O
ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão afirmou ao chefe da força-tarefa da
operação “lava jato”, Deltan Dallagnol, que ele e os demais procuradores da
República que atuam no caso ajudaram a jogar a economia brasileira no buraco,
mas que não se preocupam com isso porque “seus empregos não correm risco”.
Para
Eugênio Aragão, Deltan Dallagnol tem que "baixar a bola" e atuar com
discrição.
Em
carta aberta a Dallagnol, Aragão — que também é procurador da República —
criticou a postura messiânica dele nas redes sociais. Recentemente, o membro da
força-tarefa da “lava jato” chamou a atenção daqueles que “vestem a camisa do
complexo de vira-lata” e disse era “possível um Brasil diferente”.
Para
o ex-ministro da Justiça, quem tem complexo de vira-lata, na verdade, são os
integrantes do Ministério Público Federal que atuam no caso. A seu ver, eles
idolatram os EUA sem conhecer a história desse país, que foi, pelo menos, tão
“banhado em sangue” quanto o Brasil.
E
essa idolatria aos norte-americanos e a atitude moralista de Dallagnol e seus
colegas jogou o Brasil em uma recessão que já durá três anos e acabará por dar
as chaves do mercado da construção civil a empresas dos EUA, declara Aragão.
“E
vocês, narcisos, se acham lindinhos por causa disso, né? Vangloriam-se de terem
trazido de volta míseros dois bilhões em recursos supostamente desviados por
práticas empresariais e políticas corruptas. E qual o estrago que provocaram
para lograr essa casquinha? Por baixo, um prejuízo de 100 bilhões e mais de um
milhão de empregos riscados do mapa. Afundaram nosso esforço de propiciar
conteúdo tecnológico nacional na extração petrolífera, derreteram a recém-reconstruída
indústria naval brasileira.”
De
acordo o último ministro da Justiça de Dilma Rousseff, Dallagnol, “à frente de
sua turma, vai entrar na história como quem contribuiu decisivamente para o
atraso econômico e político que fatalmente se abaterão sobre nós”.
Porém,
o chefe da força-tarefa da “lava jato” não deve estar preocupado com a situação
econômica do país, avalia Aragão. Afinal, “não são os seus empregos que correm
risco”, diz ele ao seu colega de MPF. E eles não têm do que reclamar, ressalta
o ex-ministro. Isso porque os integrantes do órgão ganham “muito bem”, recebem
auxílios alimentação e moradia no valor de quase R$ 1 mil cada um e mais um
“ilegal” auxílio-moradia “tolerado pela morosidade do Judiciário que vocês
tanto criticam”.
“Vivemos
numa redoma de bem-estar. Por isso, talvez, à falta de consciência histórica, a
ideologia de classe devora sua autocrítica. E você e sua turma não acham nada
demais se milhões de famílias não conseguirem mais pagar suas contas no fim do
mês, porque suas mães e seus pais ficaram desempregados e perderam a
perspectiva de se reinserirem no mercado num futuro próximo”, acusa Aragão.
E
mais: Eugênio Aragão diz na carta que seus colegas de MPF usaram a bandeira do
“combate à corrupção” como cortina de fumaça para derrubar Dilma Rousseff e
aumentar o poder dos promotores e procuradores. Na visão do ex-ministro, eles
também erraram o alvo ao fixar a corrupção como o pior problema do Brasil,
quando esse “troféu” é, na realidade, da desigualdade econômico-social.
Devido
a isso tudo, Aragão pede que Deltan Dallagnol “baixe a bola”, pare de perseguir
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de “fazer teatro com PowerPoint”.
“Faça seu trabalho em silêncio, investigue quem tiver que investigar sem
alarde, respeite a presunção de inocência, cumpra seu papel de fiscal da lei e
não mexa nesse vespeiro da demagogia, pois você vai acabar ferroado. Aos
poucos, como sempre, as máscaras caem e, ao final, se saberá quem são os que
gostam do Brasil e os que apenas dele se servem para ficarem bonitos na fita!
Esses, sim, costumam padecer do complexo de vira-lata!”, finaliza.
