O
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou ao cargo louvado pela mídia e
pelo mercado financeiro, sua origem. Era apresentado como o salvador da
economia. Passados seis meses, a ilusão acabou. Todos os indicadores econômicos
pioraram, e a estratégia de colocar a culpa na gestão anterior já não cola
mais. O líder da “equipe dos sonhos” agora é alvo de críticas e pressões, inclusive dentro do próprio
governo. Descobriram agora que o ajuste fiscal prometido não vai tirar o país
do buraco.
O
resultado do PIB do terceiro trimestre mostrou o aprofundamento da recessão e
parece ter sido a gota d’água que fez transbordar as insatisfações. Após seis
meses, a economia não dá sinais de melhora, pelo contrário. Afinal, para haver
reação, é necessário que haja ação. E as medidas anunciadas pela equipe
Temer/Meirelles não são capazes de incentivar uma retomada.
A
Proposta de Emenda Constitucional 55 e a Reforma da Previdência – anunciadas
pela equipe econômica como a panaceia - não têm o poder de trazer crescimento,
argumentam diversos economistas. As medidas de austeridades, além de cortar
direitos sociais, limitarão a participação do Estado na economia. E, em um
momento de recessão, sem perspectiva de obter lucro mais à frente, o setor
privado dificilmente decidirá investir.
O
governo alega que é preciso cortar gastos, para equilibrar as contas e, assim,
reascender a confiança. Pelo discurso Temer/Meirelles, isso faria com que
empresários decidissem, num passe de mágica, fazer novos investimentos - mesmo
havendo, na maioria dos setores, uma enorme capacidade ociosa e alto grau de
endividamento.
Ocorre
que, mais uma vez, é improvável um cenário no qual a economia derrete a olhos
vistos, mas, mesmo assim, o setor privado decida puxar a retomada do
crescimento apenas porque o governo melhorou suas contas. Nos mercados interno
e externo, a maré não está para peixe. Com o desemprego em alta e renda em
baixa, o consumo também despenca. E, diante do real valorizado e das incertezas
no cenário internacional, o setor externo pouco contribuirá.
E,
mesmo do ponto de vista fiscal, as medidas anunciadas pelo governo surtirão
pouco efeito no curto prazo. Ou seja, o programa econômico atual se resume a
cortar gastos, e isso não ajuda a economia, pelo contrário. Significa tirar dinheiro
da economia, direta e indiretamente. Seja porque o próprio governo deixou de
investir, seja porque terá efeitos sobre a renda das pessoas.
Apesar
de esse roteiro já estar claro há muito tempo para muita gente, só agora caiu a
ficha para os antigos entusiastas da equipe econômica. Analistas da grande
mídia, do mercado e mesmo governistas oficiais já começam a disparar contra o
ministro da Fazenda, contestando a gestão da pasta, que já foi a menina dos
olhos deles mesmos.
Alegam
o óbvio – que o ajuste fiscal de Meirelles acontece em ritmo lento, que não há
medidas capazes de reanimar a economia no curto prazo, que os juros continuam
muito altos e que não se vê sinais de retomada.
Segundo
a coluna Painel, da Folha, “cobra-se mais criatividade da Fazenda”, e uma frase
resume o sentimento geral em Brasília: “A equipe dos sonhos não está
conseguindo entregar os sonhos da equipe”. Frustrados, os aliados do governo
buscam culpados.
O
Globo, por sua vez, já informa que, depois de reunião de Michel Temer com o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o senador Aécio Neves, tomou-se a
decisão de que o PSDB terá mais espaço no debate econômico e Armínio Fraga,
ex-presidente do Banco Central, será mais ouvido pela equipe econômica.
Muitos
já falam que o ministro passa por um processo de fritura, outros alertam que as
desventuras de Meirelles podem levar a reboque o próprio Temer. Depois de
prometer "resgatar a confiança", o presidente admitiu nesta
quinta-feira, que "não tem vara de condão para a economia", deixando
clara sua incapacidade de apresentar resultados. "Há uma certa ansiedade
para que tudo se resolva. Não se resolve em seis meses", disse ele.
"Não
posso ignorar o fato de que neste último mês de novembro, a confiança caiu um
pouco em face de vários incidentes até de natureza política. As questões
relativas à chamada anistita em um dado momento, agora a questão da
responsabilidade de juízes e promotores etc, tem criado um natural embate em
alguns setores governamentais e além disso, tem criado embates na própria
opinião pública. Estes fatos e outros que vão ocorrendo criaram uma
instabilidade e toda vez que há instabilidade o investidor coloca o pé
atrás", tentou justificar.
O
próprio Meirelles disse, nesta quinta (01), que a crise política não irá
prejudicar o ajuste fiscal. Segundo ele, a retomada é “um pouco lenta”, mas
“está indo bem”. “Demora certo tempo para que as empresas reestruturem suas
dívidas, renegociem com os bancos, e possam, em consequência, voltar a investir
para tornar a crescer; e o mesmo ocorre com muitas famílias”, disse. Resta
saber se ao menos os aliados de Temer estão dispostos a esperar.
http://www.vermelho.org.br/noticia/290572-1
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