vida do juiz federal Sergio Moro.
“Escrevo
textos em meu perfil numa mídia social e em sites de opinião criticando sim
procedimentos da Lava Jato e a seletividade do juiz Moro. Faço somente análises
do contexto da investigação, ao criticar como ela acabou por se tornar uma
orquestração política usada por veículos de comunicação e a direita interessados
apenas em demonizar a imagem do Partido dos Trabalhadores e de suas lideranças.
Em momento algum quis injuriar e ameaçar a integridade física do juiz Sergio Moro e de qualquer outra pessoa ou
autoridade envolvidas na investigação. ” –
afirma Roberto Ponciano que também é filósofo e pesquisador marxista, integrante
do PT (RJ).
Confira
um dos textos de Ponciano publicado recentemente no Blog ‘O Cafezinho‘
Moro, Eichman e a
banalidade do mal
Por
Roberto Ponciano, no Blog do Bolchê
O
mais assustador no que está acontecendo no Brasil não é uma questão apenas
política, e ver que em poucos meses, uma democracia que demorou 20 anos para
ser reconstruída pode se esfumar. Alain Badiou deixou claro em sua obra, que a
negligência, a omissão de quem tem o dever de atuar, dos intelectuais e
militantes políticos diante de um Evento é imperdoável. Não é simples omissão,
é cumplicidade, é criminoso.
O
assustador desta história é que o juiz Sérgio Moro não é um grande ator
político, ao fim e ao cabo Moro é um Zé Ninguém (na acepção inclusive reicheana
da miséria psíquica), um juiz de visão política turva, nenhuma envergadura
intelectual, com inteligência limitada e visão zero de sociedade. Um mero
Eichman, executor das ordens superiores.
No
momento não sabemos claramente de quem, mas efetivamente desconfiamos da
cumplicidade. De certo, do próprio Janot, o Procurador Geral da República, que
deveria ter como dever ser o defensor da lei, mas tendo conhecimento dos
pérfidos grampos de Moro, se não os autorizou, ratificou sua “legalidade”.
O
tragicismo tragicômico deste enredo e que nem um dos dois, nem Moro, nem Janot
tem qualquer dúvida que estão perpetrando uma ilegalidade. Os grampos nos
telefones de Lula, Dilma, Jacques Wagner, Rui Falcão não tem nada que ver com a
Lava Jato. Fariam corar de vergonha ou inveja os tribunais de exceção de
nazista e o senador Joseph McCarthy. Ambos sabem que as escutas são ilegais e
imorais e são claramente persecutórias de um partido.
Hannah
Arendt, ao acompanhar o julgamento de Eichman cunhou a famosa frase que é toda
uma teoria “o mal é estrutural”. O mal se torna banal quando um simples
burocrata medíocre como Eichman é capaz de, sem sentir culpa ou remorso, fazer
parte da engrenagem do mal.
Moro
é Eichman, um burocrata medíocre, de passado obscuro e de futuro tenebroso. Não
entra na história como herói, mas pela porta dos fundos, como um obscuro juiz
camisa negra cujo único objetivo e despachar os vagões cheios de prisioneiros
vermelhos. Para que o mal seja banalizado, como nos ensinou Levinas, é
fundamental que o inimigo seja desumanizado.
Em
todos os julgamentos de tribunal de exceção, antes de tudo é necessário retirar
a humanidade do outro. E para que não tenham dúvida, não estou falando só dos
tribunais nazistas e fascistas, o mesmo simulacro de tribunal foi usado nos
julgamentos de Moscou e em outros tribunais “revolucionários” que não julgaram
os indivíduos e seus crimes, mas suas ideias.
Moro
não está investigando nenhum crime, seus atos deixaram de ter qualquer
resquício de legalidade há muito tempo, e ele não se importa em autorizar
gravações ignóbeis e as ceder (sabe-se lá em que condições) a maior rede de conspiração
do Brasil (a TV Goebbels), que precisa repetir uma mentira mil vezes para que
ela se transforme em verdade.
Assim,
assassinam-se as garantias legais. Nenhum de nós é santo, se grampeassem meu
telefone, não sei se iria primeiro para a cadeia ou primeiro para o inferno.
Numa sociedade falso pudica (uma das características mor do fascismo), até os
palavrões ditos em confidência são liberados para um “objetivo maior”.
Desumanizar
o adversário. Para que o terror fascista prevaleça é necessário que o
adversário seja um cão, uma besta leprosa indesejável, que deve ser chutada e
cuspida na rua. Os vermelhos, socialistas, comunistas. E não precisa ser
socialista ou comunista, na sanha fascista do mal, quem estiver contra o
fascismo já ganha sua adesão incondicional às ideias deste inimigo imaginário.
E
tenho bastante moral para gritar contra isto. Quando se começou o linchamento
moral de FHC, pelo suposto filho “ilegítimo”, escrevi pequenos textos dizendo
que assim nos igualávamos às idiotices do “sítio do Lula”. Como democrata, como
socialista, não me interessam as aventuras amorosas de FHC e o que aconteceu
com a vida dele. Nem mesmo se ele tem um apartamento em Paris.
Este
é o cretinismo do pensamento. não se constrói debate democrático e ideais firmes
para um embate político sério assim. Posso sim falar de FHC que ele agora é
cúmplice, quando tinha o dever de falar, vítima de 1964 que foi, quando o
partido fundado por ele embarca na aventura de um golpe de Estado.