Outros
ataques
Essa
não é a primeira carta de Eugênio Aragão a um integrante do MPF. Em setembro, o
ex-ministro da Justiça enviou missiva ao procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, apontando que sua atuação não condiz com o que ele pregava antes de
chegar ao cargo.
De
acordo com Aragão, se antes ele era crítico da postura adotada pelo MPF durante
a Ação Penal 470, o processo do mensalão, ele repete a fórmula de crucificar
acusados na operação “lava jato”.
Posteriormente,
Eugênio Aragão acusou o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos
da operação “lava jato”, de ser um criminoso. Em mensagem enviada ao professor
alemão Markus Pohlmann, cuja universidade (de Heidelberg) recebeu o juiz para
uma palestra, Aragão afirma que “Moro é um criminoso, também sob a perspectiva
alemã. Ele se tornou punível quando violou sigilo funcional, para não falar em
prevaricação”.
O
e-mail do ex-ministro foi enviado junto com uma carta, assinada por 28
professores de Direito, História e Ciência Política, que questiona o fato de a
Universidade de Heidelberg convidar Moro para falar sobre combate à corrupção.
O evento ocorreu no dia 9 de dezembro, mas a carta foi enviada no dia 6. O
documento elenca acusações contra o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Além
de citarem que Moro determinou a ilegal condução coercitiva do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para depor e vazou, “criminosamente”, gravações de conversas
entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, os professores dizem que o juiz
viola a Constituição, leis e a soberania nacional, entregando informações à
Justiça dos Estados Unidos, “com quem dialoga frequentemente, sobre andamento
de processos brasileiros, permitindo que réus brasileiros firmem acordo de
colaboração com a justiça dos EUA, em detrimento do interesse das empresas
nacionais brasileiras”.
Leia
abaixo a íntegra da carta:
Carta
aberta ao jovem colega Deltan Dallagnol
"Dennnichtsistschwerer und
nichtserfordertmehrCharakter, alssich in offenemGegensatzzuseiner Zeit
zubefinden und lautzusagen: Nein."
(Porque nada é mais difícil e nada exige
mais caráter que se encontrar em aberta oposição a seu tempo e dizer em alto e
bom som: Não!)
Kurt Tucholsky
Caro colega,
Acabo de ler por blogs de gente séria que
você estaria a chamar atenção, no seu perfil de Facebook, de quem "veste a
camisa do complexo de vira-lata", que seria "possível um Brasil
diferente" e que a hora seria agora. Achei oportuno escrever-lhe esta
carta pública, para que nossa sociedade saiba que, no Ministério Público, há
quem não bata palmas para suas exibições de falta de modéstia.
Vamos falar primeiro do complexo de
vira-lata. Acredito que você e sua turma sejam talvez os que menos autoridade
têm para falar disso, pois seus pronunciamentos são a prova mais cabal de SEU
complexo de vira-lata. Ainda me lembro daquela pitoresca comparação entre a
colonização americana e a lusitana em nossas terras, atribuindo à última todos
os males da baixa cultura de governação brasileira, enquanto o puritanismo lá
no Norte seria a razão de seu progresso. Talvez você devesse estudar um pouco
mais de história, para depreciar menos este país. E olha que quem cresceu nas
"Oropas" e lá foi educado desde menino fui eu, hein... talvez por
isso não falo essa barbaridade, porque tenho consciência de que aquele pedaço
de terra, assim como a de seu querido irmão do Norte, foram os mais banhados de
sangue humano ao longo da passagem de nossa espécie por este planeta. Não
somos, os brasileiros, tão maus assim: na pior das hipóteses somos iguais,
alguns somos descendentes dos algozes e a maioria somos descendentes das
vítimas.
Mas essa sua teorização vulgar não diz tudo
sobre SEU complexo. Você à frente de sua turma vai entrar na história como quem
contribuiu decisivamente para o atraso econômico e político que fatalmente se
abaterão sobre nós. E sabe por que? Porque você e sua turma são ignorantes e
não conseguem enxergar que o princípio fiatiustitia et pereatmundus nunca foi
aceito por sociedade sadia qualquer neste mundão de Deus. Summum jus,
summainiuria, já diziam os romanos: querer impor sua concepção pessoal de justiça
a ferro e fogo leva fatalmente à destruição, à comoção e à própria injustiça.
