O
ano de 1917 foi atípico na História da Rússia. Então, o país que vivia sob a
monarquia do Czar Nicolau II terminou radicalmente transformado, gerido por uma
república socialista implantada por Vladimir Lenin e seus seguidores, entre os
quais, Josef Stalin.
No
plano externo, a Rússia se via às voltas com a participação na Primeira Guerra
Mundial. E, no plano interno, o país mudou de regime e de nome: o antigo
Império Russo deu lugar à URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
ou, mais simplesmente, União Soviética.
A
Revolução Comunista de 1917 foi realizada em duas etapas: a primeira em
fevereiro daquele ano (ou março, conforme o calendário gregoriano ou juliano a
ser considerado), e a segunda, em outubro (ou novembro, também de acordo com o
calendário escolhido).
Na
primeira fase, a do início do ano, a pretensão era a de substituir o governo
autocrático de Nicolau Segundo por um regime mais liberal, comandado pelo
Príncipe Georguy Livov e pelo Ministro da Defesa Aleksander Kerensky. O
objetivo foi alcançado porém Kerensky ficou pouco tempo no poder, sendo
afastado (na segunda fase da Revolução) por Lenin e seus seguidores.
Para
o professor de Relações Internacionais Diego Pautasso, da Universidade do Vale
dos Sinos e do Colégio Militar de Porto Alegre, RS, o movimento de 1917
acentuou as inúmeras contradições que havia na Rússia. Especialista em História
Russa, Diego Pautasso explica à Sputnik Brasil o que representou para a Rússia
a primeira fase da Revolução Comunista:
"Esse
primeiro movimento refletiu o acúmulo de contradições na Rússia. Do ponto de
vista estrutural, o rápido desenvolvimento do capitalismo nas cidades
tencionava acabar com as estruturas agrárias (feudais) e políticas (czaristas)
arcaicas. Do ponto de vista conjuntural, a Primeira Guerra aprofundou os
conflitos em função do desabastecimento, de reveses militares e divergências
políticas. Trata-se de um período de transição em que o velho já morreu mas o
novo ainda não tem forças para se estabelecer."
Para
Diego Pautasso, o que se deu entre o início e o final do ano de 1917 na Rússia
foi um período de transição até que o movimento liderado por Lenin se tornasse
vitorioso:
"Esse
período representa uma transição após o fim do czarismo. Um intervalo de conflito
entre o Governo Provisório da Duma e o Soviete de Petrogrado para forjar outro
ordenamento político (hegemônico) em meio à desorganização econômica e
institucional. Há uma dualidade de poderes no país e uma crise política e
paralisia institucional. Enquanto a Duma sob a liderança de Kerensky realiza
reformas e recrudesce a repressão, os sovietes são atravessados por disputas
políticas intestinas, mas crescentemente sob liderança bolchevique. O caos e a
radicalização tornaram o Governo Provisório insustentável."
Mas
o que, efetivamente, representou para a Rússia a queda do Império e sua
subsequente substituição por uma República de linha esquerdista? O especialista
Diego Pautasso responde:
"Imediatamente,
representou a superação das estruturas feudais com a reforma agrária, a saída
da guerra mundial, a estatização das fábricas, a autodeterminação dos povos não
russos do antigo Império, entre outras medidas. Mas a questão central foi o
conjunto de ações que norteou a primeira experiência socialista da humanidade e
converteu a URSS numa superpotência – não obstante as contradições que levaram
ao seu colapso entre 1989 e 1991."
O
Professor Diego Pautasso acrescenta que "a experiência soviética teve
repercussão no mundo todo. Impactou a formação dos Partidos Comunistas em todos
os países, influenciou todas as lutas reivindicatórias e revolucionárias,
moldou a Guerra Fria e a formação da noção de cidadania a partir de um conjunto
de direitos (educação, saúde, moradia, trabalho, entre outros, como responsabilidade
do poder público)".
E
no Brasil? "A formação do Partido Comunista, as greves, a luta por
direitos foram inspiradas nas conquistas conseguidas na URSS", conclui
Diego Pautasso. "Quanto a outros movimentos, como o próprio regime
militar, eles se deram como oposição a esta experiência. Em suma, como destaca
Domenico Losurdo [filósofo italiano de formação marxista], o movimento
comunista, referenciado na experiência soviética, teve papel central na luta
contra as três grandes discriminações do século XX: a racial, a de gênero e a
de classe, bem como na construção dos Estados de bem-estar social."
http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/282360/Como-a-Revolu%C3%A7%C3%A3o-Russa-que-faz-100-anos-influenciou-o-Brasil.htm
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