Modelo
policial militar não combate criminalidade, dizem advogados
Tramitam
atualmente na Câmara dos Deputados 11 projetos que pretendem alterar o modelo
de segurança pública brasileiro. Dez dessas iniciativas são propostas de emenda
à Constituição que pretendem desmilitarizar as forças policiais brasileiras,
criar uma polícia única ou até transferir a competência pela segurança pública
à União.
Militarização
do policiamento ostensivo não condiz com o Estado Democrático de Direito,
afirma Henri Clay.
Já
a 11ª quer inserir aulas de política social antidiscriminatória e de direitos
da sociedade nos cursos de formação policial. Porém, nenhum deles está próximo
de chegar ao Plenário, pois todos ainda são analisados por comissões da Câmara.
As
deficiências no modelo de segurança pública brasileiro não são nenhuma
novidade. Os erros em perseguições, os abusos durante prisões e a investigação
precária de crimes são as principais críticas. Juntam-se a esses problemas a
falta de infraestrutura e treinamento das força policiais.
“Não
dá para cravar um modelo ideal, que resolveria todos os problemas”, diz o
delegado da Polícia Civil do Paraná e colunista da ConJur, Henrique Hoffman. O
delegado destaca que, apesar das várias ideias, não há como pensar em mudar o
sistema de segurança pública brasileiro se a real efetividade do sistema atual
não foi analisada. Diz que é preciso dar recursos e efetivo para que o modelo
funcione em sua plenitude, mostre seus resultados e, aí sim, seja avaliado para
uma eventual alteração.
Henrique
Hoffmann afirma que antes de alterar modelo de segurança pública é preciso ver
como ele funciona em sua plenitude.
Apesar
disso, Henrique Hoffmann afirma ser contra o caráter militar da polícia. “A militarização da Segurança Pública não
traz benefícios.” Segundo o delegado, esse modelo belicoso colide frontalmente
com o ideal da polícia comunitária citada por Henri Clay, que deve se integrar
à sociedade e visar o bem-estar, não o confronto. “A formação dada no
militarismo é incompatível com o modelo da polícia comunitária”, diz.
O
presidente da OAB-SE, Henri Clay, concorda com a desmilitarização. “A
militarização prepara a polícia para a guerra, e não queremos guerra. A polícia
militarizada é inadequada para o Estado Democrático de Direito”, diz.
Segundo
Henri Clay, a solução é federalizar a segurança pública. “Os estados
brasileiros falharam no combate à violência”, opina, destacando que é preciso
cria uma polícia única, que una o efetivo do policiamento ostensivo com os
responsáveis pelas investigações.
Marcelo
Feller critica a falta de tecnologia das polícias, o que acaba atrapalhando a
solução de crimes.
O
advogado criminalista Marcelo Feller questiona o motivo de um país que não está
em guerra ter militares na rua. Afirma ainda que já ouviu de policiais
militares que a corporação deve se desmilitarizar devido à rigidez do sistema,
à hierarquia impositiva e às deficiências no plano de carreira.
Apesar
de concordar com a desmilitarização, Feller não vê a federalização como solução
aos problemas atuais. Ele defende a intensificação da tecnologia nas polícias
para que seja possível solucionar crimes em que não há flagrante.
Segundo
ele, a maioria dos casos julgados surge de prisões no ato de um crime, pois,
quando isso não ocorre, o delito fica sem solução. “A minha impressão é que não
há preocupação em punir, mas trazer uma sensação de segurança para a população.”
Feller
ressalta que em pleno século XXI não há como fazer uma investigação a partir
das digitais no Brasil, pois não há um sistema eficiente para tal. “Precisamos
começar a pensar em estratégias inteligentes.”
Ele
também destaca que as polícias não são bem aparelhadas e cita a ausência de
câmeras em viaturas e com policiais durante diligências. “Isso protege o
policial de acusações injustas, protege o cidadão do mau policial e dá
tranquilidade ao Judiciário para julgar.”
Além
de ser contra a militarização, Hoffmann também defende que a polícia
responsável pelo patrulhamento não cuide de investigações.
Em
sua coluna na ConJur, publicada em junho deste ano, ele alerta para os perigos
de policiais militares apurarem crimes, que é uma atribuição da Polícia Civil.
“A
escuridão da caserna não é lugar adequado para se apurar crimes comuns. A
garantia de ser investigado apenas pela autoridade de polícia judiciária
devida, em respeito ao princípio do delegado natural, revela-se verdadeiro
direito fundamental do cidadão. Os fins não justificam os meios no campo da
devida investigação criminal, em que forma significa garantia e condição
necessária da confiança dos cidadãos na Justiça”, escreveu.
PEC
432/2009
PEC
431/2014
PEC
430/2009
PEC
321/2013
PEC
198/2016
PEC
127/2015
PEC
117/2015
PEC
89/2015
PEC
56/2015
PL
4051/2015
Por Brenno
Grillo
http://www.conjur.com.br/2016-ago-07/modelo-policial-militar-nao-combate-criminalidade-dizem-advogados
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