De
escândalo em escândalo o país, ou pelo menos a sua parte mais inteligente, vem
desmistificando alguns paradigmas forjados à base de mentira e ignorância. E
olha que nesse particular não estou nem falando dos imbecis que afirmavam que a
JBS era do Lulinha.
Com
a deflagração da Operação Carne Fraca ficou comprovado – porque saber muita
gente já sabia – que os grandes conglomerados da indústria alimentícia
brasileira sempre se utilizaram da corrupção, essa grande “expertise” do
mercado nacional, para burlar leis, ignorar regras e, claro, maximizar lucros.
Assim
é o capitalismo selvagem. O lucro, a sua única razão de existir, não admite
empecilhos. E por “empecilhos” entenda-se toda e qualquer forma de legislação
em vigor que o impeça, seja de que maneira for, de alcançar os seus fins.
Trabalho
escravo, salários miseráveis, desmatamento e emissão de gases poluentes,
sonegação de impostos, corrupção de agentes e órgãos fiscalizadores, violação
de regras internacionais de medidas fitosanitárias e… mistura de papelão e
carne estragada a produtos com “rigoroso padrão de fiscalização” são exemplos
de práticas do famoso “livre mercado”.
É
incrível que num país como o Brasil sejam exclusivamente as empresas públicas
as acusadas de ineficiência operacional e de fontes de corrupção.
O
que vem se mostrando no decorrer dos anos é que são justamente as grandes
corporações privadas as que mais incidem na dependência de recursos públicos e,
o que é pior, na proliferação da corrupção desenfreada que habita todos os
poderes de nossa República Federativa.
Bastaria
citar as montadoras de automóveis que não sobrevivem sem incentivos
governamentais ou, num caso ainda mais emblemático, as operadores de telefonia
que, privatizadas a preço de banana para garantir a eficiência do setor, hoje
imploram um aporte público de mais de R$ 100 bilhões.
Fiquemos
apenas com o caso da BRF. A gigante que forma o oligopólio no setor surgiu da
união comercial da Sadia e Perdigão. Essa união, por sua vez, só se deu em
função da crise financeira enfrentada pela Sadia. Neste negócio
multimilionário, muito dinheiro público foi investido em forma de empréstimo
subsidiado. O resultado do investimento estatal está aí.
Se
a economia já se apresentava um desastre, a coisa agora tende a piorar. A
exportação de alimentos é um mercado especialmente sensível uma vez que trata
de saúde pública. Mercados importantes para o setor como União Europeia e EUA
já pediram informações ao governo brasileiro sobre o caso.
E
é exatamente aí que vamos ser, mais uma vez, motivo de piada internacional.
Como um governo ilegítimo formado a partir de um golpe de Estado sem qualquer
credibilidade internacional irá explicar uma fraude dessas proporções quando o
seu ministro da Justiça, Osmar Serraglio, está envolvido com o caso?
Todos
os setores progressistas desse país alertaram sobre a podridão do governo Temer
em todas as suas formas. A carne que consumimos diariamente é apenas mais um
aperitivo dessa insanidade posto à mesa.
Aos
envolvidos, sirvam-se.
Carlos
Fernandes
No DCM
http://www.contextolivre.com.br/2017/03/a-carne-estragada-falacia-da-eficiencia.html
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