São
muito sombrias as perspectivas para o Brasil como consequência dos atos
irresponsáveis do governo interino que, usando o dinheiro público para se
manter, agrava a situação econômica do país. Abrindo os cofres públicos para
conceder aumentos de salários a torto e a direito, pretendendo agradar os que
podem contribuir para assegurar a sua permanência no Planalto, o presidente
interino Michel Temer contrariou o seu discurso de contenção de gastos, que
usou para justificar a extinção de alguns ministérios, e promove a gastança sem
a mínima preocupação com os seus efeitos deletérios na economia do país. E
muito menos com o efeito cascata nos Estados e Municípios, onde governadores e
prefeitos terão de fazer verdadeiras acrobacias para acompanhar os aumentos. No
seu pacote de "bondades" Temer concedeu aumentos de salários para os
parlamentares, funcionários do Congresso, Judiciário, Ministério Público,
Policia Federal e Forças Armadas.
Não
há dúvida de que todos merecem e precisam de aumento em seus salários, no
entanto neste momento de crise, em que o próprio governo anuncia rombos
gigantescos, tais reajustes não passam de irresponsável jogada política
destinada a influenciar o julgamento do impeachment da presidenta Dilma Roussef
no Senado. Além disso, Temer inicia uma nova onda de privatizações que, se ele
for mantido na Presidência, pode culminar com a venda da Petrobrás e a reserva
petrolífera do pré-sal, bem como a entrega da base espacial de Alcântara para
os Estados Unidos.
Ao
mesmo tempo, ele destrói programas importantes, como o Pronatec, Ciência sem
Fronteiras, reduz o FIES e promove uma verdadeira caça às bruxas, demitindo até
o velho garçon do Palácio do Planalto. Em apenas dois meses como presidente
interino Temer já produziu um estrago no país que demandará muito tempo para
ser reparado. E ficará muito pior se o Senado aprovar o impeachment.
Para
completar o estrago ele também vem agindo, a nível internacional, para
enfraquecer os organismos sul-americanos, como o Mercosul, de importância vital
para a união e economia dos países do Continente. A dupla Temer-Serra vem
sabotando as relações entre as nações sul-americanas e destruindo conquistas
duramente conseguidas pela diplomacia continental, em especial pelos diplomatas
brasileiros. Não é difícil identificar a quem interessa o enfraquecimento do
Mercosul, agora sob a presidência da Venezuela. José Serra que, pelo seu
comportamento entreguista, tem se revelado um verdadeiro agente dos interesses
norte-americanos em nosso Continente, certamente só será contido em sua
obsessão pelo Tio Sam se o Senado decidir pela volta de Dilma ao Planalto.
Serra, então, deverá ser escorraçado do Itamarati.
O
fato é que, apesar do esforço da Globo em criar uma imagem positiva de Temer
com notícias falsas do tipo "melhorou a economia" – mentira que
parece ter sensibilizado o inexperiente senador Roberto Rocha, do PSB do
Maranhão – a situação do país piora a olhos vistos, até porque estamos vivendo
uma democracia de fachada, onde ninguém mais tem garantias, tudo com o aval da
mídia. Tem-se a impressão de que o Brasil, embora muita gente talvez ainda não
tenha se dado conta, já vive sob uma ditadura disfarçada do Judiciário, onde a
presunção de inocência desapareceu e se prende as pessoas por qualquer motivo,
quando não são conduzidas coercitivamente para depor mesmo sem nenhuma recusa
anterior. Não precisa a prática de nenhum crime, bastando que seja citado,
mesmo sem provas, por algum delator louco para sair da prisão ou que algum juiz
entenda ter havido alguma má intenção. E a prisão provisória vira permanente
até que o preso, para obter a liberdade, decida fazer uma delação seguindo o
roteiro que lhe for dado pelos carcereiros, de preferência que acuse Lula de
alguma coisa.
Quando
o juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasilia, aceitou a
denúncia contra o ex-presidente operário por suposta tentativa de obstruir a
Lava-Jato – que depois de tantas investigações foi a melhor acusação que
conseguiram arranjar contra ele – a mídia divulgou em manchete, em tom de
comemoração, que Lula agora era réu. Ricardo Leite é o mesmo juiz que ano
passado foi afastado da Operação Zelotes, após ter negado os pedidos de prisão
temporária de 26 investigados, solicitados pelo Ministério Público Federal, o
que já diz algo sobre o seu comportamento. Além de ter sua conduta criticada
pelo MPF e pela Policia Federal, ele foi alvo de duas representações: uma à
Corregedoria do Tribunal Regional Federal, feita pelo Ministério Público, e
outra ao Conselho Nacional de Justiça, pelo deputado Paulo Pimenta. Antes dele,
o juiz Catta-Preta, também de Brasilia, que participou de manifestações de rua
contra o governo Dilma, já havia anulado a nomeação do líder petista para a
Casa Civil com o mesmo argumento, ambos deixando cristalina a parcialidade das
decisões. Diante disso, como confiar em nossa Justiça? Por isso Lula recorreu à
ONU.
O
ministro aposentado do STF, Carlos Veloso, em declarações ao Jornal Nacional,
da Globo, criticou a petição de Lula ao Comité de Direitos Humanos da ONU, não
vendo sentido na iniciativa porque "as instituições no Brasil estão
funcionando plenamente". É verdade, mas funcionando de maneira torta, sem
nenhuma credibilidade ou confiabilidade, apenas para sugerir ao resto do mundo
uma democracia de faz-de-conta. Por sua vez, o ministro Gilmar Mendes disse:
"No mínimo, eu diria que era uma ação precipitada, mas deve ter uma lógica
no campo político, onde o presidente atua com maestria". E acrescentou que
Lula poderia ter procurado o TRF, o STJ ou o STF para fazer a sua reclamação
contra o juiz Moro, contra quem, segundo ele, as demais pessoas investigadas
não se queixaram até hoje. O ministro tucano parece gostar de brincar com coisa
séria, especialmente quando se trata de Lula ou qualquer petista. É óbvio – e
ele tem consciência disso – que o ex-presidente não recorreu aos tribunais
superiores porque sabe, como de resto todo mundo, que sua reclamação não seria
acatada, já que Moro é hoje a estrela do Judiciário. E os outros não se queixam
porque não sofrem a mesma perseguição.
O
episódio Lula, no entanto, é apenas um exemplo do que está acontecendo no
Brasil hoje, agravado com o golpe que colocou no poder uma horda que, com o
apoio explícito da mesma imprensa que endossa todos os golpes, está destruindo
o país. Se o Senado confirmar o afastamento de Dilma e manter Temer no
Planalto, com a aprovação silenciosa do Supremo, então serão ambos cúmplices de
todos os males praticados pelos novos governantes, de consequências
imprevisíveis para o país e seu povo. Com um Supremo leniente, um Congresso
acocorado, um executivo aloprado e uma mídia facciosa só restará ao brasileiro
pedir a Deus que proteja o Brasil. Afinal, estamos em agosto, um mês marcado
pelos mais trágicos acontecimentos na História do nosso país.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/247285/Brasil-j%C3%A1-vive-sob-ditadura-disfar%C3%A7ada.htm
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