Vira
e mexe essas perguntas vêm à tona em discussões entre amigos: qual o problema
com o pessoal da Classe Média, por que são tão burros e insistem em apoiar políticos
que só querem tomar o poder para beneficiar meia dúzia de amigos bem nascidos,
seus familiares inescrupulosos e aqueles que os financiam?
Um
parêntese: esse tipo de político, que disfarça cinicamente suas verdadeiras
intenções mesquinhas com um discurso moralista e conservador, está melhor
representado hoje no Brasil em partidos como o PSDB e o DEMo (ex-PFL).
Mas
isso pode mudar amanhã se os podres de ricos acharem que essas pessoas não os
estão mais representando adequadamente...
Para
mim, a resposta é óbvia: a turma da Classe Média não tem "consciência de
classe". E você não precisa ler as obras do Marx para entender o que isso
quer dizer. É fácil.
Converse
com uma pessoa pobre, à beira da miséria. Ela sabe que é pobre, não tem ilusões
sobre a sua condição social. Pode ser que não faça nada para mudar isso e passe
seu tempo dentro de uma igreja, onde é invariavalmente ensinada a se conformar
com sua situação com frases do tipo "a pobreza é sua cruz e vai te
garantir um lugar nos céus", ou vendo as alienantes novelas da Globo.
Porém, mesmo que não se de conta disso racionalmente, essa pessoa tem
consciência de classe.
A
mesma coisa vale para os podres de rico. E aqui estou falando dos Antônio
Ermírios, dos Daniel Dantas da vida, sujeitos que tem mansões (no Brasil e no
exterior), fazendas, iates, helicópteros, aviões, carros, importados, ilhas,
etc, etc - ou seja, um tipo de gente que pobres mortais como eu e você só vemos
no cinema ou na capa da revista Exame. Esses caras têm consciência de classe, podem
ter certeza!
É
só ver como adoram ver os outros (pobres e remediados) seguindo as Leis e os
códigos morais que seus lacaios inventam e disseminam para controlá-los, ao
mesmo tempo que infringem todos eles... Por que vocês acham que eles têm
verdadeiros batalhões de advogados a servi-los 24 horas?
E
é no meio disso que se encontra a Classe Média, que no Brasil se subdivide em
três tipos:
1)
Classe Média Alta - sabe aquele tipinho que trabalha como escravo num alto
cargo de multinacional para manter uma casa de dois andares num condomínio
fechado, três carros de luxo na garagem, um apê no Guaruja, paga alta mesada
para aos filhos e centenas de plásticas à esposa perua (para não encherem o seu
saco enquanto se esbalda com amantes e prostitutas de luxo) - e ainda assim se
acha membro da "raça superior" só porque, um dia na festa de fim de
ano, o dono da empresa deu um tapinha nas costas dele? Pois é, esse é o
preferido dos podres de rico, o mais fácil de ser comprado e manipulado...
2)
Classe Média Média - tem um nível de vida razoável, algum conforto, um apêzinho
de três quartos na periferia, carrinho popular zero (com prestações a perder de
vista), educa os filhos em colégios elitizados e vive no limite do cheque
especial para manter isso. É o tipo que trabalha hoje para pagar as contas
amanhã. Esse eu conheço bem, pois fui criado como um deles pelo menos até os
meus 18 anos (saiba como consegui obter, às duras penas, minha
"consciência de classe" lendo meus relatos "Eu Também Já Fui Papagaio
da Direita" e "Como Comecei a Ver e Sentir a Matrix"). São
aqueles que vivem com medo de perder tudo, sempre no limite do estresse e
manipulados pelo terrorismo midiático, ao mesmo tempo que morrem de raiva de
quem é igual a eles, porém está do "outro lado" do muro, à esquerda,
lutando por um mundo melhor.
3)
Classe Média Baixa - resumidamente, são aqueles que trabalham hoje para pagar
as contas de ontem, mas mesmo assim ainda são capazes de morar numa casinha
bonitinha, ter um carrinho mais ou menos novo e dar um mínimo de conforto e
educação aos filhos (de preferência em escolas estaduais gratuitas). Não são
tão raivosos quanto o acima citado, porém num misto de conformismo, alienação e
vontade de subir na vida, são capazes de tudo para agradar os "de
cima". Esses, infelizmente, são os melhores tipos para serem usados como
jagunços dos poderosos, como se fossem os capitães do mato pós-modernos (para
quem não sabe, capitão do mato era um escravo recém libertado que acabava sendo
contratado pelo ex-dono para perseguir escravos fugitivos).
Então,
entre os pobres que mal conseguem se manter vivos e os podres de ricos que
acham divertido pagar R$ 7.000 num sapato na Daslu, estão os pobres coitados da
Classe Média.
Espremidos
entre a miséria total e a riqueza absoluta, vivem sonhando que um dia vão
"chegar lá" no topo da pirâmide e virar um "chapa" do
Antônio Ermírio.
E
para isso, deliram: basta trabalharem bastante, serem bonzinhos, não
questionarem as regras e, acima de tudo, defenderem os interesses daqueles
chiques e famosos - afinal de contas, são seus próprios interesses já que um
dia eles mesmos poderão também estar lá em cima comprando suas ilhas
particulares, não é mesmo?
Essa
foi, na minha opinião singela, a grande "sacada" dos podres de ricos:
inventar a Classe Média dando um pouco mais de migalhas a uma parcela dos
trabalhadores, para depois convencê-los por meio de seus aparatos midiáticos
(cinema, televisão, jornais, revistas, etc, de que eles estão mesmo bem mais
próximos do topo da pirâmide do que da base e que para chegar lá em cima não é
difícil, basta ter esforço e dedicação...
É
aquela velha piada do cara sentando em cima do trabalhador com uma cenoura na
ponta de uma vara de pescar - o de baixo vai sair correndo para tentar pegar a
cenoura, enquanto carrega o outro nas costas sem nunca conseguir alcançar seu
"prêmio".
Se
a turma da Classe Média tivesse a mínima consciência de classe, estaria sempre
ao lado dos pobres e miseráveis lutando por melhor distribuição de renda,
respeito aos direitos humanos e por Justiça social. E não faria isso por altruísmo
ou caridade, mas sim por necessidade, para garantir sua própria sobrevivência e
um futuro melhor para seus filhos.
O
motivo para isso é óbvio, não? Quanto menos pobreza e injustiças existirem no
mundo e quanto menor for o abismo que separa as classes sociais, menos chance
de perder tudo e viver na miséria as pessoas vão ter. Assim, ao invés de
ficarem agarrados desesperadamente ao pouco que tem - tornando-se presa fácil
do discurso cínico dos "conservadores" - a Classe Média poderia viver
em paz, sem medo do amanhã e sem ódio dos que ousam ter consciência de classe e
lutam por um mundo melhor para todos.
André Lux
no blog TUDO EM CIMA
http://tudo-em-cima.blogspot.com.br/2008/12/pergunta-que-no-quer-calar-por-que.html?m=1
Um comentário:
Bom texto, mostra com boa clareza a classe média que se julga rica...defende os ricos, vota neles...
A classe média trabalha contra ela mesma!
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