Como
muitos jovens de escolas públicas em meados dos anos 2000, Rita Garrido nem
sonhava em continuar os estudos após terminar o ensino médio. Para ela, a
educação superior era algo exclusivo aos mais ricos. Hoje, uma década à frente,
acaba de se formar em jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em
São Leopoldo (RS).
O
seu esforço pessoal, sabe ela, foi fundamental. Mas ela agradece a uma outra
pessoa pelo feito: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os seus
programas de inclusão social e educacional.
Moradora
de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), Rita, 26 anos, rompeu
uma barreira familiar de nunca ter estado em um banco universitário. O seu
ineditismo se deu graças ao Enem, ao ProUni e ao Fies, todos programas criados
pelo governo Lula.
Colação de grau da
jornalista
“Eu
só tive vontade de fazer faculdade quando fiquei sabendo dos programas de
inclusão. Foi aí que percebi que eu poderia continuar a ser uma estudante. No
começo eu queria fazer cinema, mas meus pais acharam que eu não teria mercado
de trabalho. Então decidi estudar jornalismo”, lembra.
Ela
prestou Enem e conseguiu uma bolsa de 50% do Prouni. Mesmo pagando metade do
curso, a universidade continuava muito cara e ela precisou conciliar os estudos
com dois trabalhos para pagar a mensalidade. Na reta final da graduação,
exausta da rotina pesada, solicitou o auxílio do Fies, até se formar em
dezembro de 2016.
Para
o seu trabalho de conclusão de curso (TCC), Rita analisou e fez um contraponto
entre as coberturas jornalísticas do jornal “Zero Hora” (da RBS, afiliada das
Organizações Globo) e do site da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande
do Sul (CUT-RS).
“Fiz
esse contraponto não para dizer quem estava certo ou errado, mas para ver como
o mesmo acontecimento pode ser noticiado de maneira distinta por veículos que
trabalham no mesmo um espaço geográfico: um da grande mídia, outro sindical.
Foi uma busca pelo contraponto.”
Com
tudo pronto, Rita resolveu escrever uma carta para o presidente Lula e
convidá-lo à sua festa de formatura, a grande celebração da sua epopeia
educacional dos últimos anos.
“Quando
falei do tema do TCC, alguns colegas começaram a brincar: ‘Acho que você tinha
que chamar o Lula, hein?!’ Foi aí que comecei a levar a ideia a sério, afinal
iria escrever sobre ele e só fiz graduação por suas políticas de inclusão.”
Na
verdade, confessa ela, a missiva foi enviada de forma despretensiosa e esperava,
como resposta, no máximo um e-mail.
A
resposta: Lula ligou diretamente para Rita, se desculpou por não poder ir e
teve uma conversa de 10 minutos com a aluna. O ex-presidente afirmou também que
ficou muito emocionado com a carta e com a garra da estudante. “Estou te
ligando para te dar os parabéns. Quando for ao Sul, vou te ligar. Teria um
imenso prazer de te dar um abraço e um beijo.”
Estou te ligando para te dar os parabéns.
Quando for ao Sul, vou te ligar. Teria um imenso prazer de te dar um abraço e
um beijo.”
“Quando
recebi a ligação foi demais! Mostrou uma consideração muito grande dele.
Ficamos uns 10 minutos conversando de maneira aprofundada. Foi muito
gratificante”, conta a jornalista.
Estudantes na luta
Ela
vê uma diferença muito grande entre os estudantes de escolas públicas de seu
tempo e os de hoje. Ela credita a transformação, em boa parte, à inclusão
social realizada pelos governos petistas.
“Há
10 anos, quando fazia o ensino médio, eu era totalmente alienada e meus colegas
também. Hoje não enxergo mais o pessoal do ensino médio assim. Esses anos de
programas sociais de inclusão serviram muito para a criação do senso crítico
nos jovens.”
Se
ela estivesse no ensino médio hoje, garante, estaria nas ruas contra os
retrocessos promovidos pelo presidente golpista Michel Temer.
“A
gurizada está nas ruas, está ocupando os colégios, militando e se informando
muito sobre política. É algo lindo. Se eu estivesse com 17 anos também estaria
militando contra o Temer.”
Ela,
na verdade, faz isso, mas de outra forma. Hoje ela trabalha na assessoria de
imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita. E tem uma
certeza: quer sempre trabalhar com comunicação popular, seja sindical ou por
novos meios.
Rita
também pensa na possibilidade de enveredar pela pesquisa acadêmica. Mas não
agora. “Agora eu quero trabalhar. Me formei e quero trabalhar.”
Revolução na educação
Com
a expansão e interiorização das universidades federais, a entrada dos jovens
pobres no ensino superior e bolsas de estudo para as melhores universidades do
mundo, a universidade no Brasil deixou de ser sinônimo de privilégio e passou a
representar acesso democrático ao conhecimento.
Prioridade
máxima dos governos Lula e Dilma Rousseff, a educação brasileira deu um salto
de qualidade e começou a construir um caminho de oportunidades e de futuro para
todos. O orçamento cresceu fortemente: de R$ 18 bilhões em 2002 para R$ 115,7
bilhões em 2014. O aumento real foi de 218%.
Primeiro
brasileiro sem diploma universitário a chegar à Presidência, Lula promoveu uma
revolução no ensino superior. Construiu 14 novas universidades federais.
Espalhou extensões universitárias pelo interior do país. Implantou o Reuni,
ampliando a oferta de cursos e vagas nas universidades federais que já
existiam.
Lula
também criou o ProUni, que garante o acesso de estudantes carentes às
faculdades privadas. Dilma continuou a obra e, em 10 anos, o Brasil dobrou o
número de matrículas em instituições de educação superior: de 3,5 milhões em
2002 para mais de 7,1 milhões em 2014.
