Ao
contrário da marchinha da ditadura – “este é um país que vai prá frente…”
– o Brasil do golpe é, sem qualquer
dúvida, um país que vai para trás: para trás no tempo, no grau de civilização e
de convívio, tanto quanto vai nos indicadores econômicos.
.
Não
vou tratar dos aspectos de psicologia coletiva, coisa que o Xico Sá faz,
maravilhosamente, no artigo que publicou no El País, sobre a mobilização das
“brigadas do ódio” diante do fato de Chico Buarque ter ganho o prêmio de literatura Roger Caillois, na França:
Tudo
bem que o xará não seja aquela unanimidade do tempo dos festivais, a
unanimidade nacional da frase sacana de Nelson Rodrigues, mas, peraí, colega,
esse ódio todo ao Chico é sintoma de que o país perdeu de vez o rumo das ventas
e a ideia de delicadeza.
Fico
na política e na economia, onde minhas limitações são menos graves.
Basta
que a gente olhe o que são a nossa política institucional e a política
econômica para que a gente veja para que a gente veja a que profundidade
geológica chegamos.
Somos
presididos por um personagem de terceiro time, como Michel Temer, que não teve,
jamais, nem luz própria nem mesmo brilharecos em sua longa carreira política.
Em
torno dele, os membros da quadrilha partidária e governamental que ampara, personificados por
Moreira Franco e Eliseu Padilha.
Estamos,
nessa matéria, piores que no período Sarney, quando ao menos havia uma
reação à hegemonia da mediocridade.
Na
economia, abandonamos de vez qualquer
veleidade de termos um projeto nacional e cuidamos, exclusivamente, do
que “vai dar” o IPCA e a taxa de juros,
como se uma visão estratégica do Brasil dependesse apenas disso – e do câmbio –
para que o santificado tripé macroeconômico
virá nos salvar e escancarar as portas do futuro.
Até
Fernando Henrique Cardoso poderíamos dizer que era o deslumbramento sabujo ao
mercado, mas depois do fracasso do que fizeram, persistir nisso é mais que
burrice, é masoquismo.
As
questões institucionais do país afundaram a um grau em que se chega, a sério, a
discutir a indicação de um fundamentalista da Opus Dei para o Supremo, embora
não seja para revogar o divórcio de Nélson Carneiro, mas a CLT de Vargas.
Em
apenas três anos e meio desde que a mobilização antidemocrática iniciada em
2013 – e que só iria vestir plenamente sua natureza golpista em 2015 – tenho, por vezes, a impressão que regredimos
três décadas, ou pior. Talvez não (oi ainda não) em termos de liberdades
políticas. Mas, certamente, tanto ou
mais em matéria de capacidade de convívio, de identidade nacional e certamente
mais em visão de um futuro próprio para este país.
Nem
mesmo a visão de “Brasil Grande” da ditadura, ou sequer a de “sócio menor” do
período Fernando Henrique Cardoso temos.
Somos apenas um espaço de predação, um campo de caça do capital.
Dói,
dói, dói ver o Brasil possuído por esta mediocridade enquanto dos digladiamos
em querelas menores. Quem acha que vai, num quadro de desastre nacional,
conquistar avanços setoriais não entende a sabedoria expressa no dito popular
de que “casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão”. Que no Brasil
do atraso só haverá mais segregação,
mais racismo, mais fobias por orientação sexual, por tudo o que possa servir
para diferenciar e tornar excluído.
A
recuperação de uma identidade nacional, de uma visão una de povo brasileiro –
falta pouco, nessa segmentação, para que alguns achem que somos “povos
brasileiros” – é uma chave para nosso país, porque é neste caldo pátrio que
todos podemos brotar, nesta primavera é
que todos podemos florescer.
Mas
no Brasil degradado, degradamo-nos todos, inclusive os que tem mais e não
percebem o quanto são selvagens por escolherem viver numa selva.
O
maestro Tom Jobim, tão lembrado nesta semana
dos seus 90 anos, escreveu: é impossível ser feliz sozinho.
http://www.tijolaco.com.br/blog/este-e-um-pais-que-foi-para-tras/
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