E o que vocês conseguiram de útil neste
País para acharem que podem inaugurar um "outro Brasil", quiçá melhor
do que aquele em que vivíamos? Vocês conseguiram agradar ao irmão do Norte, que
faturará bilhões de nossa combalida economia, e conseguiram tirar as empresas
nacionais do mercado global altamente competitivo da construção civil de
grandes obras de infraestrutura. Tio Sam agradece. E vocês, narcisos, se acham
lindinhos por causa disso, né? Vangloriam-se de terem trazido de volta míseros
dois bilhões em recursos supostamente desviados por práticas empresariais e
políticas corruptas. E qual o estrago que provocaram para lograr essa
casquinha? Por baixo, um prejuízo de 100 bilhões e mais de um milhão de
empregos riscados do mapa. Afundaram nosso esforço de propiciar conteúdo
tecnológico nacional na extração petrolífera, derreteram a recém-reconstruída
indústria naval brasileira.
Claro, não são seus empregos que correm
risco. Ganhamos muito bem no Ministério Público, temos auxílio-alimentação de
quase mil reais, auxilio-creche com valor perto disso, um ilegal
auxílio-moradia tolerado pela morosidade do Judiciário que vocês tanto
criticam. Temos um fantástico plano de saúde e nossos filhos podem frequentar a
liga das melhores escolas do País. Não precisamos de SUS, não precisamos de
Pronatec, não precisamos de cota nas universidades, não precisamos de
Bolsa-Família e não precisamos de Minha Casa, Minha Vida. Vivemos numa redoma
de bem-estar. Por isso, talvez, à falta de consciência histórica, a ideologia
de classe devora sua autocrítica. E você e sua turma não acham nada demais se
milhões de famílias não conseguirem mais pagar suas contas no fim do mês,
porque suas mães e seus pais ficaram desempregados e perderam a perspectiva de
se reinserirem no mercado num futuro próximo.
Mas você achou fantástico o acordo com os
governos dos EEUU e da Suíça, que permitiu-lhes, na contramão da prática
diplomática brasileira, se beneficiar indiretamente de um asset sharing sobre
produto de corrupção de funcionários brasileiros e estrangeiros. Fecharam esse
acordo sem qualquer participação da União, que é quem, em última análise, paga
a conta de seu pretenso heroísmo global, e repassaram recursos nacionais sem
autorização do Senado. Bonito, hein? Mas, claro, na visão umbilical
corporativista de vocês, o Ministério Público pode tudo e não precisa se
preocupar com esses detalhes burocráticos que só atrasam nosso salamaleque para
o irmão do Norte! E depois você fala de
complexo de vira-lata dos outros!
O problema da soberba, colega, é que ela
cega e torna o soberbo incapaz de empatia.Mas como neste mundo vale a lei do
retorno, o soberbo também não recebe empatia, pois seu semblante fica opaco,
incapaz de se conectar com o outro.
A operação de entrega de ativos nacionais
ao estrangeiro, além de beirar alta traição, esculhambou o Brasil como nação de
respeito entre seus pares. Ficamos a anos-luz de distância da admiração que
tínhamos mundo afora. Vocês atropelaram a Constituição: segundo ela, compete à
presidenta da República manter relações com Estados estrangeiros, não ao
musculoso Ministério Público. Daqui a pouco vocês vão querer até uma
representação diplomática nas capitais do circuito Elizabeth Arden, não é?
Ainda quanto a um Brasil diferente,
devo-lhes lembrar que "diferente" nem sempre é melhor e que esse
servicinho de vocês foi responsável por derrubar uma presidenta constitucional
honesta e colocar em seu lugar uma turba envolvida nas negociatas que vocês
apregoam mídia afora. Esse é o Brasil diferente? De fato é: um Brasil que
passou a desrespeitar as escolhas políticas de seus vizinhos e cultivar uma
diplomacia da nulidade, pois não goza de qualquer respeito no mundo. Vocês
ajudaram a sujar o nome do país. Vocês ajudaram a deteriorar a qualidade da
governação, a destruição das políticas inclusivas e o desenvolvimento
sustentável pela expansão de nossa infraestrutura com tecnologia própria.
