Quando
me pediram para resumir o Brasil em 2016 com apenas três palavras, respondi:
ano da indecência. E não é que nesta terça-feira (6), a revista Istoé, premiou
dois personagens hors concours em danos à República por desvio de função.
O
juiz Sérgio Moro foi eleito o "Brasileiro do Ano na Justiça" e Michel
Temer levou o prêmio de "Brasileiro do Ano" em todas as áreas.
No
caso de Moro, pesou muito a competência para desviar de 14 representações
apresentadas à Corregedoria Nacional de Justiça e também sua determinação em
incriminar com base em convicções o ex-presidente Lula como o verdadeiro
proprietário do tríplex no Guarujá, mesmo que várias testemunhas de acusação o
tenham absolvido.
O
caos institucional que vive o país, recentemente agravado com a ameaça de
renúncia coletiva na Força-tarefa como forma de interferir no Poder
Legislativo, é mérito de Sérgio Moro.
O
juiz que extrapolou suas funções pra exercer atividade política na mídia,
naturalmente, não enfrentou concorrência.
A
prova irrefutável de sua contribuição à presteza da justiça brasileira foi o
riso frouxo e a conversa no pé do cangote do senador Aécio Neves (PSDB), citado
por 12 delatores da Operação Lava Jato e sequer chamado a depor.
Ouso
delirar sobre a possibilidade de ver Aécio no lugar de Renan Calheiros –
afastado da presidência do Senado por inventar de querer punir juízes e membros
do Ministério Público por abuso de autoridade – e de lá para a cadeira de
Temer. Não duvide que Aécio já ensaiou colocar a faixa presidencial.
Do
ponto de vista da decadência moral do judiciário, não há dúvidas, Sérgio Moro
mereceu o prêmio.
Mais
quem recebeu a homenagem principal da noite pela singularidade da obra foi
Michel Temer, a quem Ricardo Noblat premiaria só por ter conquistado a Marcela.
Nunca
na história, um presidente legítimo ou não, conseguiu transformar o Brasil em
seis meses "num país mais injusto, menos democrático e menos
relevante", como resumiu o sociólogo Emir Sader.
Nunca
um vice-presidente vazou premeditadamente à imprensa uma carta pessoal à
presidenta da república, pra 'justificar' a cumplicidade ao golpe contra a democracia.
Desde
que assumiu perdeu seis ministros por denúncias de corrupção e sua cabeça está
marinando numa bandeja do aliado golpista, após ser flagrado agindo
criminosamente em favor de interesses pessoais de um ministro e parentes dele.
Temer
fez tudo que seus mestres mandaram para impedir a governabilidade da presidenta
eleita e agora não consegue sair do abismo que cavou com os próprios pés.
A
revista Istoé o premiou pela coragem em assumir um país com a economia e
política conturbadas e conseguir tornar tudo muito pior. E Temer gostou,
afinal, não foi vaiado. Dizem que confirmou rapidinho a participação no evento,
o oposto do que fez diante do apelo para que comparecesse ao velório da
tragédia de Chapecó.
É
bizarra a premiação com registros fotográficos que comprovam a obra do tripé
golpista legislativo-judiciário-mídia e sentenciam que este foi o ano da
exaltação à indecência.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/lucianaoliveira/269507/O-Pr%C3%AAmio-da-indec%C3%AAncia-vai-para%E2%80%A6.htm
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