Após
mais uma edição da já tradicional “Street Party” coxinha, a favor do golpe e
contra a corrupção, chego à conclusão que em qualquer festa Rave de jovens do
ensino médio se encontra pessoas mais equilibradas, mais polidas e menos
embriagadas. Os manifestantes da chamada “República de Curitiba” foram os
vencedores do Oscar de melhor circo dos horrores. Gente fina, elegante e
sincera, ao desserviço da boa educação e da democracia. Um paradoxo patológico
de fácil diagnóstico, mas que tenta se camuflar por detrás de lentes Gucci,
bandanas Armani, abadás oficiais da CBF e um complexo de superioridade que
chega a ser risível de tão megalomaníaco e desenfreado.
A
Atriz Leticia Sabatella foi a puta, digo, a vítima da vez. Não sabendo que não
é permitido andar em via pública quando o grupo mais relevante da nossa
sociedade se encontra no mesmo local, a Atriz sentiu na pele a sensação de
estar interpretando Maria Madalena na vida real. A cena é constrangedora e nos
remete a algumas atitudes que insistem em se perpetuar, mas que precisam ser
extintas da nossa cultura. Entre elas o machismo, a intolerância e o
preconceito. Não consigo conceber a possibilidade do bom caráter conviver
harmonicamente dentro de uma mesma pessoa, com as três “qualidades” citadas
anteriormente. É como abastecer com água um carro a gás e querer convencer a
alguém de que ele vai andar. Só é
possível em mentes conceitualmente deturpadas e socialmente mal intencionadas.
No
vídeo em questão, entre dezenas de bananas de pijama empunhando a bandeira
nacional, destacam-se uma senhora vestida a caráter para a ocasião e um senhor
que certamente é um pai de família defensor da moral e dos bons costumes. Ambos
hostilizam a Atriz com palavras, xingamentos e expressões típicos do dialeto da
elite golpista. Vagabunda, comunista, vai pra Cuba, a mamata acabou e fora PT,
foram algumas delas. Os mesmos clichês de sempre. Tenho a impressão que esses
termos compõe uma espécie de mantra que visa afugentar os seres pensantes que
obsidiam as suas ideias elitistas e segregacionistas. Mas o discurso é tão raso
que eles acabam atraindo espíritos zombeteiros, que tentam lhes trazer de volta
a razão e lhes mostrar o quão ridículo são os seus argumentos.
A
tríade machismo-intolerância-preconceito formou um acorde, cuja nota destoante
foi ver uma mulher chamando a outra de vagabunda, sem que a outra seja de fato
uma, apenas por discordar de suas ideias, mostrando assim que o machismo não é
exclusividade do sexo masculino. O tal cidadão de bem surge do nada, apenas
para chamar a Atriz de puta e sair sorridente, com a sensação de ter cumprido o
seu dever de machão idiota. Para ele deve ter sido como fazer um gol numa final
de copa do mundo e eu tenho a certeza de que ele está orgulhoso do que fez. A
sua esposa, a sua mãe e todas as mulheres que ali estavam combatendo ao seu
lado, também devem estar orgulhosas dele. Não duvido. Para esse tipo de gente
toda mulher é puta se não for de direita, todo pobre é bandido se não for seu
empregado e todo político é comunista se não gove rnar para os mais ricos.
Naquele
momento Leticia Sabatella, declaradamente contra o golpe, representava tudo o
que a elite golpista detesta com todas as suas forças. Ela expressou a opinião
contrária, mesmo sem ter dito nada. Essa parte da elite, dona da verdade e de
todo o conhecimento supremo, não suporta ser contrariada. Ela lembrou os pobres
e os projetos de inclusão social através dos quais muitos foram beneficiados,
mesmo sem que ela pertença a classe menos favorecida da população. Ela
materializou o sentimento da maioria da população que rejeita o governo intruso
e sua política escravocrata que visa tornar o homem (pobre) servo do estado,
impondo leis trabalhistas que retiram direitos dos trabalhadores e atribui a
eles mais deveres. Ela retratou as mulheres de coragem que não se deixam
intimidar pela cultura do machismo e dispensam o rótulo de sexo frágil.
A
intolerância aliada a uma forte inclinação a insanidade, sempre deu o tom
dessas manifestações ditas patrióticas. Uma gente que grita que a sua bandeira
nunca será vermelha e não percebe que indiretamente são os responsáveis sociais
por mais da metade do sangue vermelho que escorre a céu aberto na nossa selva
urbana. Uma gente que exclui, elitiza, discrimina e que se julga superior a
tudo e a todos que não fazem parte do seu meio. Uma gente que não se constrange
em sair às ruas para protestar usando os seus acessórios de grife e repondo as
energias a sombra bebendo água Perrier e cerveja artesanal. Uma gente que bate
panela e sequer sabe lavar uma. Uma gente que defende as suas capitanias
hereditárias com unhas e dentes e não abre mão da desigualdade e da injustiça social.
Às
putas resta a esperança por saber que Cristo perdoou os pecados cometidos por
Maria Madalena e a conduziu a um final feliz. Enquanto que para os golpistas
fica o exemplo de Judas Iscariotes, o traidor, que morreu enforcado pela
própria ganância e por sua sede de poder.
Pai!
Perdoai-os! Embora eles saibam bem o que fazem.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/neggotom/246896/Toda-mulher-%C3%A9-puta-se-n%C3%A3o-
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