Além
do ProUni, os jovens de baixa renda contam com outra alternativa para cursar
uma instituição de ensino superior privada: o Fies. A partir de 2010, o Fies
mudou para melhor, com redução dos juros para 3,4% ao ano, aumento do prazo de
carência para 18 meses (contados a partir da conclusão do curso) e a ampliação
do prazo de quitação.
Em
três anos, o número de alunos com apoio do Fies aumentou mais de 10 vezes e, em
2013, chegou a 1,6 milhão – 83% deles vindos de famílias com renda menor que um
salário mínimo e meio por pessoa. No total, cerca de 40% dos estudantes do
ensino superior privado contam com o apoio do governo federal, via ProUni ou
Fies.
O
presidente Lula transformou, ainda, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –
até então instrumento de avaliação da qualidade do ensino – no passaporte de
entrada dos jovens no ensino superior por meio do Sisu.
Alternativa
ao vestibular, o exame democratizou o acesso ao ensino superior: 95% das
universidades federais utilizam suas notas como mecanismo de seleção. O exame é
critério também para ingresso no ProUni, acesso ao Fies e ao Ciência sem
Fronteiras. Em 2016, 9,2 milhões de jovens inscreveram-se no Enem.
Para
conhecer todos os avanços na educação no Brasil dos últimos 13 anos, acesse o
site do Brasil da Mudança.
Leia a íntegra
da carta de Rita ao ex-presidente:
Canoas,
28 de dezembro de 2016
Ao
ex-presidente e companheiro Luiz Inácio Lula da Silva,
Me
chamo Rita Correa Garrido, tenho 26 anos e estou a alguns dias de uma grande
conquista. Em 2010, ingressei na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, a
Unisinos, em São Leopoldo-RS, para estudar jornalismo. Até poucos anos antes,
sequer pensava em cursar o ensino superior, assim como milhares de estudantes
Brasil afora.
Filha
de comerciantes, estudante de escolas públicas durante todo o ensino
fundamental e médio, resolvi apostar no ProUni, que logo me propiciou uma bolsa
de 50%. Peguei!
Durante
seis anos, estudei em uma universidade particular tida como referência no Sul
do país. Tive mudanças significativas na minha percepção de sociedade,
principalmente na maneira como me incluo nela, e com isso pude construir uma
visão mais ampla, crítica e humana em relação ao mundo. Muito além de uma
profissão, cresci como ser humano e me fortaleci como cidadã.
Também
nestes anos, enfrentei jornadas exaustivas de trabalho, preconceito e exclusão.
As jornadas, resolvi mais uma vez com os programas de inclusão. Solicitei o
Fies e financiei os 50% pagos do curso, quase já no final da graduação. Ao
preconceito e à exclusão, lutei, junto com inúmeros colegas, contra piadas do
nível “bolsista também não ganha estojo com lápis, apontador e borracha” e gritos
de “CALA BOCA, PROUNI”, durante uma ampla mobilização, em frente ao DCE da
universidade, contra o golpe dado na presidenta eleita Dilma Rousseff.
Mesmo
diante dos percalços, nunca omiti minha ideologia e meus posicionamentos
políticos, que só se reforçaram com minha entrada no setor de comunicação do
Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, em maio de 2014. Aqui,
mais uma vez, tive a oportunidade de ampliar visões e me aproximar de algo que
julgo essencial no jornalismo: a comunicação popular voltada à classe
trabalhadora.
Frente
à condução coercitiva [do ex-presidente], tentei levantar um grão de areia de
clareza ao abordar o acontecimento em minha pesquisa de conclusão de curso,
intitulada “A Construção de Sentidos Sobre a Condução Coercitiva do
Ex-Presidente Lula: Análise das Notícias em CUT-RS e ‘Zero Hora'”. Contrariando
minhas expectativas, o trabalho foi muito bem recebido e avaliado pela banca de
professores, rendendo-me o grau de distinção (equivalente a notas entre 9 e
10), com direito a publicação na biblioteca da universidade.
A
pesquisa segue, para que vejas o esforço feito dentro da academia para
esclarecer fatos e lutar contra o monopólio da informação e a falta de
democratização dos meios de comunicação.
Também,
e sendo este o principal motivo do meu contato, encaminho formalmente o convite
da Cerimônia de Formatura, a ser realizada no dia 20 de janeiro de 2017, no
auditório Pe. Werner da Unisinos São Leopoldo, a partir das 21h. Junto com os
demais colegas do jornalismo, em grande parte bolsistas do ProUni e do Fies,
comemorarei a conquista citada no início desta carta. A tua presença será uma
honra para todos!
No
sábado, dia 21 de janeiro, comemorarei de forma simples e informal com alguns
poucos familiares, amigos e companheiros do sindicato a formatura. O encontro
será na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, a
partir das 21h. Igualmente será uma honra tua presença nesta celebração.
Por
fim, ainda incerta da presença, mas confiante no convite, agradeço-te desde já
à oportunidade dada a milhões de estudantes em todo o país. O término de uma
graduação não significa meramente a conquista de um canudo, mas também a
conquista de dignidade, igualdade e oportunidades. Ainda que longe de atingir
uma sociedade justa e igual para todos e todas, se faz necessário agradecer e
reconhecer àqueles que, de alguma forma, acreditaram e investiram em um país
melhor a partir da educação! Seguimos, mais do que nunca, nesta luta! Muito
obrigada!
Atenciosamente,
Rita Garrido
Por Bruno
Hoffmann, para a Agência PT de Notícias
http://www.pt.org.br/gaucha-convida-lula-para-formatura-e-recebe-telefonema-de-ex-presidente/
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