Um
problema nacional
Gilmar
está em polvorosa.
Processou
a atriz Mônica Iozzi e aparentemente está conseguindo retirar de um livro a
menção a uma conversa que teria tido com Bonner em torno de jornalismo.
Mônica
lembrou o caso Abdemalssih, o médico estuprador a quem Gilmar concedeu habeas
corpus. Abdemalssih aproveitou o HC para fugir.
E
a conversa com Bonner foi testemunhada por convidados do JN para uma reunião de
pauta.
Logo,
os problemas maiores nos dois casos são os fatos. O maior pecado depois do
pecado é a publicação do pecado, como escreveu Machado de Assis.
Não
vou tratar sequer da disparidade de forças. Como juiz do STF, Gilmar tem ampla
vantagem em qualquer embate na justiça.
Vou
falar de Gilmar, em si.
Ele
é, há muito tempo, um embaraço nacional.
Passei
seis anos na Inglaterra, com viagens frequentes pela Europa, e garanto: você
não encontra lá nada parecido com Gilmar.
Juízes
são discretos, escrevem pelos autos e não se pronunciam politicamente nos
países desenvolvidos socialmente.
Gilmar
há muito se converteu, sob a complacência das frágeis instituições brasileiras,
incluída a mídia que deveria fiscalizá-lo, num político togado.
Ele
parece ter uma vocação muito mais política do que jurídica. A ferocidade com
que bate sistematicamente no PT é um caso para o futuro estudar.
Por
que ele não faz, então, política?
Porque
precisaria de votos. Para chegar ao STF, bastou o voto de FHC. Mas para ser
deputado federal, ou coisa parecida, ele teria que dar dezenas de milhares de
votos.
Sua
tagarelice política incontida rebaixa o Brasil. Nos coloca na condição de
República de Bananas.
Só
recentemente alguns colunistas da mídia começaram a mostrar desagrado com sua
falação inextanquível. Jânio de Freitas e Bernardo Melo Franco, ambos da Folha,
têm criticado com alguma frequência Gilmar.
É
alguma coisa, mas é pouco ainda. Nunca um só editorial reprovou Gilmar por uma
conduta que em países avançados é simplesmente intolerável.
Juízes
discretos são fundamentais numa democracia. Se você sabe antecipadamente como
eles vão votar, o que é o caso de Gilmar em questões políticas, é uma tragédia
nacional.
Por
mais processos que espalhe, Gilmar não vai conseguir escapar de uma verdade
doída: ele é um problema sério brasileiro.
O
inferno não são os outros, para lembrar Sartre. É ele mesmo.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/gilmar-mendes-se-transformou-num-dos-maiores-embaracos-nacionais-por-paulo-nogueira/
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