Eis
que Moro confessa suas ilegalidades
Quando
o Tancredo Neves morreu, sem ainda ter assumido a presidência, as mais
suspeitas figuras surgiram com pareceres para dizer não apenas que José Sarney
era o presidente, mas que Dona Risoleta Neves tinha direito a pensão de viúva -
daquele que foi sem nunca ter sido. Na minha vigilância constante de não
confundir o leitor, não quero entrar no mérito do que foi ou não foi o tal
Sarney, nem afrontar a bondosa senhora das Minas Gerais. Quero apenas dizer que
à época corria nos bastidores uma crítica a certo Saulo Ramos: no Brasil tem
parecer jurídico pra tudo. Até pra dizer que Sarney é presidente.
Como
no Brasil tem parecer pra tudo, teve um certo Joaquim Barbosa que desenterrou
uma teoria de guerra para condenar José Dirceu; teve uma certa “Janaína 45
dinheiros”, que em nome de Deus (ou do diabo!)
fez lá um arrazoado que foi acolhido pelo insuspeito Eduardo Cunha, que
depois de chantagear a Presidenta Dilma Rousseff, hoje está no comando da
Nação. Cunha alimenta o velho espectro das eminências pardas, tipo Golbery do
Couto e Silva ou do bruxo Ravengar, personagem do impagável Antônio Abujamra na
telenovela “Que Rei Sou Eu”, produzida pela golpista Organizações Globo.
Escrevo
a propósito de um certo Sérgio Moro, idolatrado por mal informados, falsos
moralistas, coisa e tal. O Moro mesmo odiado pelos legalistas, democratas,
pelos que defendem guerra a um sistema corrupto e não apenas a um ou outro
corrupto eleito pela mídia ou por uma produtora de ódio qualquer. Afinal,
costumo dizer: quando for para combater a corrupção pode me convocar. Não fiz
outra coisa em mais de 30 anos na Polícia Federal - sempre me esquivando as
farsas, claro!.
Volto
ao Sérgio Moro que recentemente defendeu a aceitação da prova ilegal, desde que
obtida de boa Fé. A essa altura, creio, a prova produzida contra Eduardo Cunha
deve ter sido coletada de má fé, pois até agora para nada serviu. Contra
Temer/Serra e seu rancho “meras suspeitas, citações aleatórias”, cuja “verdade
real” tão buscada em pedalinhos e tríplex não se tem notícia. Mas, prenderam o
Eduardo errado (Suplicy) por estar numa manifestação, enquanto Eduardo Cunha
(solto) comanda os títeres do golpe, na maior farsa “legal” da história do
País, na base do “quem compra o mais compra o menos”.
Moro
defende prova ilegal. Tão ilegal quanto prende para confessar. Condução
coercitiva disfarçada de convite irrecusável, divulgar gravações ilegais. Mas,
na linha Sarney, deve ter parecer para isso. O mais surpreendente dessa
história de prova ilegal de boa fé veio de quem ninguém esperaria. Gilmar
Mendes, que nunca escondeu seu ódio ao PT, sua simpatia política por bandidos
de estimação da “grande mídia”, disse para o tal Moro: quer dizer, então, que
se uma confissão for obtida sob “tortura de boa fé, vale”?
O
Episódio Sérgio Moro/Gilmar Mendes, no caso, lembrou o cineasta Augusto Boal,
que numa entrevista a uma emissora do golpe, afirmou ter sido torturado e o próprio
policial federal que o torturou disse que “foi tortura no bom sentido”. Boal
que reconte com mais fidelidade essa história, pois quero voltar à prova
ilegal, recorrendo ao Jurista Lenio Luiz Streck, que ironizou Moro: “A proposta
atira fora o bebê junto com a água suja”.
Diz mais, sob pretexto de combater o crime, pode-se violar garantias e
ilicitude mais boa-fé é igual a licitude. “Funcionaria muito bem em regimes
totalitários” (Streck)
-
Ah, Sérgio Moro! Conta essa pros capitães do mato da Farsa Jato (respeitadas as
exceções). Moro, na defesa de sua tese no Parlamento, soube eu, existir até um
quê de Cesare Lombroso, criminologista italiano (1835-1909) que criou os
condenáveis perfis biológicos de criminosos – perfil lambrosiano. Quem tiver a
orelha/nariz assim assado vai ser bandido. Por que isso? Moro defende também o
“Minory Report”, uma futurologia cinematográfica (2002 - Tom Cruise/Steven
Spielberg) na qual testes psiquiátrico-psicológicos ou divinos provam que no
futuro alguém vai delinquir e deve ser exterminado antes que o faça. Algo
assim, esse vai ser petista, mata!
Pau-de-arara
de boa fé. É difícil ser precário, como eu, e tentar debater complexidades.
Mas, ao defender a prova ilegal, Moro implicitamente confessa que já faz uso
dela.
http://jornalggn.com.br/noticia/eis-que-moro-confessa-suas-ilegalidades-por-armando-coelho-neto
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