Um
coxinha, essa anomalia que substituiu o cérebro por um HD externo, da mídia,
veio ao meu chat, navegando em desaforos, para me perguntar por que exalto
Cuba.
Meu
caro coxinha!
Imagine
um país sem shoppings, sem Black Friday, sem roupas de etiqueta, restaurantes
de luxo, igrejas promovendo a salvação imediata e curas milagrosas, carros de
último modelo, mansões, iates... Uma merda, não é mesmo?
Agora
imagine um país onde TODOS fazem as três refeições diárias, TODOS estudam ou
estudaram, TODOS têm assistência médica e odontológica, TODOS têm consciência,
e os órgãos internacionais classificam esse país como modelo nos sistemas de
saúde e educação.
Para
que isso seja possível é necessário que não haja uma maioria trabalhando para
sustentar os que consomem nos shoppings, aproveitam o Black Friday, vestem
roupas importadas, freqüentam restaurantes de luxo, passeiam em seus carrões e
iates de luxo e depois vão para suas mansões, descansar, ou para as igrejas,
orar, para agradecer a Deus a graça alcançada.
Você
falou mais, que Cuba é um país ateu.
Não!
É tão laico quanto o Brasil. A diferença está em que lá não existe a profissão
de líder religioso, alguém que vive da fé alheia, fazendo fortuna.
Lá
o sujeito é médico, engenheiro, pedreiro ou carpinteiro durante a semana, e no
final da semana, depois de ter dado o seu quinhão para a sociedade, pode
escolher se vai à praia, se vai encher a cara de rum, jogar beisebol, visitar
um parente ou ir para uma igreja ou macumba, lá chamada de santaneria.
Lá,
liderança religiosa como atividade principal é sinônimo de charlatanismo e
vagabundagem.
Depois
você apontou as filas. É verdade, lá há fila para quase tudo.
Não
sei onde você mora, coxinha, mas imaginemos que no seu bairro morem cinco mil
pessoas.
O
açougueiro do seu bairro compra carne suficiente para quinhentos fregueses,
para não encalhar, e a carne é vendida sem filas.
Já
em Cuba forma-se uma fila de cinco mil pessoas, e todos compram a carne.
Aqui
o poder econômico determina quem vai comer carne. Lá, a ordem de chegada na
fila determina quem vai comer carne primeiro, entre TODOS.
E
vem você com a conversa que em Cuba não há liberdade.
O
que é a liberdade, o direito de ambicionar uma jóia e comprar uma bijuteria,
desejar ir à Europa e não ter dinheiro para tomar um ônibus e ir ao bairro
vizinho, sonhar bacalhoada e comer ovo frito, consultar o índice da Bolsa, o
mercado de capitais, a cotação do dólar, como quem lê livro de ficção?
Ser
livre é ter o direito de admirar o iate alheio, a mansão alheia, as viagens
alheias, o carrão alheio, sabendo que nunca terá igual, ou desejar o que está
ao seu alcance porque ao alcance de todos, igualitariamente?
Lá,
não procure por joalherias, agências de câmbio, corretoras de valores,
shoppings... Os cubanos não conhecem isso. Como não pode ser para todos, não é
para ninguém.
Achei
interessante como você cobrou de Cuba (e de Fidel), como se fosse um país
gigantesco, super armado.
Saiba
que Cuba é uma ilha menor que o estado de Santa Catarina, com uma população
aproximadamente igual à da cidade de São Paulo, mais próxima dos Estados Unidos
(Flórida) que o Rio de Janeiro de São Paulo, e no entanto ousou desafiar e
resistir à maior potência bélica do planeta, mesmo sob boicote internacional,
sem poder comprar nada e vender nada para nenhum país, buscando a auto
suficiência em tudo. Isso por meio século.
Fosse
um povo infeliz ou revoltado e teria mais facilidade de se entregar aos algozes
que um país maior e mais distante. Se não o fizeram é porque estão satisfeitos.
Quanto
a Fidel, leia a sua biografia, ultrapassa muitos heróis de ficção, fabricados
nos laboratórios do capitalismo.
Por
fim, você sabe do que mais gosto em Cuba?
Lá
não tem coxinhas, morreram todos afogados em livros, reencarnando seres
conscientes.
Francisco
Costa
Rio,
26/11/2016.
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