A
escritora e professora Elika Takimoto recebeu um telefonema do ex-presidente
Lula como forma de agradecimento pelo texto “Prometo não tocar no assunto“.
Elika, professora de um CEFET, conta como percebeu a chegada da inclusão social
e a maior diversidade em sala de aula durante o governo Lula.
“Pensei:
‘aproveite esse momento, Elika. Fale, pergunte… agarre a oportunidade. Quantas
pessoas você acha que recebe uma ligação do Lula?’, refleti e tentei me
acalmar.” conta Elika. Leia o post em que Elika narra o telefonema:
“Deixe
de bobeira, companheira. Sou eu.”
Estava
eu lendo as mensagens que recebo inbox (são inúmeras e não dou conta de
responder todas) quando vejo a de uma moça dizendo que trabalha no Instituto
Lula e gostaria de conversar comigo sobre um texto que escrevi cujo link para
quem não viu segue ao final
A
moça que se chama Gabriella pediu meu telefone. Dei uma estalqueada de leve
nela para saber com quem estava conversando e se poderia fornecer meu número.
Vi várias fotos no perfil dela com o Lula. Quem tira foto com o Lula não pode
ser má pessoa, pensei. Quem acreditou e acredita nele torce para que a
desigualdade social diminua, fica feliz em ver negros em universidades e
pessoas saindo da linha da miséria. Então, concluí, ela tem cara de quem vai
fazer um bom uso do meu telefone e do meu voto de confiança.
Em
menos de cinco minutos o telefone tocou.
–
Elika, Gabriella do Insititulo Lula. Um minuto que vou transferir sua ligação.
–
Ok. – respondi pacientemente.
–
Alô, Elika. Oi, querida. Aqui quem fala é o Lula.
Abre
parêntese.
Não
sei o que você pensa a respeito dessa figura histórica, mas uma coisa é fato:
quem estava do outro lado do telefone foi o presidente mais amado do Brasil
cuja vida se confunde com a luta de toda uma geração de brasileiros que sonha
com um país socialmente mais justo.
Não
convém enumerar todos os prêmios e condecorações que ele recebeu não somente
aqui como em vários outros países. A título de exemplo, no Brasil, Lula recebeu
a medalha de ordem do Mérito Militar, Naval, Aeronáutica, a Ordem do Cruzeiro
do Sul, do Rio Branco, a ordem do Mérito Judiciário e da Ordem Nacional do
Mérito. Recebeu da UNESCO, em 2008 o Prêmio da Paz; em 2009 foi destacado como
O Homem do Ano nos jornais Le Monde e o El País. Em 2012 recebeu o prêmio de
Estadista Global em Davos na Suíça. Mas há N outros que não citarei para a
postagem não virar uma biografia dele.
O
que quero dizer a vocês é que eu estava falando com um homem que mudou o
destino de muitos brasileiros e no qual votei em todas as vezes em que ele se
candidatou para presidente por acreditar no projeto que ele apresentou.
Não
estou dizendo que quem me ligou foi o homem mais honesto do Brasil, mas sem
dúvida, o homem que proibiu em seu governo a palavra “gasto” quando o assunto
era Educação e Saúde. O responsável pelo Brasil ter saído do mapa da fome e por
hoje ter nas salas de aula do meu CEFET, negros e pessoas carentes cujo destino
foi mudado por uma oportunidade. Como disse no meu texto supra citado “Se
ganharam os cotistas com a oportunidade, ganhamos muito mais os professores por
entender que capacidade intelectual nada tem a ver com a nota de uma prova de
seleção e mais ainda enriqueceram os outros alunos por testemunhar o esforço de
quem vive em outra realidade.”
Fecha
parêntese.
–
Mas o quê? Como?! Lula!!! Não acredito!!!!!
–
Acredite, querida. Estou te ligando porque quero te parabenizar e agradecer por
esse texto maravilhoso que você escreveu.
–
Mas quem me garante que não é um imitador? No Brasil inteiro tem gente que
imita o Lula!
–
Deixe de bobeira, companheira. Sou eu.
Daí,
meu povo, eu saí de mim. Meu coração acelerou. Se fosse o Fernando Henrique me
ligando eu ia ficar feliz porque tenho umas coisas para dizer para ele. Mas
Lula?! Meodeos. Não queria deixar a emoção estragar aqueles minutos. Pensei:
“aproveite esse momento, Elika. Fale, pergunte… agarre a oportunidade. Quantas
pessoas você acha que recebe uma ligação do Lula?”, refleti e tentei me
acalmar.
–
Presidente, – assim o chamei no impulso – eu quero lhe dizer que quem merece
ser parabenizado por tudo não sou eu e sim você. Em nome de todos os
brasileiros que hoje comem, se vestem e estudam, eu quero dizer: muito
obrigada, Lula. E receba todo meu sentimento pelo falecimento de Dona Marisa.
–
Obrigada, companheira. Mas quero te dizer umas coisas. Eu não sou de sair
ligando para todo mundo. Mas seu texto me tocou muito. Percebi sinceridade nele
inteiro e sua angústia com tudo o que está acontecendo. Liguei para te abraçar,
agradecer e dizer para continuar sendo quem você é porque você é uma pessoa
maravilhosa demais.
