Neste
7 de setembro, Dia da Independência, vale a pena reler o texto do intelectual
canadense Michel Chossudovsky postado no site russo Sputnik – em sua versão
brasileira. O artigo levanta a hipótese de que o golpe perpetrado contra a
presidenta Dilma Rousseff no tribunal de exceção do Senado foi orquestrado
pelos abutres financeiros de Wall Street. Só a história, inclusive com a
desclassificação dos documentos secretos do governo dos EUA, poderá dizer se a
tese do estudioso das ações do império é verdadeira. Mas apenas os ingênuos
descartam por completo as conspirações imperialistas contra a independência dos
povos. Reproduzo abaixo a matéria do Sputnik e retorno em seguida:
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Golpe 'made
in USA': Queda de Dilma foi ordenada por Wall Street?
Em
artigo publicado pela primeira vez em junho, mas reeditado neste 1º de
setembro, um dia após a consumação do impeachment no Brasil, o renomado
professor e economista canadense Michel Chossudovsky explica por que a queda de
Dilma foi ordenada por Wall Street e tenta desmascarar “os atores por trás do
golpe”.
“O
controle sobre a política monetária e a reforma macroeconômica eram os
objetivos últimos do golpe de Estado. As nomeações principais do ponto de vista
de Wall Street são o Banco Central, que domina a política monetária e as
operações de câmbio, o Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil”, diz o
artigo, ressaltando que, desde o governo FHC, passando por Lula e Temer, Wall
Street tem exercido controle sobre os nomes apontados para liderar essas três
instâncias estratégicas para a economia brasileira.
“Em
nome de Wall Street e do ‘consenso de Washington’, o ‘governo’ interino
pós-golpe de Michel Temer nomeou um ex-CEO de Wall Street (com cidadania dos
EUA) para dirigir o Ministério da Fazenda”, diz o artigo, referindo-se a
Henrique Meirelles, nomeado em 12 de maio. Como observa o artigo, Meirelles,
que tem dupla cidadania Brasil-EUA, serviu como presidente do FleetBoston
Financial (fusão do BankBoston Corp. com o Fleet Financial Group) entre 1999 e
2002 e foi presidente do Banco Central sob o governo Lula, entre 1º de janeiro
de 2003 e 1º de janeiro de 2011. Antes disso, o atual ministro da Fazenda, que
volta ao poder sob o governo Temer após ter sido dispensado por Dilma em 2010,
também atuou por 12 anos como presidente do BankBoston nos EUA.
Já
o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, nomeado por Temer em 16 de
maio, tem dupla cidadania Brasil-Israel e foi economista-chefe do Itaú, maior
banco privado do Brasil. Segundo o artigo, Goldfajn “tem laços estreitos tanto
com o FMI [Fundo Monetário Internacional] quanto com o Banco Mundial”.
“Goldfajn já havia trabalhado no Banco Central sob Armínio Fraga, bem como sob
Henrique Meirelles. Ele tem estreitos laços pessoais com o professor Stanley
Fischer, atualmente vice-presidente do Federal Reserve dos EUA [além de
ex-vice-diretor do FMI e ex-presidente do Banco Central de Israel].
“Desnecessário
dizer que a nomeação de Golfajn ao Banco Central foi aprovada pelo FMI, pelo
Tesouro dos EUA, por Wall Street e pelo Federal Reserve dos EUA”, afirma o
artigo. Fraga, por sua vez, atuou como presidente do Banco Central entre 4 de
março de 1999 e 1º de janeiro de 2003. Ele foi diretor de fundos de cobertura
(hedge funds) por seis anos na Soros Fund Management (associada ao magnata
George Soros), e também tem dupla cidadania Brasil-EUA.
“O
sistema monetário do Brasil sob o real é fortemente dolarizado. Operações da
dívida interna são conducentes a uma dívida externa crescente. Wall Street tem
o objetivo de manter o Brasil em uma camisa de força monetária”, explica o
professor canadense.
Por
isso, afirma o artigo, quando Dilma Rousseff aponta um nome não aprovado por
Wall Street para a presidência do Banco Central, a saber, Alexandre Antônio
Tombini, cidadão brasileiro e funcionário de carreira no Ministério da Fazenda,
é compreensível que os interesses financeiros externos se articulem aos
interesses das elites brasileiras para mudar o quadro político no país.
Contexto
histórico
No
início de 1999, na sequência imediata do ataque especulativo contra o real, diz
Chossudovsky, o presidente do Banco Central, Francisco Lopez (que havia sido
nomeado em 13 de janeiro de 1999, a Quarta-feira Negra) foi demitido pouco
depois e substituído por Armínio Fraga, cidadão americano e funcionário da
Quantum Fund de George Soros em Nova York. "A raposa tinha sido nomeada
para tomar conta do galinheiro", resume o artigo, afirmando que, com
Fraga, os especuladores de Wall Street tomaram o controle da política monetária
do Brasil.
Sob
Lula, o apontamento de Meirelles para a presidência do Banco Central do Brasil
dá seguimento à situação, diz o artigo, destacando que o nomeado já havia
atuado anteriormente como presidente e CEO dentro de uma das maiores
instituições financeiras de Wall Street. “A FleetBoston era o segundo maior
credor do Brasil, após o Citigroup. Para dizer o mínimo, ele [Meirelles] estava
em conflito de interesses. Sua nomeação foi acordada antes da ascensão de Lula
à presidência”, escreve o autor. Além disso, Meirelles foi um firme defensor do
controverso Plano Cavallo da Argentina na década de 1990: “um ‘plano de
estabilização’ de Wall Street que causou grandes estragos econômicos e
sociais”, segundo o professor Chossudovsky.
