O
Governo Temer parece ter decidido em colocar um fim ao programa Ciência sem
Fronteiras. O ministro Mendonça Filho chegou a comentar que além de o MEC ter
sido entregue quebrado, a valor para mandar 30 mil estudantes ao exterior seria
capaz de cobrir os gastos da merenda de 40 milhões de crianças da educação
básica (argumento leviano e demagogo).
Tal
decisão é míope em sua natureza e demonstra a falta de entendimento de Brasil
de Temer e sua entourage.
Não
é possível um país do escopo do Brasil ter qualquer projeto de crescimento de
longo prazo sem uma formação sólida de mão de obra capacitada para operar a
grande engenharia logística de um país de commodities como o Brasil.
Cortando
o Ciência sem Fronteiras, a longo prazo, o Brasil para.
Disparado
à frente, a maior área de formação dos bolsistas era as Engenharias, seguida de
áreas como biociência, ciências exatas e da terra e TI, todas áreas com déficit
de capacidade e alta demanda no país. Profissionais capacitados no exterior ao
regressarem criam choques irradiantes de conhecimento e geração de inovação,
ensinam em universidades e trazem exemplos e experiências para criar ondas de
novos profissionais qualificados abaixo deles, criando um ciclo virtuoso de
formação acadêmica e profissional.
A
economia do Brasil ainda é tristemente dependente de commodities. É consenso
entre economistas e acadêmicos que a única solução no longo prazo é
industrialização e criação de empresas com produtos de alto valor agregado para
manter o país estável em crises mundiais.
Onde
estarão os profissionais brasileiros capazes de competir em um mercado cada dia
mais globalizado e competitivo, se não há um governo empoderado os criando?
Todos os países da dimensão do Brasil têm investimentos similares e muito
maiores na criação de cérebros, pois entendem que eles conduziram a livre
iniciativa e o governo no futuro.
E
ainda há um elemento mais claro do porque tal alvo foi escolhido para o abate:
O
Ciência Sem Fronteiras tem 26,4% de seus estudantes negros e 25% de famílias
com renda ate três salários mínimos. Tal corte chancela a política do Governo
Temer de relegar ao pobre apenas a perspectiva de se manter pobre, mesmo com
potencial de crescer. Crescer, adquirir competitividade profissional e know-how
internacional fica relegado apenas aos privilegiados.
O
programa do CsF não apenas ajuda o Brasil a começar uma revolução em sua
Ciência e Tecnologia e talvez um dia reverter o cenário de inovação precário
que temos hoje, mas ajudaria também a criar uma comunidade de profissionais
globais criando e trazendo oportunidades de crescimento para o país a longo
prazo, algo tão necessário depois de tantos altos e baixos econômicos de nossa
historia.
O
CsF é um dos únicos programas com consequências no curto, médio e longo prazo e seu encerramento não é apenas
triste, mas do ponto de vista de desenvolvimento econômico e social, é
inaceitável.
Kauan
Von Novack é escritor, estrategista politico e empreendedor internacional do
ramo de alta inovação. Já criou empresas em quatro países, tem três livros
lançados e atualmente trabalha com estratégia política para partidos
progressistas na Holanda.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/288312/Golpes-sem-fronteiras-a-miopia-de-um-governo-sem-legitimidade.htm
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