O
governo Temer tem maioria no Congresso. Apenas a mobilização popular pode
impedir os retrocessos, alertam entidades do setor
Dois
meses após o governo enviar a reforma da Previdência para o Congresso, com a
perspectiva de uma rápida aprovação na Câmara dos Deputados, entidades do setor
avaliam que a sociedade ainda não se deu conta dos prejuízos que a proposta
causará às futuras aposentadorias de todos os brasileiros.
Para
o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa
Econômica Federal (Fenae), Jair Pedro Ferreira, é preciso iniciar uma
mobilização massiva e nacional para conseguir reverter os efeitos nocivos da
reforma. Segundo ele, o debate parlamentar não levará em conta os anseios do
trabalhador se não houver manifestações nas ruas.
“O
Congresso que temos hoje não tem como pauta o trabalhador, o cidadão comum”,
lamenta Ferreira, durante o seminário “Em defesa do direito à aposentadoria
para todos”, realizado em Brasília, nesta sexta-feira 27. “Hoje, quem domina a
pauta são os empresários, o grande capital, o patrão”.
“Muitos começam a ficar desempregados, a
sentir na pele as mudanças e se atentar para esse tema”, diz Ferreira
O
presidente da Fenae acredita que a mobilização dependerá da capacidade de
convencimento das entidades e centrais sindicais, mas a piora do cenário
econômico tende a acelerar esse processo. “Muitos começam a ficar
desempregados, não têm mais acesso a bens de consumo, e passam a sentir na pele
as mudanças e se atentar para esse tema”.
Ferreira
observa que o Congresso é vulnerável à pressão das ruas, por isso a
manifestação da sociedade se faz necessária. “É um espaço democrático, ganha
quem tem maioria. Mas os parlamentares são suscetíveis à pressão. Quando eles sentem
que vão perder, recuam nos seus posicionamentos, porque isso é prejudicial”,
disse.
Para
ele, as grandes manifestações que ocorreram no País nos anos anteriores só
foram possíveis porque contaram com o apoio da mídia, que agora não trava um
debate sério sobre a reforma da Previdência. “Tem hora que a gente parece que
está meio anestesiado. Tem uma narrativa na sociedade implementada e bem
orquestrada pelos grandes meios de comunicação, e você tem que vencer essa
narrativa”, emendou Ferreira.
No
mesmo sentido, o presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundo
de Pensão (Anapar), Antonio Bráulio de Carvalho, avalia que os trabalhadores
reagiram de forma passiva à extinção do Ministério da Previdência, agora
vinculada à pasta da Fazenda. “Minha preocupação é que aconteça a mesma coisa
com a reforma da Previdência”, diz. “A assimetria de informação é muito grande.
De um lado, estão os meios de comunicação oficiais, passando a visão do
governo. De outro, há séria dificuldade em furar esse bloqueio e passar uma
informação crítica desse processo. O momento é de luta, de fazer o
enfrentamento”.
"As pessoas sem a expectativa de obter
uma aposentadoria, procurarão serviços dos bancos", alerta Carvalho
Para
Carvalho, a reforma proposta pelo governo Temer visa a privatização do setor
previdenciário, pois dificulta ao máximo o acesso ao benefício. “A reforma só tem esse objetivo. É uma
privatização branca do sistema. Assim como aconteceu com a educação, a saúde.
As pessoas sem a expectativa de obter uma aposentadoria, procurarão serviços
dos bancos. É um crime o que esta acontecendo”.
De
acordo com Ferreira, o governo justifica a reforma com base na tese de que há
um déficit na Previdência. Observa, porém, que é o próprio governo que maneja
orçamentos e retira recursos do setor. “A Previdência vive em um regime de
caixa. Quando se tem muita gente empregada, ela está bem. Quando o desemprego
aumenta, ela sofre”.
http://www.cartacapital.com.br/economia/quem-sera-capaz-de-deter-a-201cprivatizacao-branca201d-da-previdencia
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