De
acordo com ele, “a estrutura essencial do Plano Cavallo da Argentina foi
replicada no Brasil sob o Plano Real, ou seja, a imposição de uma moeda
nacional conversível dolarizada. O que este regime implica é que a dívida
interna é transformada em uma dívida externa denominada em dólar”. Quando Dilma
sobe à presidência em 2011, Meirelles é retirado da presidência do Banco
Central.
Como
ministro da Fazenda de Temer, ele defende a chamada “independência do Banco
Central”. “A aplicação deste conceito falso implica que o governo não deve
intervir nas decisões do Banco Central. Mas não há restrições para as ‘Raposas
de Wall Street’”, diz o artigo, acrescentando que “a questão da soberania na
política monetária é crucial” e que “o objetivo do golpe de Estado foi negar a
soberania do Brasil na formulação de sua política macroeconômica”.
De
fato, sob o governo Dilma, a "tradição" de nomear uma “raposa de Wall
Street" para o Banco Central foi abandonada com a nomeação de Tombini, que
permaneceu no cargo de 2011 até maio de 2016, quando Temer assume a presidência
interina do país. A partir daí, Meirelles, no Ministério da Fazenda do governo
interino, “aponta seus próprios comparsas para chefiar o Banco Central
[Goldfajn] e o Banco do Brasil [Paulo Caffarelli]”, diz o artigo, sublinhando
que o novo ministro havia sido descrito pela mídia dos EUA como "market
friendly" (“amigo do mercado”).
Conclusão
“O
que está em jogo através de vários mecanismos – incluindo operações de
inteligência, manipulação financeira e meios de propaganda – é a
desestabilização pura e simples da estrutura estatal do Brasil e da economia
nacional, para não mencionar o empobrecimento em massa do povo brasileiro”,
afirma Chossudovsky. Segundo a tese do renomado professor, “Lula era
‘aceitável’ porque seguiu as instruções de Wall Street e do FMI”, mas Dilma,
com um governo mais guiado por um nacionalismo reformista soberano, não pôde
ser “aceita” pelos interesses financeiros dos EUA, apesar da agenda política
neoliberal que prevaleceu sob seu governo.
“Se
Dilma tivesse decidido manter Henrique de Campos Meirelles, o golpe de Estado
muito provavelmente não teria ocorrido”, afirmai o analista. “Um
ex-CEO/presidente de uma das maiores instituições financeiras dos Estados
Unidos (e um cidadão dos EUA) controla instituições financeiras-chave do Brasil
e define a agenda macroeconômica e monetária para um país de mais de 200
milhões de pessoas. Chama-se um golpe de Estado… dado por Wall Street”, conclui
Chossudovsky.
Michel
Chossudovsky, escritor premiado, é professor (emérito) de Economia da Universidade
de Ottawa, fundador e diretor do Centro de Pesquisa sobre a Globalização (CRG)
e editor da organização independente de pesquisa e mídia Global Research. Ele
lecionou como professor visitante na Europa Ocidental, no Sudeste Asiático e na
América Latina, serviu como conselheiro econômico para governos de países em
desenvolvimento e tem atuado como consultor para várias organizações
internacionais.
Ele
é o autor de onze livros, publicados em mais de vinte línguas. Em 2014, foi
premiado com a Medalha de Ouro de Mérito da República da Sérvia por seus
escritos sobre a guerra de agressão da OTAN contra a Iugoslávia.
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“The
Economist” abandona tom pessimista
As
reflexões do economista Michel Chossudovsky são assustadoras – e só a história,
repito, poderá dizer se é verdadeira a tese que o “golpe dos corruptos” no
Brasil foi orquestrado pelos banqueiros de Wall Street e pelos falcões
imperialistas dos EUA. Curiosamente, na mesma semana em que o artigo foi
publicado, a revista “The Economist”, considerada a bíblia dos abutres
financeiros, publicou uma reportagem sobre o “otimismo” na economia reinante
após a “posse” do Judas Michel Temer. Em suas edições anteriores, a publicação
dos rentistas apresentava o Brasil como o símbolo da tragédia na economia
mundial, um inferno. De repente, num passe de mágica, o país virou um paraíso.
Até
um articulista da Folha, Daniel Buarque, estranhou a abrupta mudança de linha
editorial. “A capa da revista britânica ‘The Economist’ havia defendido, em
março, o que se consolidou nesta semana. Era hora de Dilma Rousseff partir,
dizia, criticando o seu governo e a chamando de ‘inepta’. Nesta quinta (1º), um
dia depois do impeachment, a publicação oficializou uma mudança de tom em sua
cobertura relacionada ao Brasil: Esta é a ‘hora de Temer’, diz o título da
reportagem sobre o novo presidente”. "A visão da Economist é mais positiva
sobre o Brasil se a política econômica do país se aproxima mais do viés
liberal", explica a professora Camila Sales, da Universidade Federal de São
Carlos.
A
professora ainda poderia acrescentar: se a política econômica serve aos
interesses dos abutres financeiros – o que só confirmaria a hipótese levantada
pelo economista Michel Chossudovsky.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/09/wall-street-ordenou-queda-de-dilma.html
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