Acordo
em discussão entre o BB e as Ematers, que prevê criação de correspondentes
bancários nessas entidades, deve atrair médios e grandes produtores e deixar de
fora os pequenos, já excluídos
Políticas
que prevêem a redução do uso de agrotóxicos e os pequenos produtores deverão
ser prejudicados pelo novo pacote
São
Paulo – A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) manifestou hoje (25)
preocupação com o projeto do Banco do Brasil de facilitar ainda mais a
concessão de crédito aos grandes produtores rurais. Na última quinta-feira, já
às vésperas do carnaval, diretores do setor de agronegócio do banco se reuniram
com o presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Asbraer), Argileu Martins da Silva, para discutir a
criação de correspondentes bancários nessas entidades. De acordo com a Asbraer,
o objetivo é facilitar o crédito rural e serviços para os produtores de médio
porte, além de padronizar a concessão de crédito do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
"Embora
a notícia pareça rala, o fato de ser divulgada perto do carnaval justamente
para dificultar esclarecimentos sugere motivos para preocupação", afirma o
coordenador do grupo de trabalho sobre agrotóxicos e transgênicos da Associação
Brasileira de Agroecologia, o agrônomo Leonardo Melgarejo. "Há fortes
indícios de que está em curso mais uma medida do governo federal para beneficiar
o agronegócio em detrimento do pequeno produtor."
Na
avaliação do coordenador, o projeto é uma "roupagem nova" para
programas já existentes. "É mais um pacote de maldades, como o pacote do
veneno e tantos outros para a agricultura".
Melgarejo
teme que novos pacotes venham a ser estimulados por meio desse canal de
crédito, operado pelo Banco do Brasil, que está sendo criado. "Tudo indica
que poderemos estar voltando à estratégia difusionista usada durante a
revolução verde, que provocou tantos danos sócio-ambientais. E uma Emater, no
caso do Distrito Federal, não deveria poder 'falar' por todas as demais. Alem
disso, qual o papel dos agricultores e suas organizações nesta construção?
Foram ouvidos e não tem nada a dizer? Ou aceitam o papel de receptáculos
passivos?", questiona.
Pronara
A
medida em discussão, segundo ele, afronta o Plano Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (Planaplo), em vigor desde 2013 e o Programa Nacional para
Redução de Agrotóxicos (Pronara), previsto no Planaplo, que até agora não foi
implementado. "No âmbito dessas políticas, as Ematers trabalhariam para a
expansão da agroecologia, e não a serviço do estímulo à aplicação de pacotes
dependentes de insumos industriais turbinados com o dinheiro público. Nada
disso vale mais?"
De
acordo com a associação nacional das Ematers, um modelo de minuta usado em
operações de crédito rural será aperfeiçoado e adequado à parceria. A entidade
destacou ainda que a parceria vai qualificar modelos de empréstimos porque o
agricultor "passará a acessar o crédito rural dentro do escritório da
Emater do seu município". E que o agricultor "vai receber orientações
antes de tomar decisões sobre o sistema de produção a ser utilizado”.
Outra
vantagem, segundo o presidente da Asbraer, Argileu Martins da Silva, é que
"o crédito, por estar sendo operacionalizado por meio de um escritório de
extensão rural, será automaticamente acompanhado pelo extensionista". Isso
faz toda a diferença, segundo ele, porque atualmente o técnico não tem controle
e nem sabe qual produtor está acessando crédito e não pode opinar sobre o que é
melhor. Com esta oportunidade será possível ajuda-lo a maximizar seu crédito de
acordo com sua produção”.
As
Emateres, ao assumir a função de correspondente bancário, serão remuneradas
pelo serviço prestado, além de receber remuneração pela adimplência do
empréstimo, dentro do percentual da carteira de crédito que ela estiver
trabalhando.
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2017/02/agroecologia-ve-com-preocupacao-novo-pacote-do-banco-do-brasil-para-o-agronegocio
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