Eu
registrei, assim que saiu, a exploração monstruosa que fez a Folha da
(pouquíssima) verba publicitária recebida por alguns blogs, o que chamou de
“repasse”.
É
“pedra cantada”, como se diz na gíria. Requentar notícia para fazer campanha
para apresentar a blogosfera progressista como parte de uma teia de corrupção
que é, na cabeça corrupta que o imagina, a razão de tudo em que conseguem
pensar: dinheiro.
Tiram
os outros pelo que eles próprios são.
Jamais
vão compreender que um blog como este se sustente e tenha audiência, embora
nunca tenha recebido um tostão de propaganda do governo federal ou de governos
petistas. 99,9% do que veiculou de propaganda veio do Google (onde basta se
inscrever para ter e se recebe pelos acessos, segundo a contagem deles) e não
há maneira de entenderem, em tempo algum, que os leitores possam desejar pagar
para ajuda-lo a se manter, mesmo com todo o acesso aberto e sem nenhum conteúdo
restrito.
Publico
apenas um pedaço do extrato de ontem do PayPal, por onde parte dos leitores
contribui. Parte, porque há outras contribuições, de R$ 10, R$ 30 e R$ 50. Oculto o nome dos
contribuintes, todos eles na minha memória e no meu coração porque,
desgraçadamente, vivemos uma era em que todo mundo pode ser discriminado por
isso.
Mas
publico, para que se envergonhem ao ver que nem todos são como eles. E que não
há dinheiro algum do qual eu tenha de me envergonhar ou esconder, mas posso, ao
contrário, orgulhar-me e agradecer.
Informação
e opinião, na cabeça deles, são mercadorias a serem vendidas.
Mas
é ainda pior.
É
algo do que querem ter o monopólio, para evitar que este país mude.
Precisam
da censura porque precisam da ditadura para impor suas causas más, desumana,
excludentes, elitistas, como o rei precisava do silêncio para que não vissem
a sua nudez.
É
esta a razão pela qual republico o ótimo artigo escrito ontem por Luís Nassif,
no GGN, que mostra como é para isso e por isso que querem o impossível: calar
os blogs ditos petistas, embora este blogueiro aqui jamais tenha dado, exceto a
Lula e a Dilma, qualquer outro voto no PT.
Jamais
entenderão que temos, sim, fidelidade a um lado: o lado do Brasil e do povo
brasileiro.
E
que a “cognição sumária”, aqui, não tem chance.
Xadrez da delação da
Folha contra jornalistas
Luis Nassif, no GGN
Na quinta-feira, a Folha
de S Paulo publicou uma não-matéria.
A
não-notícia é que o governo Temer resolveu proibir toda publicidade de empresas
públicas nos blogs críticos a ele. Ora, esse fato ocorreu no primeiro dia em
que Temer assumiu o cargo. Qual a novidade para justificar a matéria? Nenhuma.
O
gancho da matéria é o não-fato de que, desde que Temer anunciou a proibição de
publicidade de empresas públicas nos blogs, nenhum órgão público anunciou mais
nos blogs. Cadê a notícia?
A
reportagem usou a não-notícia como álibi para falar dos valores aplicados nos
blogs no ano passado, recusando-se a comparar com os valores investidos na
velha mídia, tanto antes como depois dos vetos políticos aos blogs.
Tem
lógica? Do ponto de vista jornalístico, não. Do ponto de vista político, sim.
Entende-se
a reportagem juntando outras peças do jogo:
1.
A PGR (Procuradoria Geral da República) insiste na tese da organização
criminosa nacional, infiltrada em todos os poros da República, submetida a um
comando central. A Lava Jato reitera essa versão.
2.
O TRF4 (Tribunal Regional Eleitoral da 4a Região) autoriza o Estado de Exceção
e consequentemente a aplicação do direito penal do inimigo.
Com
base nesses dois pontos, qualquer crítica à Lava Jato pode ser enquadrada como
articulação da organização criminosa.
Todos
os sinais são de que se arma uma ofensiva contra todos os pontos críticos
à Lava Jato e ao golpe. O próximo passo será investir contra os blogs, que a
Folha trata como se fosse uma organização vinculada ao comando central.
Até
agora, esse estímulo à barbárie se dava de forma diluída, com colunistas
endossando as arbitrariedades, colocando lenha na fogueira, mas sem nominar os
“inimigos” a serem alvejados.
Com
Otávio Frias Filho, a Folha abre mão dos pruridos e torna-se o primeiro veículo
a partir para a delação explícita, sendo secundada por blogueiros
especializados em deduragem.
O que está por trás
disso?
