Trabalho
noturno e correria para produzir “ao menos uma” denuncia criminal contra Lula,
uso de velhas fontes como material novo, humilhação diante da mídia – eis a
nova fase da Lava Jato. Vejamos o que
significa.
Os
procuradores da Lava Jato, além de estarem morrendo de ódio e exasperados de
ciúmes contra Lula, estão muito ressentidos com o desprezo que a mídia tem
votado à equipe. Há um forte sentimento de abandono e desprestígio, a tal ponto
que já aceitam posar como mendigos de mídia, humilhando-se numa coletiva
convocada por eles mesmos e usada como um pires para recolher níqueis de
projeção.
Quando
Lula volta ao centro da cena com o impeachment de Dilma, quando se diz
(falsamente, ao que parece) que foi ele quem negociou o fatiamento que
preservou os direitos políticos da ex-presidente, e, ainda, quando figura com
destaque na mídia durante a posse da nova presidente do STF, os procuradores,
mortificados por ciúmes, começam uma correria tresloucada para finalizar
processos criminais e convocam coletiva.
Eles
querem sair do ostracismo e do desprezo que os levou ao porão da mídia, depois
que falharam em dar a ela o que pedia: provas substanciais para incriminar
Lula. É isso que explica a correria adoidada da Lava Jato estampada, até com
certa ironia, na home da Folha de São Paulo/UOL.
A
insanidade é tanta que os procuradores da Lava Jato esquecem que são agentes
públicos e que, por isso, não tem direito de usar recursos públicos para
produzir trabalho porco e gambiarras noturnas. A manchete estampada na home do
UOL é clara, tanto para expor a pressa insana que tomou conta da operação,
quanto para atestar a qualidade do trabalho que se pode esperar. Seu título é
de nitidez cortante:
Lava
Jato busca concluir ao menos uma denuncia criminal contra Lula
Ou
seja, lido pelo inverso, sem preconceitos golpistas, a manchete seria essa:
Lava
Jato não conseguiu ainda concluir sequer uma denuncia criminal contra Lula
Lemos
na matéria:
“A
força-tarefa da Operação Lava Jato tem buscado concluir nos últimos dias pelo
menos uma denúncia criminal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os trabalhos entraram pela noite desta terça-feira (13).”
Bem,
esse trabalho corrido, noite adentro, era comum na Lubianka em Moscou e na
prisão de Moabit em Berlim, ou seja, nas prisões das polícias políticas de
estados totalitários. Não é o que se espera de procuradores federais num regime
de estado democrático de direito.
Desde
quando, aliás, a pressa foi indício de trabalho bem feito? E da pressa
ensandecida, o que podemos esperar?
Um
leitor sem preconceitos, se pergunta de imediato como é possível que em dois
anos, de buscas contínuas, inquirição de centenas de testemunhas, oitivas,
vazamentos os mais desprezíveis, utilização de centenas de técnicos, peritos,
advogados, analistas, dedos duros, denunciantes, e delações premiadas, a Lava
Jato ainda não tenha concluído “ao menos uma denúncia criminal contra Lula”.
É
mais incrível ainda quando já há muito tempo, vem sendo dito ao público, por
membros da força tarefa da Lava Jato, que “Lula não podia não saber”. A única
coisa consistente que se deduz disso, dessa exposição pública permanente sem
fatos sólidos para sustenta-la, é que os procuradores fizeram acusações sem
provas. As provas não existiam.
E
continuam não existindo. É o que diz a matéria do UOL que deixa claro que não
há nada de novo no front. Observem com quem a Lava Jato diz ter obtido “novos
depoimentos” – com o ex-senador cassado Delcídio do Amaral e com Pedro Corrêa,
o deputado condenado a 20 anos e 7 meses de prisão que fechou generosa delação
premiada com a Lava Jato. Tirar algo novo de Delcídio e de Corrêa, seria como
fazer suco com bagaços de laranja. Não há mais o que espremer:
“As
investigações relativas a Lula entraram na reta final no mês passado, após a
colheita de novos depoimentos, como do ex-senador petista Delcídio do Amaral e
do ex-deputado federal do PP Pedro Corrêa.
Para
a força-tarefa, as apurações e oitivas corroboraram suspeitas de que o
ex-presidente era o proprietário de fato do sítio no interior paulista – o que
Lula nega.
Um
laudo da Polícia Federal já apontou indícios de que Lula e sua mulher, Marisa
Letícia, orientaram reformas feitas no sítio.
Parte
das obras, conforme revelou a Folha, teve participação da empreiteira
Odebrecht. As obras no sítio custaram ao todo R$ 1,2 milhão, de acordo com a
avaliação da PF, que também identificou objetos de uso pessoal de Lula e Marisa
na propriedade.”
É
absurdo que os procuradores sirvam esse prato requentado pela enésima vez, com
descaramento incrível, e sem a menor inovação nos métodos destinados a agitar a
opinião pública.
Mas
por que essa investida agora? Exatamente porque Cunha foi cassado no dia 12 e,
assim, mendigando um fiapo de atenção da mídia, os procuradores tentam pegar
carona na onda que se formou. Tentar aproveitar a marola para surfar no assunto
que, como até pouco tempo sonhavam, seria a coroação de toda a Lava Jato.
Este
sonho impossível está cada vez mais distante. No desespero, parasitando o
efeito Cunha, no que parece um pouquíssimo inteligente erro de avaliação, a
Lava Jato ressuscita a perseguição a Lula.
Não
é estranho que, numa operação que teria a mais alta significação para o país,
chegando ao topo da hierarquia da corrupção na Petrobras, procuradores atuem em
ritmo de correria, varem a noite de terça-feira para, já na quarta-feira, numa
coletiva de imprensa, apresentarem os
frutos do que seria a culminação de todo a Lava Jato? Mesmo o trabalho porco
deve ter um limite, não? Tudo isso, para dizer o mínimo, não cheira nada bem.
http://www.ocafezinho.com/2016/09/14/os-novos-aloprados-da-midia-lava-jato-noturna-tenta-pegar-lula/
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