No
meio desta tragédia os “inocentes”. Membros da classe média que se pretendem
imparciais, mas que com usa imparcialidade fazem coro às indecentes violações
dos direitos humanos, da privacidade, do vale-tudo. Que correm para futricar as
conversas privadas dos PeTistas (estas bestas-feras inimigas da humanidade),
sequer se partindo da prévia que estas gravações são criminosas. Tudo tirado do
seu contexto e repetido ad nauseam para causar o efeito que está causando.
Uma
parte da classe média imaginada e pedindo “justiça’ a quem rasgou seu papel de
defender a justiça, e outra aderindo à barbárie fascista e agredindo pessoas
que julgam adversárias na rua. O povo do “vai para Cuba”. São duas faces da
mesma moeda. Assim como a classe média alemã que foi cúmplice e beneficiária do
nazismo e só abandonou o sonho do “Reich de mil anos”, quando os aliados
começaram a bombardear as cidades alemãs. Não há perdão para esta cumplicidade
e covardia.
Cumplicidade
e covardia ainda maior de parcela de “esquerdistas” que num momento de transe
histórico e de risco de regressão sonham que estão às portas de uma Revolução e
que Brasília é o Palácio de Inverno. Quixotescos traidores da democracia, serão
os primeiros a serem vitimados.
Vivemos
um momento de terror e transe, os próximos dias serão de confrontação de dois
campos em disputa pelo futuro do país. Um dos campos tem o juiz medíocre Moro,
o conspirador geral da República, Rodrigo Jannot, tem Bolsonaro, Malafaia,
Feliciano. A junção do que há de mais perverso é uma ameaça de morte à
inteligência. Um momento tão grave, que a maior oferta de cursos universitários
não gerou uma juventude com ideias mais avançadas capaz de defender a
democracia e a liberdade.
No
local em que eu trabalho, servidores concursados usando trágicas camisas pretas
entoarem gritos de guerra pró Moro, com juízes que só pensam no próprio umbigo.
Os três estagiários jovens do local em que eu trabalho admiram Bolsonaro e duas
disseram que preferem votar em Bolsonaro a votar em Lula. A mentira dita mil
vezes cria um Zeitgest de espírito do tempo às avessas. Jovens de classe média
ou baixa, que passam a acreditar no fascismo como redentor do nada, como
redentor do caos que ele mesmo cria.
Não,
não está ameaçado somente o Governo como um reles funcionário de quinta
categoria, nosso Eichman dos tempos hodiernos, Sérgio Moro, é capaz de liberar
os trens para os campos de concentração e tornar uma nação inteira refém dele.
Quando um juiz de uma vara de primeira instância consegue poderes absolutos
através da cumplicidade da PGR e da chantagem ilimitada e se coloca acima da
Presidente eleita legitimamente.
A
possibilidade de uma ditadura tecnocrata de burocratas torpes, míopes e
obtusos, sem pauta social, sem projeto e no meio do caos de um país dividido é
uma ameaça à todos os democratas.
Só
há um remédio. Temos que ir para as ruas e vigiar.
Os
fascistas não passarão!
Devemos
defender a democracia pela qual nossos pais sofreram prisão, exílio, tortura e
morte e derrotar o fascismo.
Não
consigo imaginar viver num país onde qualquer Eichman de Curitiba possa golpear
uma nação inteira!
Roberto Ponciano é
Mestre em Filosofia/Ética, em Letras Neolatinas e Especialista em Economia do
Trabalho
*
É
estarrecedor que um texto como esse possa gerar risco, por menor que seja, de
alguém ser preso. O mais estarrecedor é que pessoas de tendências ideológicas
opostas, conservadoras, em nome de suas idiossincrasias possam apoiar uma
barbaridade como essa.
Se
esse tipo de conduta se resumisse ao juiz Sergio Moro, seria muito grave mas
não seria o mais trágico. Bastaria que cada brasileiro tivesse em mente que, no
Brasil, existe uma autoridade acima de críticas. Assim, o magistrado em questão
seria o intocável da República e pronto.
O
problema, porém, é mais embaixo. Esse tipo de ação vai gerar uma
“jurisprudência” entre as autoridades, entre aqueles que podem usar o poder de
Estado em suas vendetas, em suas disputas pessoais.
A
principal característica das ditaduras é a lei valer positivamente ou
negativamente para alguns e não para todos. As ditaduras criminalizam a
divergência, por isso toda ditadura é fascista, seja de esquerda ou de direita.
Se
você for de direita ou de esquerda, progressista ou conservador, rico ou pobre,
jovem ou maduro, não pode compactuar com esse comportamento, com esse uso
abusivo do poder do Estado para oprimir quem dele diverge.
Uma
pessoa perder a liberdade pelo que diz ou pensa é um crime de lesa-humanidade.
E, seja você de que ideologia ou partido ou classe social for, saiba que a
chance de ser atingido por barbaridades como essa irá aumentar dia a dia, se as
pessoas se acovardarem. Não pense que se acovardar ou se acumpliciar com o
arbítrio irá mantê-lo a salvo.
http://www.blogdacidadania.com.br/2017/04/moro-persegue-criticos-para-que-todos-se-autocensurem/
Nenhum comentário:
Postar um comentário