A incompatibilidade do
golpe com a liberdade de expressão
Como
alertei em vários capítulos da série Xadrez, os passos iniciais do golpe
permitiam o exercício da hipocrisia. Para Fulano A apoiar o golpe, sem afetar
sua imagem, as pessoas têm que acreditar que ele acredita que o golpe foi feito
para combater a corrupção. Para Fulano B apoiar, as pessoas precisam crer que
ele acredita que a Lava Jato é politicamente isenta. Para apoiar o governo
Temer, o Fulano C tem que esquecer as denúncias que já saíram contra Eliseu
Padilha, Geddel Vieira Lima e o próprio Michel Temer e fingir que acredita que
eles sào verdadeiros varões de Plutarco.
Por
mais que seja difícil acreditar, a sociedade brasileira ainda está submetida a
algumas formas de restrição de consciência, mesmo com a velha mídia tratando-a
como fraqueza moral em sua linha editorial. Grandes atos de canalhice, falta de
isonomia, delação, posições arbitrárias, injustiças ainda têm o condão de
despertar sentimentos de indignação.
Ainda
há algumas linhas morais que não podem ser ultrapassadas, sob risco de manchar
indelevelmente a reputação de quem o fizer.
Com
a liberdade de expressão da Internet e das redes sociais, esse jogo da hipocrisia,
de fingir que não se sabe, torna-se inviável.
Dia
desses, um post sobre a delação de Eike Baptista -mostrando como os
procuradores da Lava Jato fugiam de qualquer menção ao PSDB – rendeu mais de
420 mil visualizações apenas no GGN, sem contar a reprodução em vários outros
sites independentes e blogs. A série do Xadrez tem conseguido de 60 a 100 mil
visualizações únicas no GGN, também sem contar a republicação por outros
sítios. O mesmo acontece com artigos de outros blogs.
Com
o avanço do Estado de Exceção, esse jogo de delações praticado pela Folha cria
a possibilidade concreta de mandar blogueiros para a cadeia, submetê-los a
processos, ou intimidá-los ante o risco de serem alvo de arbitrariedades.
Vivem-se tempos de exceção.
Mesmo
sabendo disso, a Folha não vacilou. Aparentemente, Otávio decidiu atravessar a
tal linha moral.
Hoje
em dia, os blogs independentes são a última cidadela contra a escalada do
arbítrio. É nesses blogs que as consciências individuais, nas diversas áreas
profissionais, vêm buscar ânimo para romper com a cultura do medo que se
instalou no seu meio e no país
Se
conseguirem nos calar – como pretende Otavinho – os próximos alvos serão os
próprios jornais, assim que ousarem se colocar minimamente no caminho do
arbítrio. Não existe arbitrariedade que se esgote em si. Cada ato desses cria
jurisprudência, abrindo espaço para sua reiteração.
A
bolsa mídia e o pacto com Temer
A
segunda razão dessa armação contra os blogs tem a ver com a bolsa-mídia, em
preparação no governo Temer. Seu preparo já foi suficiente para segurar as
denúncias contra o Ministro-Chefe da Casa Civil Eliseu Padilha. De uma das
grandes capivaras do meio político, Padilha tornou-se um douto senhor,
pontificando sobre temas complexos e sendo tratado com respeito reverencial.
Como
expliquei em outros lances do Xadrez, provavelmente a bolsa-mídia consistirá
nas seguintes etapas:
1.
Financiamento do BNDES.
2.
Publicidade oficial maciça, com campanhas e cadernos especiais bancados pelos
Ministérios.
3.
Operação fisco. Na crise, a primeira conta a não ser paga é com o fisco. Em
outros tempos, grupos de mídia conseguiram se safar de multas bilionárias
através de diversos expedientes, como advogados da União perdendo prazo,
redução retroativa de alíquotas de impostos, desaparecimento de processos na
Receita.
Com
liberdade de expressão, esses caminhos tornam-se complexos. Por isso mesmo, a
agressão contra os blogs não irá parar na reportagem de hoje.
Lembro
que foi uma firme posição moral que, nos idos dos 80 e 90 transformou a Folha
no maior jornal do país.
Nos
tempos em que havia um comercial lembrando:
“É
possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade. Cuidado com a
informação do jornal que você recebe. Folha de São Paulo: o jornal que mais se
compra. E que nunca se vende”.
Agora,
uma frouxidão moral inesculpável poderá ser o seu epitáfio.
PS
– Meus respeitos ao repórter desconhecido, que se recusou a assinar a matéria
na Folha, sabendo que seria utilizada como instrumento de delação de colegas.
http://www.tijolaco.com.br/blog/nassif-mostra-como-se-chega-ditadura/
Nenhum comentário:
Postar um comentário