Se
houvesse remorsos em certas almas, a esta hora elas estariam ardendo.
Espero
que reste humanidade ao Juiz Glaucemir de Oliveira, que deu uma banana judicial
para a orientação médica e mandou remover o senhor Anthony Garotinho do
Hospital Souza Aguiar para a cadeia, desfazendo dos riscos cardíacos, para que
possa estar sentindo remorsos do que fez.
Ele
e todos os que debocharam daquela cena.
Pois
aí está: os médicos consideraram tão presente o risco de um infarto no
ex-governador que fizeram (hoje, um domingo) uma cirurgia para reduzir o risco.
Sei
do que estou falando.
Fiz
um procedimento de cateterismo, com a colocação de stent – uma mola que se
estica dentro da artéria, para melhorar a passagem do sangue – pela mesma razão
de Garotinho: uma coisa que vem escrita no exame de maneira gentil: risco de
isquemia de esforço, que se traduz de uma maneira que todo mundo teme, infarto
do miocárdio.
Aliás,
fiz dois, porque – dependendo da duração da parte investigatória do cateterismo
– há médico que prefira, não sendo extremamente grave a situação evitar a
injeção contínua de contraste, pelo risco renal que isso traz.
A
recuperação, para quem não sabe, recomenda a contenção da perna no lado da
virilha usada para a introdução do cateter, em geral até o dia seguinte.O que é
outro eufemismo, porque contenção é
amarrar mesmo a perna do paciente na cama, para evitar que seus movimentos
provoquem sangramento, já que o distinto recebeu uma dose cavalar de heparina
ou algo correlato, para evitar a coagulação do sangue e não ter o infarto com a
passagem do cateter.
Garotinho,
sim, poderia ter infartado naquele momento de reação emocional, que eu não
condeno, pois eu mesmo teria igual ou pior sendo arrastado à força para fora de
um hospital nestas circunstâncias.
Não
creio, entretanto, que os corações do Doutor Juiz e dos que bateram palmas
histericamente para aquilo estejam menos obstruídos que o do ex-governador.
Não
sei se no lugar do remorso e do arrependimento não estejam só sentindo alívio
por não terem produzido uma morte.
E
mortes produzidas chamam-se homicídio, ainda que culposo, não é, doutor?
http://www.tijolaco.com.br/blog/doutor-juiz-o-senhor-podia-ter-matado-uma-pessoa/
Nenhum comentário:
Postar um comentário