Num ato que
talvez tenha vindo do que lhe restou de digno dentro de si, o presidente do
STF, Ricardo Lewandowski, aceitou uma única questão de ordem apresentada pelos
adversários do golpe.
Ele acolheu o
protesto da senadora Vanessa Grazziotin para que não se retirassem das notas
taquigráficas da sessão de ontem as palavras infâmia e fraude.
Porque, no
exame que os tempos farão sobre o que se passou ontem, a palavra infâmia será
indispensável.
A política – e
nossa habilidade ou inabilidade ao fazê-la – dissolve-se no tempo. O
significado de nossos atos, não.
Aceitem-se
todas as “acusações” políticas que se faz a Dilma – ingenuidade, vacilações,
inapetência pelo jogo parlamentar – mas
pondere-se que, no seu segundo mandato, o comando da Câmara foi assumido pelo
mais poderoso gangster da política brasileira nas últimas décadas, Eduardo
Cunha.
Também se leve
em conta que só tenha se dado conta da degola para a qual caminhava quando
o clima de perseguição instaurado no
país já não lhe permitia uma mudança efetiva, embora desejada, como ficou claro
com a demorada e bloqueada indicação de Lula para a Casa Civil.
Nas artes
sombrias da política, isso explica o que se passou ontem.
Fora delas,
nada explica o restante: um processo aberto por um ladravaz como Cunha, a
admissão da acusação numa sessão que mais parecia um circo de loucos, a
designação do pupilo do candidato derrotado, Aécio Neves, como relator do
processo no Senado e um julgamento onde não vieram ao caso os fatos, apenas as
opiniões.
Por último, ver
o presidente do Supremo Tribunal Federal reduzido à condição de
“mestre-de-cerimônia” do terrível arremedo de julgamento, se é que este nome
pode merecer, em lugar do linchamento que foi.
É só o que
explica que Lewandowski tenha, num último espasmo de sua dignidade e consciência jurídica tenha
preservado o registro da palavra infâmia.
Afinal, se ele
não poderia ser julgador de tantos que a praticavam, ao menos restava-lhe o
direito de julgar aquilo do qual ele próprio participava.
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