sexta-feira, 26 de agosto de 2016

EIS QUE MORO CONFESSA SUAS ILEGALIDADES. Por Armando Coelho Neto

Eis que Moro confessa suas ilegalidades

Quando o Tancredo Neves morreu, sem ainda ter assumido a presidência, as mais suspeitas figuras surgiram com pareceres para dizer não apenas que José Sarney era o presidente, mas que Dona Risoleta Neves tinha direito a pensão de viúva - daquele que foi sem nunca ter sido. Na minha vigilância constante de não confundir o leitor, não quero entrar no mérito do que foi ou não foi o tal Sarney, nem afrontar a bondosa senhora das Minas Gerais. Quero apenas dizer que à época corria nos bastidores uma crítica a certo Saulo Ramos: no Brasil tem parecer jurídico pra tudo. Até pra dizer que Sarney é presidente.

Como no Brasil tem parecer pra tudo, teve um certo Joaquim Barbosa que desenterrou uma teoria de guerra para condenar José Dirceu; teve uma certa “Janaína 45 dinheiros”, que em nome de Deus (ou do diabo!)  fez lá um arrazoado que foi acolhido pelo insuspeito Eduardo Cunha, que depois de chantagear a Presidenta Dilma Rousseff, hoje está no comando da Nação. Cunha alimenta o velho espectro das eminências pardas, tipo Golbery do Couto e Silva ou do bruxo Ravengar, personagem do impagável Antônio Abujamra na telenovela “Que Rei Sou Eu”, produzida pela golpista Organizações Globo.

Escrevo a propósito de um certo Sérgio Moro, idolatrado por mal informados, falsos moralistas, coisa e tal. O Moro mesmo odiado pelos legalistas, democratas, pelos que defendem guerra a um sistema corrupto e não apenas a um ou outro corrupto eleito pela mídia ou por uma produtora de ódio qualquer. Afinal, costumo dizer: quando for para combater a corrupção pode me convocar. Não fiz outra coisa em mais de 30 anos na Polícia Federal - sempre me esquivando as farsas, claro!.

Volto ao Sérgio Moro que recentemente defendeu a aceitação da prova ilegal, desde que obtida de boa Fé. A essa altura, creio, a prova produzida contra Eduardo Cunha deve ter sido coletada de má fé, pois até agora para nada serviu. Contra Temer/Serra e seu rancho “meras suspeitas, citações aleatórias”, cuja “verdade real” tão buscada em pedalinhos e tríplex não se tem notícia. Mas, prenderam o Eduardo errado (Suplicy) por estar numa manifestação, enquanto Eduardo Cunha (solto) comanda os títeres do golpe, na maior farsa “legal” da história do País, na base do “quem compra o mais compra o menos”.

Moro defende prova ilegal. Tão ilegal quanto prende para confessar. Condução coercitiva disfarçada de convite irrecusável, divulgar gravações ilegais. Mas, na linha Sarney, deve ter parecer para isso. O mais surpreendente dessa história de prova ilegal de boa fé veio de quem ninguém esperaria. Gilmar Mendes, que nunca escondeu seu ódio ao PT, sua simpatia política por bandidos de estimação da “grande mídia”, disse para o tal Moro: quer dizer, então, que se uma confissão for obtida sob “tortura de boa fé, vale”?

O Episódio Sérgio Moro/Gilmar Mendes, no caso, lembrou o cineasta Augusto Boal, que numa entrevista a uma emissora do golpe, afirmou ter sido torturado e o próprio policial federal que o torturou disse que “foi tortura no bom sentido”. Boal que reconte com mais fidelidade essa história, pois quero voltar à prova ilegal, recorrendo ao Jurista Lenio Luiz Streck, que ironizou Moro: “A proposta atira fora o bebê junto com a água suja”.  Diz mais, sob pretexto de combater o crime, pode-se violar garantias e ilicitude mais boa-fé é igual a licitude. “Funcionaria muito bem em regimes totalitários” (Streck)

- Ah, Sérgio Moro! Conta essa pros capitães do mato da Farsa Jato (respeitadas as exceções). Moro, na defesa de sua tese no Parlamento, soube eu, existir até um quê de Cesare Lombroso, criminologista italiano (1835-1909) que criou os condenáveis perfis biológicos de criminosos – perfil lambrosiano. Quem tiver a orelha/nariz assim assado vai ser bandido. Por que isso? Moro defende também o “Minory Report”, uma futurologia cinematográfica (2002 - Tom Cruise/Steven Spielberg) na qual testes psiquiátrico-psicológicos ou divinos provam que no futuro alguém vai delinquir e deve ser exterminado antes que o faça. Algo assim, esse vai ser petista, mata!

Pau-de-arara de boa fé. É difícil ser precário, como eu, e tentar debater complexidades. Mas, ao defender a prova ilegal, Moro implicitamente confessa que já faz uso dela.

http://jornalggn.com.br/noticia/eis-que-moro-confessa-suas-ilegalidades-por-armando-coelho-neto







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