A
imprensa falsamente moralista adora uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A
escandalização da política aumenta a tiragem dos jornais e a audiência da tevê
– o que garante mais publicidade e mais grana aos barões da mídia. Mas mesmo
com estes ganhos econômicos, a CPI só obtém os holofotes quando também cumpre
os objetivos políticos das elites. Se ataca o PT e as forças de esquerda, ela é
noticiada quase todos os dias. Já quando afeta os partidos da oligarquia, ela some
do noticiário. É o caso da CPI da máfia da merenda, instalada pela Assembleia
Legislativa de São Paulo (Alesp), que apura desvio de recursos públicos no
reinado dos tucanos. A operação-abafa para esconder a mutretas do governador
Geraldo Alckmin é descarada. Mas nem sempre a blindagem midiática funciona.
Nos
últimos dias, graves denúncias vieram a público. Em sua delação premiada aos
procuradores da Operação Alba Branca, o lobista Marcel Júlio confirmou que
pagou propina ao deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Alesp e homem de
confiança do "picolé de chuchu".
Segundo o tímido noticiário, nos autos do processo aparece a informação
de que o tucano agiu em favor dos interesses da Cooperativa Orgânica Agrícola
Familiar (Coaf) junto à Secretaria da Educação do Estado. "Em troca, Capez
teria recebido R$ 450 mil para a sua campanha de reeleição, em 2014. A
Cooperativa também teria cedido um carro para o comitê de Capez", relata o
Estadão nesta terça-feira (11).
Apesar
da gravidade da denúncia, os jornalões preferiram dar maior destaque à resposta
do presidente da Alesp. Ainda de acordo com o Estadão, "o deputado
Fernando Capez (PSDB) afirmou nesta terça-feira que é vítima de uma 'onda
difamatória' e que não intercedeu em favor da Coaf, apontada como carro-chefe
das fraudes em contratos de merenda escolar em dezenas de prefeituras e que
mirava também a Secretaria da Educação do governo Alckmin... Em nota pública,
Capez disse que 'repudia com indignação a tentativa de seu envolvimento na
operação Alba Branca e considera absurda a afirmação de que teve qualquer
tratativa de dinheiro com membros da Coaf'".
Também
nos últimos dias veio à tona a denúncia de que o sinistro Luiz Roberto dos
Santos, o "Moita", ex-chefe de gabinete da Casa Civil de Geraldo
Alckmin – outro investigado na Operação Alba Branca –, recebia salário acima do
teto do funcionalismo. Segundo matéria da Folha, o homem de confiança do
tucanato "ganhou acima do teto de março a setembro de 2015, quando era
chefe de gabinete, e foi dispensado pelo governo, em agosto deste ano, de repor
a quantia indevida. Ele deixou a Casa Civil em janeiro, um dia antes da Alba
Branca ser deflagrada pela Polícia Civil. Hoje, ele atua na CPTM (estatal de
trens)". O teto para servidores do Executivo é R$ 21.631, mas ele recebia
acima do valor.
"A
gestão Geraldo Alckmin (PSDB) não informou quanto Moita recebeu a mais. O
governo afirmou que o processo que o dispensou de devolver os valores 'está
sendo revisto'. Segundo a Alba Branca, Moita foi flagrado em um grampo
orientando a Coaf – cooperativa suspeita de fraudar licitações e pagar propinas
– sobre um contrato com a Secretaria Estadual da Educação para fornecer suco de
laranja a escolas da rede", complementa a também tímida reportagem.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/10/capez-moita-a-mafia-da-merenda.html
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