O
golpe vive dias difíceis. O problema já não é somente o estágio irreversível da
crise de legitimidade e da desmoralização da cleptocracia comandada desde o
Planalto por Temer, Padilha e Moreira e de dentro da prisão por Eduardo Cunha.
A
perda de credibilidade se tornou sistêmica, atinge toda a engrenagem golpista:
a força-tarefa da Lava Jato, o judiciário, o MP, o Congresso, a PF e a mídia
golpista; em especial a Globo.
A
população percebe com nitidez o facciosimo do Moro, Gilmar, Janot, Dalagnoll na
perseguição ao Lula e ao PT; e, ao mesmo tempo, se enoja com o jogo cínico para
o salvamento da bandalha corrupta com medidas excepcionais, como o foro
privilegiado, o congelamento de investigações, a prescrição de condenações do
Aécio e a "desmistificação" do caixa 2, que é a proposta juiz tucano
do STF, apoiada por FHC, para legalizar a corrupção.
Os
objetivos do golpe também estão escrachados. O pacto social de 1988 foi rompido
para dar lugar ao mais devastador processo de destruição das conquistas históricas
dos trabalhadores, de renúncia à soberania nacional e de aniquilamento das
riquezas do país.
Seria
impossível esconder por muito tempo um processo de tal proporção. O senso comum
começa perceber claramente a destruição da economia nacional, a entrega das
riquezas [gás e petróleo] e das atividades econômicas [aeroportos, engenharia e
terras] a estrangeiros, assim como os retrocessos ao padrão de exploração
oligárquica do século 19 [congelamento dos gastos sociais por 20 anos, lei da
terceirização e reformas da previdência e trabalhista].
O
fracasso das entidades fascistas financiadas pelo grande capital – Vem pra rua
e MBL – nas manifestações de domingo passado [26/3] é prova disso. A classe
média, envergonhada, desta vez não saiu às ruas para engrossar a onda fascista;
sente-se cada vez mais incômoda na canoa do golpe, acredita cada vez menos nas
falácias veiculadas pela Rede Globo.
Os
desentendimentos no interior do bloco golpista são crescentes. Com a
imponderabilidade reinante – indefinições sobre a evolução da Lava Jato, o fim
do governo Temer, a cassação da chapa no TSE, eleição indireta no Congresso,
antecipação da eleição de 2018 ou seu cancelamento – cada bando defende o seu
lado, num verdadeiro salve-se quem puder.
Os
golpistas atiraram o Brasil no precipício e perderam completamente a capacidade
de comandar o país. O usurpador Michel Temer compra a sobrevida no cargo
entregando ao sistema financeiro internacional a agenda de restauração
ultraneoliberal no país.
A
resistência democrática, no seu início encabeçada preponderantemente pela
vanguarda social e cultural, militância partidária, intelectualidade,
juventudes e movimentos de mulheres, está sendo engrossada com a adesão
crescente dos pobres e excluídos, bem como dos segmentos das classes médias
aturdidas com o golpe.
A
resistência democrática está adquirindo uma dimensão popular, de mobilização de
massas, como se observou nos protestos multitudinários de 8 e 15 de março e no
ato do Lula na inauguração da transposição das águas do São Francisco na cidade
paraibana de Monteiro.
O
povo subalterno se educa politicamente, entende os objetivos do golpe e passa
ao ativismo político porque compara a atual realidade dramática de desemprego,
desamparo e perda de direitos sociais, com o progresso de vida experimentado na
era Lula – pleno emprego, aumento real dos salários, capacidade de consumo,
bolsa família, PROUNI, FIES, minha casa minha vida, mais médicos etc.
O
golpe está na encruzilhada. É a primeira vez, em todo o período da conspiração
golpista e da implantação da cleptocracia no Planalto, que os sinais são de
potencial mudança da correlação de forças em favor da resistência e do campo
democrático-popular.
A
alteração da conjuntura estreitou as margens de manobra do bloco golpista, que
se defronta com pelo menos três dilemas: ou [1] antecipa seu fim e propõe uma
PEC para convocar eleições diretas; ou [2] sobrevive até 2018 com Temer ou
outro ilegítimo eleito pelo Congresso, porém num ambiente de altíssima
conflitividade e tensão social, ou [3] aprofunda o regime de exceção, a repressão
e a violência institucional, inclusive cancelando as eleições de 2018, caso não
consigam implodir a candidatura do ex-presidente Lula.
O
crescimento das mobilizações sociais, a radicalização da luta política e o
êxito da greve geral de 28 de abril são fatores que podem antecipar o desenlace
da luta contra o golpe no período imediato.
Publicado
originalmente no Facebook do autor
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/jefersonmiola/287371/O-golpe-na-encruzilhada.htm
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