Esse
Dossiê é o resultado de um trabalho conjunto do Geledés – Instituto da Mulher
Negra e Criola – Organização de Mulheres Negras, sob a coordenação de Nilza
Iraci e Jurema Werneck. Ele apresenta diferentes formas de violações de
direitos humanos de mulheres negras brasileiras e foi apresentado na 157ª
sessão da Comissão da OEA – Organização dos Estados Americanos. A violência é
um fenômeno complexo e, nas sociedades afetadas pelo racismo patriarcal
heteronormativo, atinge de maneira desproporcional às populações de pele
escura, com forte marca do sexismo e das fobias LGBT. Apesar de o Brasil ter se
empenhado nas últimas décadas em ações de diminuição das desigualdades sociais
e de enfrentamento da violência contra a mulher, elas não impediram o aumento
de 54.2% dos assassinatos de mulheres negras entre 2003-2013, o aumento do
encarceramento feminino e a continuidade das violações de direitos das mulheres
negras.
Para
proteger a vida e os direitos de mulheres e meninas negras, é imprescindível
que mecanismos, soluções e remédios atuem sobre as experiências e necessidades
específicas deste grupo populacional, incorporando a perspectiva de
enfrentamento ao racismo patriarcal heteronormativo, ao racismo institucional e
seus impactos sociais, econômicos e psíquicos na vida das mulheres e meninas
negras. Enquanto preparávamos o Dossiê nos deparamos com histórias e imagens
que impregnaram nossas mentes, se fixaram em nossas retinas, perduraram durante
todo o trabalho, e ainda nos assombram. Imagens de dor, de abandono, de
manifestações de ódios, de descaso público, mas também de solidariedade e
indignação. E é o sentimento de indignação que nos leva a conclui-lo e
apresentar a vocês. Queremos chamar atenção e exigir respostas urgentes capazes
de frear a exposição desproporcional de meninas, adolescentes, jovens mulheres
negras lésbicas, trans e heterossexuais, do campo e da cidade às múltiplas
formas de violência. Queremos, ainda, apontar caminhos para reverter a
inadequação e/ou ineficiência das políticas públicas em curso no Brasil para
proteger as vidas das mulheres negras. Nem de longe pretendemos esgotar os
assuntos tratados, pelo contrário esperamos que cada um/a de vocês se indigne,
também, e utilize esse material como instrumento de luta e pressão para que
possamos transformar esse circo de horrores num mundo confortável e digno para
as meninas, adolescentes e mulheres negras lésbicas, trans, heterossexuais do
campo e da cidade e todas as pessoas desse país.
http://criola.org.br/?p=920
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