segunda-feira, 21 de novembro de 2016

DOUTOR JUIZ, COMO É QUE SE CHAMA QUEM ARRISCA A PRODUZIR UMA MORTE? Por Fernando Brito

Se houvesse remorsos em certas almas, a esta hora elas estariam ardendo.

Espero que reste humanidade ao Juiz Glaucemir de Oliveira, que deu uma banana judicial para a orientação médica e mandou remover o senhor Anthony Garotinho do Hospital Souza Aguiar para a cadeia, desfazendo dos riscos cardíacos, para que possa estar sentindo remorsos do que fez.

Ele e todos os que debocharam daquela cena.

Pois aí está: os médicos consideraram tão presente o risco de um infarto no ex-governador que fizeram (hoje, um domingo) uma cirurgia para reduzir o risco.

Sei do que estou falando.

Fiz um procedimento de cateterismo, com a colocação de stent – uma mola que se estica dentro da artéria, para melhorar a passagem do sangue – pela mesma razão de Garotinho: uma coisa que vem escrita no exame de maneira gentil: risco de isquemia de esforço, que se traduz de uma maneira que todo mundo teme, infarto do miocárdio.

Aliás, fiz dois, porque – dependendo da duração da parte investigatória do cateterismo – há médico que prefira, não sendo extremamente grave a situação evitar a injeção contínua de contraste, pelo risco renal que isso traz.

A recuperação, para quem não sabe, recomenda a contenção da perna no lado da virilha usada para a introdução do cateter, em geral até o dia seguinte.O que é outro eufemismo, porque  contenção é amarrar mesmo a perna do paciente na cama, para evitar que seus movimentos provoquem sangramento, já que o distinto recebeu uma dose cavalar de heparina ou algo correlato, para evitar a coagulação do sangue e não ter o infarto com a passagem do cateter.

Garotinho, sim, poderia ter infartado naquele momento de reação emocional, que eu não condeno, pois eu mesmo teria igual ou pior sendo arrastado à força para fora de um hospital nestas circunstâncias.

Não creio, entretanto, que os corações do Doutor Juiz e dos que bateram palmas histericamente para aquilo estejam menos obstruídos que o do ex-governador.

Não sei se no lugar do remorso e do arrependimento não estejam só sentindo alívio por não terem produzido uma morte.

E mortes produzidas chamam-se homicídio, ainda que culposo, não é, doutor?


http://www.tijolaco.com.br/blog/doutor-juiz-o-senhor-podia-ter-matado-uma-pessoa/

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