A
presidenta destituída Dilma Rousseff conclui sua mais longa viagem a um país
desde o golpe, voltando a Harvard, onde havia começado a longa trajetória. O
início havia sido em um seminário que pretendia reunir as mais diferentes
expressões do diversificado panorama político brasileiro e o final foi sobre a
realidade latino-americana contemporânea, ambos em Harvard.
O
fio condutor do discurso da Dilma, ao longo das exposições em 10 das maiores
universidades dos Estados Unidos, em reuniões com movimentos sociais e grupos
de brasileiros, nas entrevistas com as principais publicações da mídia, foi a
denúncia do impeachment como um golpe. Em seguida, ela passou a explicar porque
se deu o golpe.
Três
argumentos fundamentaram essa sua explicação: a misoginia revelada claramente
na linguagem usada na campanha da oposição contra ela; a busca de
"estancar a sangria" que representa a Lava Jato para os membros do
atual governo, o que só seria possível com o golpe contra ela; a recolocação do
Brasil, do ponto de vista econômico, social e geopolítico, nos marcos do
neoliberalismo.
Este
último, para Dilma, foi a razão de fundo do golpe: retornar ao projeto dos anos
1990, que tinha sido interrompido com a vitoria de Lula em 2002. Em seguida ela
resume os principais avanços dos governos que se opuseram à lógica neoliberal,
desde as conquistas sociais até a da retomada do crescimento econômico, da
política externa multipolar.
Suas
intervenções desembocam no "encontro marcado que temos com a democracia em
2018" e com as tentativas de evitar que o povo brasileiro recupere o
direito de decidir por sua própria contra o seu futuro. Dilma chama a atenção
sobre os riscos de nova ruptura, seja via casuísmos, seja pela já derrotada via
do parlamentarismo, seja por alguma forma de condenação, sem fundamentos, do
Lula.
As
exposições da Dilma desembocam naquela que tem sido uma referência central dos
seus discursos e da sua atuação – "A democracia é o lado certo da historia"
– e que a tornaram a principal líder na defesa da democracia no Brasil.
O
balanço geral da sua viagem é extremamente positivo. Encontrou um clima de
recepção favorável, acumulado seja nos argumentos da própria mídia
norte-americana de condenação do governo saído do golpe, seja nos grupos de
brasileiros que se constituíram e se mobilizaram durante a luta de resistência
ao golpe e núcleos acadêmicos muito esclarecidos sobre o que acontece no
Brasil.
Mas
é certo também que a consistência do discurso da Dilma, combinando argumentos
políticos com a força moral da sua trajetória, fortaleceu ainda mais a visão
democrática sobre o que aconteceu e segue acontecendo no Brasil. Essa
consistência se contrapõe a todo o noticiário sobre o governo golpista, seus atentados
à democracia, aos direitos da população, os vexames da sua presença
internacional, a mediocridade de todos os seus representantes.
Dilma
se consolida, ao lado da liderança na defesa da democracia, como uma presença
internacional relevante, demandada por todos os lados, aplaudida, reverenciada
mesmo, reconhecida como uma estadista, uma liderança internacional não apenas
na defesa da democracia, mas também na denuncia da financeirização da economia
em escala mundial, das desigualdades sociais que ela incrementa e nos atentados
à democracia que implica.
Dilma
tem agora de encontrar formas de combinar todos os convites que tem de tantos
países com a sua indispensável presença na luta democrática brasileira. Nesta
viagem ficou comprovado como sua imagem de líder política só cresceu desde o
golpe e se afirmou, junto com Lula, como as duas presenças fundamentais com que
conta o povo brasileiro para reconquistar a democracia, o desenvolvimento
econômico e a justiça social.
(Artigo originalmente
publicado na Rede Brasil Atual)
http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/291614/Dilma-mostrou-nos-EUA-o-Brasil-real.htm
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