E isso tudo em nome de um
"combate" obsessivo à corrupção. Assunto do qual vocês parecem não
entender bulhufas! Criaram, isto sim, uma cortina de fumaça sobre o verdadeiro
problema deste pais, que é a profunda desigualdade social e econômica. Não é a
corrupção. Esta é mero corolário da desigualdade, que produz gente que nem
vocês, cheios de "self righteousness", fariseus com apretensão de
serem justos e infalíveis, donos da verdade e do bem estar. Gente que pode se
dar ao luxo de atropelar as leis sem consequência nenhuma. Pelo contrário,
ainda são aplaudidos como justiceiros.
Com essa agenda menor da corrupção vocês
ajudaram a dividir o país, entre os homens de bem e os safados, porque vocês
não se limitam a julgar condutas como lhes compete, mas ousam julgar pessoas,
quando estão longe de serem melhores do que elas. Vocês não têm capacidade de
ver o quanto seu corporativismo é parte dessa corrupção, porque funciona sob a
mesma gramática do patrimonialismo: vocês querem um naco do Estado só para
chamar de seu. Ninguém os controla de verdade e vocês acham que não devem
satisfação a ninguém. E tudo isso lhes propicia um ganho material incrível, a
capacidade de estarem no topo da cadeia alimentar do serviço público. Vamos
falar de nós, os procuradores da República, antes de querer olhar para a cauda
alheia.
Por fim, só quero pontuar que a corrupção
não se elimina. Ela é da natureza perversa de uma sociedade em que a competição
se faz pelo fator custo-benefício, no sentindo mais xucro. A corrupção se
controla. Controla-se para não tornar disfuncionais o Estado e a economia. Mas
esse controle não se faz com expiação de pecados. Não se faz com discursinho
falso-moralista. Não se faz com homilias em igrejas. Faz-se com reforma
administrativa e reforma política, para atacar a causa do fenômeno e não sua
periferia aparente. Vocês estão fazendo populismo, ao disseminarem a ideia de
que há o "nós, o povo" de honestos brasileiros, dispostos a enfrentar
o dragão da corrupção como um São Jorge redivivo. Você e eu sabemos que não
existe isso e que não existe, com sua artificial iniciativa popular das
"10 medidas", solução viável para o problema. Esta passa pela revisão
dos processos decisórios e de controle na cadeia de comando administrativa e
pela reestruturação de nosso sistema político calcado em partidos que não
merecem esse nome. Mas isso tudo talvez seja muito complicado para você e sua
turma compreenderem.
Só um conselho, colega: baixe a bola. Pare
de perseguir o Lula e fazer teatro com PowerPoint. Faça seu trabalho em
silêncio, investigue quem tiver que investigar sem alarde, respeite a presunção
de inocência, cumpra seu papel de fiscal da lei e não mexa nesse vespeiro da
demagogia, pois você vai acabar ferroado. Aos poucos, como sempre, as máscaras
caem e, ao final, se saberá quem são os que gostam do Brasil e os que apenas
dele se servem para ficarem bonitos na fita! Esses, sim, costumam padecer do
complexo de vira-lata!
Antes da próxima homilia diante de
correligionários incautos, reflita sobre a lição do Evangelho: "Por que
reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que
está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco do teu
olho', quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave
do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão."
(Evangelho segundo São Mateus 7, 3-5)
Um forte abraço de seu colega mais velho e
com cabeça dura, que não se deixa levar por essa onda de "combate" à
corrupção sem regras de engajamento e sem respeito aos costumes da guerra.
Eugênio
José Guilherme de Aragão”.
http://jornalggn.com.br/noticia/dallagnol-nao-se-preocupa-com-crise-pois-seu-salario-esta-garantido-diz-aragao
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