Ah
gente… sinto muito. Chorei como um bezerro com ele do outro lado da linha e
soluçando falei:
–
Presidente, eu não quero deixar passar essa oportunidade e preciso te fazer uma
pergunta. O nosso país anda esquisito, você viu pelo meu texto que ando
sofrendo pressão para deixar de falar sobre política, todo dia uma notícia
desse governo que vai de encontro ao projeto de diminuição da desigualdade
social… Eu não tenho vontade de desistir de lutar porque sou dessas, meu
presidente, de insistir nos sonhos. Mas, por vezes, lutamos apenas para não
deixar o inimigo nos abater sem que resistamos, ainda que a morte seja certa.
Isso posto: Lula, como você vê o futuro do nosso país? Sua luta está sendo
movida pela esperança de ainda tocar para frente o seu projeto ou apenas para
ter uma morte política digna?
A
resposta veio imediata:
–
Companheira, acredite que há muita coisa boa para acontecer. Estou animado e
muito otimista.
E
me disse muito mais coisas que acho que não convém falar aqui. Frases boas de
serem ouvidas, sabe? Dessas que dá vontade da gente fazer muito mais do que
anda fazendo pelo próximo.
Enfim,
gente. É isso. Lula me ligou, disse que sou maravilhosa e trouxe a força que me
faltava para continuar lutando por uma sociedade mais justa.
Felicidade
é pouco. O que sinto não tem nome.
Vou
ali agora enfartar e já volto.
Zerei
a vida…
Leia
o post que motivou o telefonema do ex-presidente Lula
PROMETO NÃO
TOCAR NO ASSUNTO
Fui
orientada por várias editoras que entraram em contato comigo a não falar de
política nas redes sociais caso queira ser uma escritora vendável. Perguntei: e
sobre o que posso escrever? Disserte sobre seu trabalho, Educação, ouvi como
resposta. Ou sobre os seus filhos, sugeriram.
Pois
muito bem, trabalho no CEFET há dez anos como professora de física e há um ano
como coordenadora. Cheguei lá pouco depois de Lula ter sido eleito presidente.
No dia de minha posse, o diretor falou que ali eu não iria encontrar
professores infelizes. Achei estranho, pois vinha da rede estadual e da
particular onde professor que não reclama nunca havia visto.
O
tempo passou. De fato, nunca vi ali professor reclamando das condições de
trabalho. Vi as salas ganhando projetores multimídia e quase todas serem
climatizadas. Tudo o que pedimos para que nosso laboratório de física ficasse
mais moderno e atualizado conseguimos. Fiz meu doutorado com redução de carga
sem redução de salário. Viajei para congressos e simpósios pelo Brasil inteiro
tudo bancada pelo CEFET. Jamais, em tempo algum, lembro-me de querer fazer algo
ali dentro para os alunos e para meu crescimento intelectual e ser freada.
Há
quatro anos, minha sala viu a diversidade. O sistema de cotas foi implementado
no meu CEFET. Se ganharam os cotistas com a oportunidade, ganhamos muito mais
os professores por entender que capacidade intelectual nada tem a ver com a
nota de uma prova de seleção e mais ainda enriqueceram os outros alunos por
testemunhar o esforço de quem vive em outra realidade.
Sempre
quis dar a melhor educação para meus filhos. Nara se formou ano passado pelo
CEFET e ontem, depois de chegar da rua e ter visto o quão alienante é uma
escola particular me disse: o CEFET deveria ser obrigatório para todos. As
escolas particulares deveriam ser proibidas. Exageros à parte, ela quis dizer
que lucrar com educação (e saúde) deveria ser, no mínimo, digno de vergonha.
Moro
em Madureira, Yuki tem amigos na escola em que estuda (todos brancos) e, para
equilibrar esse universo, levo meu filho sempre no Parque onde a diversidade
impera.
No
Parque Madureira, semana passada, Yuki conversava com um menino da idade dele
(dez anos) que mora na Serrinha. O coleguinha viu a mãe ser estuprada e estava
contando para a gente como foi. Ele estava acompanhado do irmão mais velho que
estava “andando de skate não sei onde” enquanto ele brincava no parquinho.
Disse o menino que o irmão vai matar quem fez isso com a mãe.
Hideo,
meu filho mais velho, se formou agora em música. Está doido procurando emprego
– assim como seus amigos que se formaram em engenharia, psicologia e ciências
socias. Os editais para cultura estão fechados. Sabe Deus com que idade eles
vão se aposentar.
Desde
o meio do ano passado, recebo orientações de meus chefes imediatos para ajudar
na contenção de despesas. Vi professores querendo ir a congressos e
impossibilitados por falta de verba. Vai piorar, avisaram.
Temos
toda a liberdade para usar metodologias diferentes para ensinar não só no CEFET
como em todo o Brasil como já garante a Constituição. Mas essa nova reforma do
Ensino Médio engana e toma para si esse discurso que ‘agora’ as escolas vão
poder trabalhar de forma mais livre sendo que, em breve, veremos o aumento da
dificuldade dos pobres chegarem às universidades como deixa claro o texto dessa
Reforma.
Pronto.
Falei do meu trabalho, sobre Educação e sobre meus filhos. Seguirei a
orientação e continuarei dissertando sobre esses temas. Trarei números de
quantas escolas técnicas foram criadas em dez anos e quantas universidades
novinhas em folha visitei. Falarei também sobre a quantidade de amigos que
tenho concursados e sobre Lucimar, minha empregada, e suas colegas de trabalho
que estão felizes recebendo tudo o que tem direito.
Mas
evitarei falar sobre política. Prometo.
http://www.pt.org.br/lula-a-escritora-deixe-de-bobeira-companheira-sou-eu/
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