“Nós
viemos de 20 anos de ditadura, ganhamos e achamos que estávamos bem. Mas temos
que lutar todos os dias”, afirma presidenta. Boulos promete grande manifestação
em Brasília, dia 29
por
Redação RBA
"Eu
não vou ao Senado porque acredito nos meus belos olhos, vou lá discutir porque
acredito na democracia", disse presidenta
São
Paulo – Em Ato contra o Golpe, em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais
na Casa de Portugal, centro de São Paulo, na noite de hoje (23), a presidenta
Dilma Rousseff conclamou: "Vamos
todos juntos resistir". Em discurso de cerca de meia hora, ela disse:
"É importante chamar os fatos e as ações pelo verdadeiro nome. Isto é um
golpe”. Afirmou que, apesar do processo, é preciso “ampliar o espaço de
discussão”. “Por isso eu vou, sim, ao Senado. Eu não vou ao Senado porque
acredito nos meus belos olhos, vou lá discutir porque acredito na democracia,
que teremos que evitar que esse impeachment sem crime de responsabilidade seja um
mal maior.”
A
presidenta afastada vai ser julgada no Senado Federal a partir da próxima
quinta-feira (25) e irá ao Congresso fazer sua própria defesa na segunda-feira
(29). Segundo ela, “resistir e lutar” são as palavras que devem nortear as
ações da sociedade civil comprometida com a defesa da democracia. “Nós viemos
de 20 anos de ditadura, ganhamos e achamos que estávamos bem. Mas temos que
lutar todos os dias.”
“Nós
ganhamos algumas lutas nesse processo. A primeira foi que os movimentos
sociais, os partidos progressistas, os artistas, as mulheres, todos nós fomos
capazes de formar uma grande frente de resistência, que estão aqui hoje
representada em cada um de vocês, nos sindicatos, na Frente Brasil Popular, na
Frente Povo sem Medo, na luta pela moradia, pelos médicos, advogados e juristas
pela democracia”, afirmou.
O
coordenador da Frente Povo sem Medo e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), Guilherme Boulos, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, fizeram
discursos contundentes. “Temer e sua turma de golpistas dizem que, passando o
julgamento do Senado, se o golpe for vitorioso, o país vai entrar num período
de estabilidade, céu de brigadeiro, paz social. O que queremos dizer é que eles
estão brincando com fogo. Se este golpe for vitorioso vai se abrir a porteira
de um longo período de instabilidade”, prometeu Boulos.
Segundo
Boulos, os movimentos que coordena e outros estarão na frente do Senado, no dia
29, durante a votação, “quando a presidente for falar naquele covil, e
estaremos fechando várias partes do país. Isso não passa e não passará”, disse
. “O presidente Vargas foi derrotado pelas forças mais atrasadas pela campanha
mais sórdida comandada por Carlos Lacerda. Naquele julgamento, Carlos Lacerda
ganhou, mas hoje, tantas décadas depois, está no seu lugar, na lata de lixo da
historia. E é assim que vão se encontrar os golpistas de hoje daqui a um
tempo”, disse Boulos.
Haddad
afirmou que o que está em jogo no atual momento é “muito mais” do que uma
simples troca de pessoas ou coalização no poder. “A presidenta Dilma, que já
foi vítima de um golpe quando militava, é vitima agora de outra modalidade de
golpe, um golpe institucional contra a Constituição.”
PEC
241
“O
que está em jogo é a luta histórica dos brasileiros pelo fim do regime militar
consagrada na Constituição de 1988, as vidas ceifadas ao longo do período em
que centenas de brasileiros perderam suas vidas no combate pela democracia”,
disse. O prefeito citou a PEC 241, enviada ao Congresso pelo governo interino,
como “uma verdadeira desconstituinte”, disse o prefeito.
“A
PEC 241 não é senão a revogação dos direitos sociais do povo brasileiro” e
significa que os brasileiros não terão direito a acesso a educação, transporte
e saúde pública. “Como alguém em sã consciência pode propor o congelamento dos
gastos sociais por 20 anos, com todas as mazelas a serem superadas, sobretudo
em relação à população mais carente? Qual o prefeito, governador e presidente
que vai conseguir governar?”, questionou Haddad. “Depois dos direitos sociais,
virão os políticos, e depois os civis. Eles já abriram uma agenda de
intolerância contra mulheres, LGBTs, contra os negros.”
Dilma
reafirmou a fala do prefeito paulistano. “Pensam em sair da crise fazendo um
brutal ajuste contra a saúde, a educação, a cultura, e fazendo a privatização
das riquezas do país, principalmente do pré-sal.” Ela voltou a dizer que o
processo de impeachment “é uma fraude”. “Por que fizeram isso? Porque a
democracia é incômoda, quando você quer evitar a participação popular nas
decisões. O que pensaram? ‘Vamos substituir um colégio eleitoral de 110 milhões
de pessoas por um menor, de 81’.”
Sem
citar nomes, a presidenta disse que o governo interino de Michel Temer “liberou
geral” as privatizações e a venda de terras do país. “Nenhum governo no mundo
torna livre a compra de terras por estrangeiros.”
Embora
não tenha ido ao evento, o jurista Dalmo Dallari enviou um texto, lido pelo
ex-senador Eduardo Suplicy, em que chama o impeachment de “farsa jurídica”.
“Por despreparo jurídico ou má-fé, algumas personalidades ligadas à área
jurídica argumentam, em sentido contrário, que está na Constituição. Mas se
esquecem que a Constituição estabelece condições precisas para o impeachment,
exigindo que a presidente tenha praticado ato que configure crime de
responsabilidade”, escreveu Dallari. Não
sendo assim, trata-se de “um golpe contra a Constituição Federal feita pelo
povo em 1988”.
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/08/vamos-todos-juntos-resistir-convoca-dilma-em-ato-pela-democracia-em-sao-paulo-9100.html
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