Eu
já desconfiava que esse clima instaurado no Brasil de dois anos para cá, em que
delações são suficientes para condenar, em que falsas acusações passam por
verdadeiras, em que a temporada de caça às bruxas foi aberta cheirava não a
Operação Mãos Limpas, mas a macartismo, aquele episódio inglório da democracia
americana no qual um senador chamado Joseph McCarthy de repente arrogou-se os
poderes de arruinar pessoas, principalmente artistas de Hollywood, mais ou
menos os mesmos poderes de que hoje desfruta o juiz Sergio Moro.
Mas
agora que ele soltou o marqueteiro João Santana sob a condição de que não
poderia mais trabalhar em campanhas políticas, e não por um prazo determinado,
mas, ao que parece, para todo o sempre, tive certeza: McCarthy reencarnou aqui
entre nós.
Moro
sabe melhor do que eu que um dos incisos (ou alíneas ou parágrafos, seja lá
qual for o nome) do artigo 5º. da constituição brasileira garante o livre
exercício da profissão para todos e, no entanto, investido de estranhos e
podres poderes ele não vacila em violar a nossa carta magna, dando a entender
que, dado o respaldo que tem na opinião pública ele constitui um poder próprio.
Temos agora o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e Sérgio
Moro.
É
interessante notar que, tal como acontece hoje entre nós, durante os sete anos
do período macartista, de 1950 a 1957 nem a constituição nem a democracia foram
revogadas, o que não impediu que importantes artistas tivessem que adotar
pseudônimos para poderem trabalhar, prisões injustificadas fossem feitas,
milhares de pessoas fossem processadas e suas vidas jogadas no lixo devido à
"prática de fazer alegações injustas ou utilizar técnicas investigativas
injustas, especialmente para restringir o dissenso ou a crítica política",
como o macartismo é definido em qualquer wikipédia.
Também
vale a pena lembrar que na ditadura de 64 nenhum preso político, depois de
solto, foi proibido de trabalhar.
Ao
condenar João Santana ao ócio, Moro deu, além de tudo, uma tremenda bandeira.
Deixou explícito qual foi o objetivo da prisão do marqueteiro: evitar que
ajudasse Fernando Haddad, com seu talento, a ganhar a reeleição em São Paulo em
2016 e Lula a voltar à presidência da República em 2018.
O
impeachment de Dilma também se insere nesse contexto macartista, já que não há
dúvida que os escândalos potencializados pelo McCarthy de Curitiba forjaram o
combustível para os protestos das ruas e encorajaram deputados de mãos
emporcalhadas a apontar o dedo contra uma presidente honesta.
O
processo continua, apesar de todas as evidências de que os crimes de que os
senadores a acusam não foram crimes e que se trata mais de uma farsa jurídica e
política do que de um julgamento de verdade, como já sabem os que têm olhos
para ver e ouvidos para ouvir.
Foi
o que vimos ontem, quando o senador Anastasia leu, com a rapidez providencial,
para que não se percebesse o conteúdo vazio e com a expressão nervosa e
suarenta de quem não acreditava numa só linha do que algum pseudo jurista
escreveu para ele, o parecer de 400 páginas que não passa de um pastel de
vento, mas que servirá para os senadores de mãos sujas ratificarem a infâmia.
O
termo macartismo, diz a wikipédia, "é utilizado para descrever acusações
imprudentes e pouco fundamentadas, assim como ataques demagógicos ao caráter ou
ao senso de patriotismo de adversários políticos. Durante o macartismo,
milhares de americanos foram acusados de ser comunistas ou simpatizantes e
tornaram-se objetos de agressivas investigações e de inquéritos abertos pelo
governo ou por indústrias privadas. As suspeitas eram frequentemente dadas como
certas mesmo se fossem baseadas em evidências inconclusivas e questionáveis e
se o nível de ameaça representado pela real ou suposta afiliação do indivíduo a
ideias ou associações de esquerda fosse exagerado".
Mas,
atenção, "a maioria das punições foram baseadas em julgamentos que mais
tarde foram anulados, leis que foram declaradas inconstitucionais, demissões
por justa causa que foram declaradas ilegais ou contestáveis e procedimentos
extrajudiciais que entrariam em descrédito geral".
E
mais: "a caça às bruxas perdurou até que a própria opinião pública
americana ficasse indignada com as flagrantes violações dos direitos
individuais, graças em grande parte à atuação corajosa do famoso e
respeitadíssimo jornalista Edward R. Murrow, da rede americana de televisão
CBS, o que levou McCarthy ao ostracismo e à precoce decadência. Ele morreu em
1957, já totalmente desacreditado e considerado uma figura infame e uma
vergonha para os americanos".
http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/247400/Moro-o-McCarthy-de-Curitiba-violou-a-constitui%C3%A7%C3%A3o.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário